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EUA: pausa de 90 dias não deixa tudo na mesma mas é saudada por todos

Mercados mobiliários respondem com fortes subidas em todas as geografias. Ursula von der Leyen saúda decisão, seguindo em linha com todas as declarações. “Achei que as pessoas estavam a ficar agitadas”, disse Trump para explicar a saltitante decisão.
10 Abril 2025, 09h07

A suspensão por 90 dias da introdução das tarifas recíprocas anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não faz regressar tudo à ‘estaca zero’. Não no caso da China, evidentemente – que terá de se haver com uma taxa de 125% – mas não também nas tarifas generalizadas de 10% e naquelas que impendem sobre o aço, alumínio e automóveis.

De qualquer modo, as reações positivas não se fizeram esperar, nomeadamente nos mercados mobiliários, que esta manhã estavam a crescer, alguns deles em percentagens muito próximas dos 10%, seguindo o ritmo das aberturas de oriente para ocidente. Todos os analistas antecipam – alavancados nos contratos de futuros e nesta ‘movida’ matinal – que Wall Street terá um dia memorável.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou a decisão, várias horas depois de o seu conterrâneo Friedrich Merz, o próximo chanceler alemão, o ter feito em antecipação. De Paris a Roma, todas as reações são positivas, pelo menos do lado dos analistas: os chefes de Estado e de governo parecem estar a retrair-se em reagir, como se soubessem que a ‘tormenta’ ainda não passou e que é só isso: uma pausa. Para já, só o Japão reagiu: “recebemos o último anúncio dos EUA de forma positiva”, disse o porta-voz do governo japonês, Yoshimasa Hayashi, mas acrescentou: “continuamos a exigir veementemente que os Estados Unidos revejam as suas medidas sobre tarifas recíprocas, tarifas sobre aço e alumínio e tarifas sobre veículos e componentes”.

Resta ainda uma questão: a decisão de Trump é uma jogada de mestre – eventualmente para isolar a China como o ‘diabo’ – ou uma derrota face a uma vontade que os mercados e o resto do mundo trataram de inviabilizar? Nos Estados Unidos, a resposta a esta questão depende dos pontos de vista. A imprensa que costuma cortejar Trump continua a saudá-lo como uma espécie de príncipe das negociações; do outro lado, o presidente é tratado como um derrotado, a quem a realidade ‘rebentou’ nas suas próprias mãos. “Muitas cicatrizes permanecerão nos Estados Unidos”, diz um analista citado pela agência Reuters, que não é conhecida por alinhar normalmente com Trump.

Para todos os efeitos, Trump fez a sua própria administração passar uma enorme vergonha. “A autoproclamada habilidade de negociação de Trump sofre um revés notório”, refere o mesmo analista, para lembrar que os principais elementos da administração passaram a semana a batalhar contra a realidade tentando encontrar uma explicação plausível para as tarifas, para finalmente deixarem de saber o que dizer quando elas foram suspensas. Os casos mais ‘dramáticos’ foram os do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que argumentava no Congresso que o governo estava a colocar “a main street à frente de Wall Street” antes de perceber, tarde demais, que as tarifas tinham sido suspensas; e o do secretário do Comércio, Howard Lutnick, que insistiu repetidamente que as tarifas não seriam adiadas.

Questionado sobre os motivos que o levaram a ‘desistir’ das tarifas (para já), Trump disse que “achei que as pessoas estavam a descontrolar-se um pouco. Elas estavam a ficar agitadas, estavam a ficar um pouco agitadas, um pouco assustadas”, disse.

Entretanto, as ações asiáticas seguiram a tendência dos EUA e subiram durante a noite, com o índice de referência do Japão a saltar mais de dois mil pontos quase imediatamente após a abertura da bolsa de Tóquio, com os investidores a saudarem a decisão de Donald Trump. Os analistas esperavam a recuperação regional, dado que as ações norte-americanas tiveram um dos seus melhores dias da história na quarta-feira, numa Wall Street eufórica, onde os investidores tinham grandes esperanças de que Trump reduzisse as tarifas.

Esta quinta-feira, o Nikkei 225, índice de referência do Japão, saltou 8,3% nas negociações da manhã para 34.353,17, subindo assim que as negociações começaram. O S&P/ASX 200 da Austrália subiu 4,7% para 7.722,90. O Kospi da Coreia do Sul ganhou 5,5% para 2.419,37. O Hang Seng de Hong Kong subiu 3,7% para 21.003,84. O Shanghai Composite subiu 1,5% para 3.232,86.

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