O setor industrial norte-americano continua em queda, mas os sinais no final de 2024 foram contidamente otimistas, com a produção industrial e as novas encomendas a regressarem ao crescimento. Ainda assim, o emprego sofre com a incerteza criada pela nova administração de Trump, sobretudo devido à possibilidade de tarifas, enquanto as encomendas para exportação mostram uma relutância do resto do mundo em comprometer-se com projetos nos EUA.
O índice de gestor de compras (PMI) da indústria nos EUA ficou em 49,4 pontos em dezembro, ou seja, próximo do ponto de inflexão do indicador, os 50 pontos. Julgando pela estimativa inicial dos dados de novembro, que apontava para 48,3, esta seria uma subida relevante; no entanto, os dados do mês anterior foram revistos em alta para 49,7, tornando a leitura de dezembro uma descida.
De qualquer das formas, é um regresso importante do setor secundário a valores próximos da expansão da atividade, isto numa altura em que o PMI industrial está abaixo de 50 pontos há meio ano, ou seja, durante todo o segundo semestre.
No detalhe, o subindicador referente à produção industrial registou a primeira leitura acima de 50 pontos desde maio, saltando de 46,8 para 50,3, enquanto o relativo às novas encomendas ficou em zona de crescimento pelo segundo mês consecutivo, com 52,5. Ainda assim, o banco ING destaca que “a acumulação de encomendas continua a cair” apesar da subida nas encomendas, “enquanto a componente do emprego abrandou para 45,3, de 48,1, pelo que aparenta haver alguma precaução quanto a este ser mesmo um momento de viragem num setor em dificuldades há dois anos.”
Apesar das dificuldades no setor secundário, a própria ISM, a responsável por este indicador, sublinha que, historicamente, leituras acima de 42,5 na componente industrial traduzem-se em crescimento da economia. Esta é uma situação que se verificou no último ano, com a fraqueza industrial mais do que compensada pela força demonstrada pelo setor dos serviços.
Ao mesmo tempo, este cenário coincide com as projeções da Reserva Federal de uma economia norte-americana forte no próximo ano, o que também resultou num ajuste da taxa terminal de referência em alta. Os responsáveis do banco central perspetivam agora apenas duas descidas de juros no próximo ano, enquanto o mercado se divide entre uma ou duas descidas, ilustrando bem a expectativa de uma economia ainda bastante aquecida.
A componente exportadora registou uma leitura de precisamente 50 pontos, ou seja, sem variações em relação ao mês anterior, isto numa altura em que a incerteza em torno da política comercial norte-americana em 2025 é considerável.
As tarifas “tornarão os produtos feitos nos EUA mais competitivos internamente”, sublinha o ING, mas “serão disruptivas para quem usar uma cadeia de valor internacional e os exportadores industriais temerão possíveis represálias”, o que agravaria ainda mais a sua situação.
Por outro lado, o subindicador referente às importações acelerou de 47,6 para 49,7, o que ainda corresponde a terreno de contração, mas próximo da inflexão. Perante a possibilidade de custos acrescidos de importação, muitos empresários e gestores estarão a antecipar encomendas, algo refletido nesta leitura.
“Como tal, a atividade industrial norte-americana está em linha para permanecer deprimida pelo menos até haver mais clareza quanto ao ambiente comercial que enfrentam”, remata o ING.
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