Centenas de fuzileiros navais chegaram a Los Angeles durante a noite desta terça-feira, 10 de junho – sendo ainda esperados mais nas horas seguintes (serão ao todo, para já, 700) – para, sob o comando do presidente Donald Trump, resolver os protestos que transformaram a cidade num caos desde a passada sexta-feira. Os fuzileiros – que não costumam ser chamados para resolver problemas internos – vêm juntar-se aos cerca de quatro mil soldados da Guarda Nacional que já se encontram na cidade. O governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, já repetiu que está contra a chegada dos fuzileiros – que só irão aumentar a tensão e a indignação pública provocada por uma série de operações contra a imigração lançadas na sexta-feira.
Newsom alega que as manifestações de segunda-feira foram, em grande parte, pacíficas, com os líderes dos manifestantes a exigirem que os protestos decorram de forma a impedir a intervenção da polícia e do exército.
A mayor de Los Angeles, Karen Bass, também uma democrata, disse a uma televisão que mais de 100 pessoas foram presas na segunda-feira, mas que a maioria dos manifestantes não era violenta. No fim de semana, manifestantes atiraram pedras e outros objetos contra policiais e veículos e incendiaram vários carros. A polícia respondeu disparando projéteis como balas de pimenta, granadas e gás lacrimogéneo.
Trump justificou a decisão de enviar militares em ativo para Los Angeles, uma vez que os protestos são uma ocupação violenta da cidade, algo que tanto Newsom como Bass disseram ser uma forma grosseiramente exagerada de ver a questão. Newsom disse que o envio de tropas da Guarda Nacional por Trump só piorou a situação e tornou mais difícil para as autoridades locais controlarem as manifestações. Os fuzileiros não vão, com certeza, ajudar.
O chefe de polícia de Los Angeles, Jim McDonnell, disse que o departamento não foi notificado de que os fuzileiros navais estão a chegar à cidade e que a sua possível chegada “representa um desafio logístico e operacional significativo” para a polícia.
A decisão de Trump de mobilizar 700 fuzileiros navais baseados no sul da Califórnia intensificou o seu confronto com Newsom, que entregou esta segunda-feira uma ação judicial alegando que o envio de tropas da Guarda Nacional por Trump, sem o consentimento do governador, é ilegal.
Segundo a agência Reuters, a convocação da Guarda Nacional sem uma solicitação de um governador em exercício é muito rara e, diz Newsom, devia ter sido evitada. Segundo a mesma fonte, embora os fuzileiros navais tenham apenas a tarefa de proteger temporariamente propriedades federais até que o contingente completo de quatro mil soldados da Guarda Nacional chegue à cidade, o uso de militares ativos para responder a distúrbios civis é extremamente raro.
“Não se trata de segurança pública”, escreveu Newsom nas redes sociais. “Trata-se de alimentar o ego de um presidente perigoso.” O principal representante dos democratas no Comité de Serviços Armados do Senado, o senador Jack Reed, disse estar “seriamente preocupado” com o envio de fuzileiros navais por Trump. “Desde a fundação da nossa nação, o povo americano tem sido perfeitamente claro: não queremos que os militares exerçam a lei em solo americano”, disse.
A secretária da Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, prometeu realizar mais operações para prender suspeitos de violar as leis de imigração. Autoridades do governo Trump classificaram os protestos como ilegais e culparam os democratas estaduais e locais por protegerem imigrantes indocumentados.
Entretanto, centenas de manifestantes reuniram-se junto a um centro de detenção federal no centro de Los Angeles, onde imigrantes estão detidos, gritando “libertem todos” e agitando bandeiras mexicanas e centro-americanas. As forças da Guarda Nacional formaram uma barricada para manter os manifestantes fora do complexo e a polícia dispersou a multidão usando latas de gás, ao mesmo tempo que prendeu alguns manifestantes.
Ao anoitecer, polícias entraram em confronto com manifestantes que se espalharam pela região de Little Tokyo. Um grande contingente de polícias de Los Angeles disparou várias granadas e gás lacrimogéneo.
Como seria de esperar, os protestos espalharam-se ao vizinho condado de Orange na noite de segunda-feira. Também ocorreram protestos em pelo menos outras nove cidades dos Estados Unidos, incluindo Nova Iorque, Filadélfia e São Francisco. Em Austin, no Texas, a polícia disparou munições não letais e deteve várias pessoas num confronto com uma multidão de centenas de manifestantes.
Entretanto, fotos, vídeos e textos falsos espalharam-se nas redes sociais – ao mesmo tempo que velhas teorias conspirativas voltaram a circular. Segundo o jornal ‘The New York Times’, as notícias falsas têm principalmente como intuito alimentar a indignação contra imigrantes e líderes políticos democratas. Uma das principais preocupações das falsidades é a tentativa de apresentar Los Angeles como uma cidade envolta em violência, quando os confrontos se limitaram a apenas uma pequena parte da cidade.
Imagens falsas eram acompanhadas de falsa informação segundo a qual as manifestações estavam planeadas há muito – nada tendo a ver com a imigração – e seriam uma forma de os democratas lançarem suspeições sobre a administração Trump. A ‘balbúrdia’ informativa chegou ao ponto de uma foto de uma palete de tijolos retirada do site de uma empresa que vende materiais de construção na Malásia ter sido usada como prova de que os protestos foram organizados por organizações sem fins lucrativos apoiadas pelo magnata húngaro George Soros, o financiador que, para a direita conspiratória, é um dos mentores da desordem global. “É a Guerra Civil!!”, escrevia uma conta numa rede social, alegando que os tijolos foram colocados perto dos escritórios do Departamento de Imigração e Alfândega para “militantes democratas” atacarem os que tentam cumprir as ordens da administração Trump. A rede social postou uma nota que dizia que a foto não tinha nada a ver com os protestos, mas a notícia falsa foi vista mais de 800 mil vezes e repetidamente replicada.
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