Duas palavras sobressaíram no vocabulário da política portuguesa recente. Uma refere-se à banca e outra aos atos de vandalismo ligados à atividade antirracista.

A estupefação do Presidente da República pelas necessidades suplementares de capital por parte do Novo Banco é para consumo interno, talvez para agradar ao cidadão comum pouco informado, pois todos aqueles minimamente letrados conhecem as condições de venda da instituição. Sobre o mesmo assunto, Costa, o PM, foi cínico, pois sabia que aquele pagamento era a execução de um contrato, e Centeno, o ex-ministro, foi sério pois sabia que era preciso pagar.

Diferente é quando analisamos o tema à luz dos tempos atuais e concluímos que a resolução foi um desastre e a venda outro desastre, e com facilidade se poderia antecipar que o comprador, o Lone Star, iria “chupar” tudo até ao tutano.

Ora, num país onde se regula por tudo e por nada, vêm à lembrança os sistemas de países mais desenvolvidos neste aspeto, como é o caso de França, onde existe a dupla conferência de contas e que poderia resolver estes estados de alma. Naquele país o supervisor quer, por norma, mais provisões, ambicionado uma melhor prática de gestão, e a inspeção fiscal analisa as provisões uma a uma, anulando algumas e obtendo mais matéria coletável para tributar.

A segunda palavra da semana é “imbecilidade” e é igualmente do PR. O tema foi o vandalismo exercido sobre a estátua do Padre António Vieira (e do cónego Eduardo Melo), supostamente praticado por alguém a coberto de uma tendência para anular símbolos ligados à temática do esclavagismo. Disse Marcelo, e muito bem, que só um ignorante e imbecil é que chega a uma conclusão destas e pratica aquele tipo de ato.

Mas o tema é muito relevante. Existe um problema de integração de comunidades minoritárias nos EUA e na Europa, com destaque para a crescente aversão das populações autóctones aos migrantes. Ligado a este tema está o problema macro: as dificuldades económicas dos países. Já passámos por períodos de forte expansão da economia, onde o tema das migrações era irrelevante e, mais, até eram bem-vindos perante a falta de mão de obra ou decréscimo rápido da população.

O problema está nos tempos em que países ou regiões sofrem com desemprego, salários baixos e ausência de perspetivas, ao mesmo tempo que os fluxos migratórios em direção à Europa e EUA aumentam. Os movimentos nos EUA estão a espalhar-se e Portugal tem uma história económica ligada ao comércio de escravos. Não a vamos apagar, nem iremos fazer a sua apologia. Vamos antes contextualizá-la.

Aliás, o que fazemos hoje poderá estar errado e ser condenado dentro de 50 anos se não for devidamente contextualizado. Atacar estátuas, vandalizar monumentos, reescrever a história é algo que rejeitamos. A história merece ser estudada e criticada, mas é a nossa pegada. Não é para apagar, nem é a versão de grupos organizados de minorias com acesso às redes sociais.

O cidadão acrítico e iletrado é o primeiro alvo da nova história porque não tem conhecimentos nem capacidade de contextualizar. A divulgação de informação de fácil entendimento, curta e de consumo imediato, está na ordem do dia e é perigosa porque manipula os cidadãos num sentido de via única.