A eleição mais antecipada das últimas décadas pode, curiosamente, não ficar decidida no dia definido para a votação. A corrida presidencial norte-americana, pela peculiaridade do método do colégio eleitoral, pode cair para qualquer um dos lados e, como aconteceu já em 2000, tem potencial para levar a resultados tão próximos do empate em estados decisivos que cada um dos candidatos tem já preparado um batalhão de advogados para contestar ou defender os votos necessários à vitória final.
Depois de George W. Bush ter vencido a eleição no Supremo Tribunal, ambos os partidos passaram a incluir na equipa de campanha uma forte componente jurídica capaz de argumentar a seu favor na eventualidade de corridas demasiado apertadas para atribuir um vencedor.
Este ano, e dadas as restrições causadas pela pandemia, é expetável que a grande maioria dos processos que darão entrada relativamente à eleição se prendam com as alterações ao modo de submissão do voto. Recorde-se que a vasta maioria dos estados relaxou as condições mediante as quais um eleitor poderá exercer o seu voto à distância, algo que os republicanos e, em particular, o presidente Trump têm tentado bloquear e descredibilizar.
Por exemplo, no estado apontado por muitos como o mais crítico e importante da eleição, a Pensilvânia, o presidente alertou já que “mal fechem as urnas iremos avançar com a nossa equipa de advogados”.
A intenção do presidente é impedir a contagem de quaisquer votos que cheguem depois de terça-feira. No estado em questão, o tribunal máximo estatal decretou que os votos pudessem ser recebidos até sexta-feira, uma decisão que o Supremo Tribunal manteve, mas que Trump apelidou de “horrível”.
De resto, a eleição foi um dos motivos invocados pelo presidente para acelerar a nomeação de Amy Coney Barrett para o Supremo. Como disse Trump, “a eleição vai acabar no Supremo e acho importante termos os nove juízes que habitualmente o compõem”.
A Associated Press reporta mais de 300 processos relativamente à eleição presidencial já em curso nos tribunais de mais de uma dúzia de estados, incluindo nas corridas fulcrais do Michigan, Carolina do Norte, Minnesota ou Wisconsin. E isto apenas antes do dia da votação. Assim, a eleição da década corre o risco de se tornar no processo da década e arrastar-se bem para lá de dia 3 de novembro.
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