A suspensão por 90 dias da introdução das tarifas recíprocas anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não faz regressar tudo à ‘estaca zero’. Não no caso da China, evidentemente – que terá de se haver com uma taxa de 125% – mas não também nas tarifas generalizadas de 10% e naquelas que impendem sobre o aço, alumínio e automóveis.
De qualquer modo, as reações positivas não se fizeram esperar, nomeadamente nos mercados mobiliários, que esta manhã estavam a crescer, alguns deles em percentagens muito próximas dos 10%, seguindo o ritmo das aberturas de oriente para ocidente. Todos os analistas antecipam – alavancados nos contratos de futuros e nesta ‘movida’ matinal – que Wall Street terá um dia memorável.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou a decisão, várias horas depois de o seu conterrâneo Friedrich Merz, o próximo chanceler alemão, o ter feito em antecipação. De Paris a Roma, todas as reações são positivas, pelo menos do lado dos analistas: os chefes de Estado e de governo parecem estar a retrair-se em reagir, como se soubessem que a ‘tormenta’ ainda não passou e que é só isso: uma pausa. Para já, só o Japão reagiu: “recebemos o último anúncio dos EUA de forma positiva”, disse o porta-voz do governo japonês, Yoshimasa Hayashi, mas acrescentou: “continuamos a exigir veementemente que os Estados Unidos revejam as suas medidas sobre tarifas recíprocas, tarifas sobre aço e alumínio e tarifas sobre veículos e componentes”.
Resta ainda uma questão: a decisão de Trump é uma jogada de mestre – eventualmente para isolar a China como o ‘diabo’ – ou uma derrota face a uma vontade que os mercados e o resto do mundo trataram de inviabilizar? Nos Estados Unidos, a resposta a esta questão depende dos pontos de vista. A imprensa que costuma cortejar Trump continua a saudá-lo como uma espécie de príncipe das negociações; do outro lado, o presidente é tratado como um derrotado, a quem a realidade ‘rebentou’ nas suas próprias mãos. “Muitas cicatrizes permanecerão nos Estados Unidos”, diz um analista citado pela agência Reuters, que não é conhecida por alinhar normalmente com Trump.
Para todos os efeitos, Trump fez a sua própria administração passar uma enorme vergonha. “A autoproclamada habilidade de negociação de Trump sofre um revés notório”, refere o mesmo analista, para lembrar que os principais elementos da administração passaram a semana a batalhar contra a realidade tentando encontrar uma explicação plausível para as tarifas, para finalmente deixarem de saber o que dizer quando elas foram suspensas. Os casos mais ‘dramáticos’ foram os do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que argumentava no Congresso que o governo estava a colocar “a main street à frente de Wall Street” antes de perceber, tarde demais, que as tarifas tinham sido suspensas; e o do secretário do Comércio, Howard Lutnick, que insistiu repetidamente que as tarifas não seriam adiadas.
Questionado sobre os motivos que o levaram a ‘desistir’ das tarifas (para já), Trump disse que “achei que as pessoas estavam a descontrolar-se um pouco. Elas estavam a ficar agitadas, estavam a ficar um pouco agitadas, um pouco assustadas”, disse.
Entretanto, as ações asiáticas seguiram a tendência dos EUA e subiram durante a noite, com o índice de referência do Japão a saltar mais de dois mil pontos quase imediatamente após a abertura da bolsa de Tóquio, com os investidores a saudarem a decisão de Donald Trump. Os analistas esperavam a recuperação regional, dado que as ações norte-americanas tiveram um dos seus melhores dias da história na quarta-feira, numa Wall Street eufórica, onde os investidores tinham grandes esperanças de que Trump reduzisse as tarifas.
Esta quinta-feira, o Nikkei 225, índice de referência do Japão, saltou 8,3% nas negociações da manhã para 34.353,17, subindo assim que as negociações começaram. O S&P/ASX 200 da Austrália subiu 4,7% para 7.722,90. O Kospi da Coreia do Sul ganhou 5,5% para 2.419,37. O Hang Seng de Hong Kong subiu 3,7% para 21.003,84. O Shanghai Composite subiu 1,5% para 3.232,86.
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