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EUA: Dificuldades na contratação podem condicionar crescimento de médio prazo e taxas de juro, avisa ING

Os generosos benefícios federais face à situação de desemprego poderão estar a atrasar o retorno de parte da força laboral norte-americana ao mercado de trabalho e, no médio prazo, levar a um aumento da inflação que terá de obrigar a ‘Fed’ a rever a sua posição relativamente às taxas de juro.
27 Maio 2021, 08h15

Apesar dos indicadores macroeconómicos favoráveis, a recuperação da economia norte-americana pode sofrer no médio prazo com as dificuldades atuais na contratação, avisa o banco holandês ING. A análise da instituição financeira explica ainda como tal poderá influenciar a inflação no país e obrigar a Reserva Federal a rever as suas previsões relativamente às taxas de juro.

O departamento de análise económica e financeira do banco antecipa para o final deste ano um retorno ao nível de produto verificado antes da chegada da Covid-19, mas o cenário relativamente ao emprego afigura-se bastante diferente, com menos oito milhões de americanos a comporem a força laboral do que antes da pandemia.

Mesmo assim, vários inquéritos empresariais apontam para dificuldades na contratação nos EUA, um aspeto pouco expectável numa situação de descida abrupta do emprego como a que se verificou a partir de março de 2020. É precisamente esta dificuldade que pode colocar em causa a trajetória de médio e longo prazo da retoma económica americana.

Para o banco ING, explica o economista chefe internacional James Knightley, este fenómeno deve-se sobretudo a quatro fatores.

Em primeiro lugar, a prevalência do ensino à distância força uma percentagem significativa da população a permanecer em casa a cuidar dos seus filhos, impedindo estes trabalhadores de procurarem novos emprego e assim mantendo-os fora da força laboral.

Adicionalmente, e apesar da evolução pandémica positiva nos EUA, a Covid-19 permanece em transmissão comunitária por todo o território, o que contribui para que certas franjas da população, particularmente aqueles com problemas de saúde que os tornam mais propícios a desenvolver uma infeção grave, continuem a adiar o seu regresso ao mercado de trabalho.

Outro fator a ter em conta prende-se com a possibilidade de uma parte dos trabalhadores que perderam o seu posto durante a pandemia ter simplesmente optado por se reformar, não planeando um regresso à força laboral.

Finalmente, o motor mais controverso deste fenómeno está relacionado com os benefícios sociais aprovados pelo Congresso em março, que incluíram cheques diretos passados à larga maioria da população, bem como um complemento federal ao subsídio de desemprego que soma 300 dólares (245,91 euros) semanais à quantia paga por cada estado.

Estes benefícios voltarão ao valor normal em setembro para a maioria dos estados (apesar de alguns terem já sinalizado que terminarão mais cedo estes programas de apoio), o que deverá levar a um aumento do emprego nos meses seguintes. No entanto, destaca James Knightley, isso significa que haverá uma pequena janela temporal de três ou quatro meses em que a “reduzida oferta de trabalho poderá ser um verdadeiro constrangimento ao crescimento”.

Por outro lado, isto deverá traduzir-se igualmente num aumento dos salários, com as empresas a competirem entre si para atrair os escassos recursos humanos de que tanto necessitarão. O subsequente aumento de custos decorrente deste efeito deverá traduzir-se num aumento de preços, já que o custo será transferido para os clientes finais.

Assim, a dificuldade na contratação poderá levar, no médio prazo, a uma subida dos preços acima do objetivo de 2% definido pela Reserva Federal, traduzindo-se num aumento da inflação menos transitório do que defende o supervisor financeiro dos EUA. Caso este cenário se confirme, a expectativa de subida das taxas de juro apenas em 2024 terá de ser revista pela ‘Fed’, avisa o ING.

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