Robert F. Kennedy é candidato independente às presidenciais norte-americanas – e não há tradição nos Estados Unidos de que um candidato norte-americano alguma vez tenha ‘assustado’ os candidatos democratas e republicanos – apesar dos 18,9% de Ross Perot em 1992. Mas um Kennedy é sempre um Kennedy e Robert – filho de Bobby e sobrinho de John, ambos assassinados – pode ser uma surpresa. Principalmente num quadro em que o democrata Joe Biden está a passar por um péssimo momento político, com uma parte do partido a aconselhar a sua desistência.
A dinastia Kennedy, intrinsecamente democrata, tem clara capacidade para chamar a si os votos de muitos membros ou aderentes do partido – e antes que isso se torne um problema, Donald Trump decidiu antecipar-se: sugeriu a Robert F. Kennedy que o independente fizesse um qualquer gesto que o aproximasse dos republicanos, qualquer coisa que sugerisse um endosso a Trump.
Segundo a imprensa norte-americana, a candidatura de Kennedy já confirmou a sugestão de Trump. O republicano também falou com Kennedy sobre Joe Biden e o telefonema chegou mesmo a incluir uma conversa sobre vacinas – é que Kennedy distinguiu-se como um negacionista das vacinas. Depois da divulgação do telefonema, Kennedy pediu desculpa a Trump por o ter gravado – o que não era suposto – e disse-se “mortificado” por ter sido tornado público.
Um dia antes, Kennedy tinha dito na rede social X, sobre um encontro com Trump, que “o nosso principal tópico foi a unidade nacional, e espero reunir com líderes democratas sobre isso também. Não, não vou desistir da corrida”, assegurava.
Os democratas observam Kennedy – que começou a corrida como candidato democrata antes de se declarar independente para não ter de desistir face a Biden – como uma ameaça clara precisamente por ter o nome que tem. E sabem que ele é capaz de retirar votos a Biden, principalmente numa altura em que a candidatura oficial está com graves problemas de afirmação e sem ‘plano B’. É uma ironia do destino: Se o jovem Kennedy, advogado, tivesse mantido a sua candidatura no seio dos democratas, seria com certeza um nome interessante para substituir Biden.
O porta-voz do Comité Nacional Democrata, Matt Corridoni, disse, na rede X, que Kennedy também jantou com o comentador político conservador Tucker Carlson na Convenção Nacional Republicana, que acontece em Milwaukee esta semana. Kennedy “não tem caminho para a vitória nesta corrida e não passa de um spoiler para Trump”, disse a assessora de comunicação do comité, Lis Smith.
Entretanto, e segundo as mesmas fontes, a escolha de Trump para o lugar de vice-presidente, o senador J. D. Vance, está a dividir os republicanos. A elite de empresários ligados ao partido não gostou que a fação mais populista dos republicanos prevalecesse sobre todas as outras tendências internas. Ao contrário, os sectores populistas – que se sentem profusamente representados – sabem que têm o partido nas mãos. A esta refrega interna não é alheio o facto de, tanto Trump como Vance, serem muito pouco próximos das preocupações que parte do partido tem em relação à Ucrânia. E isso pode vir a ser um mau negócio para muitos dos empresários republicanos – é que, convém não esquecer, para quem estiver nos sectores certos, uma guerra é sempre uma altura de acumular grandes fortunas.
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