A economista-chefe do ING e responsável global de investigação do banco neerlandês alertou, esta quarta-feira, que a União Europeia tem de controlar os bloqueios que faz à inovação de outros países sob pena de se prejudicar a médio ou longo prazo.
“Se a Europa for longe demais na criação de obstáculos devido à geopolítica, ignorando o que está a acontecer no resto do mundo, o que acontece é que tentaremos fazer tudo sozinhos num continente que está a envelhecer”, argumentou Marieke Blom, na conferência TBB – The Business Booster 2023, que decorre em Amesterdão.
Partindo do exemplo da investigação que a UE lançou aos subsídios para veículos elétricos made in China, referiu: “Percebo porque é que a indústria automóvel quer ser protegida e claro que não podemos ser dependentes de outros países nas coisas das quais precisamos para viver no dia a dia, como medicamentos, entre outros… Mas carros?”.
“Não estou a dizer que isto é fácil. Se quisermos acabar num determinado local: aceito a dor agora, custa no momento, ou mais tarde?”, questionou-se a especialista sobre o assunto. Confrontada com o facto de não ser uma ideia consensual, retorquiu: “Algumas pessoas têm de falar”.
Numa intervenção que abrangeu também a digitalização e mudanças nos modelos de trabalho e recursos humanos, a economista-chefe do banco neerlandês afirmou que existe aqui tanto uma vertente concorrência injusta como uma de concorrência justa. “As novas tecnologias vão ser mais labour-intensive [requerem mais trabalhadores] do que as outras, porque em períodos de transição costuma ser necessário mais força de trabalho”, comentou ainda Marieke Blom.
Já o diretor de Equity, Growth Capital e Project Finance do Banco Europeu de Investimento (BEI) lançou uma sugestão de perspetiva diferente para com as startups ou os softwares ou hardwares que acabam de ser criados: “Temos de mudar o paradigma de só olhar para as novas tecnologias numa lógica de redução de custos. A redução de custos não é a única vitória da digitalização”.
“Devemos ter consciência de que há tecnologias que não têm vantagem competitiva automática”, esclareceu Alessandro Izzo, no painel intitulado “Estamos prontos para a nova economia verde?”, no qual também participaram Akshat Rathi, réporter sénior da “Bloomberg Green” e Laurent Bataille, presidente da Schneider Electric France e membro do comité executivo da multinacional francesa.
Temos de mudar o paradigma de só olhar para as novas tecnologias numa lógica de redução de custos – BEI
O CEO do Triodos Bank começou por advertir que há, de facto, investimentos que criam um impacto negativo no planeta, portanto “como instituições financeiras, temos de nos chegar à frente e fazer o nosso papel nesta transição para a energia limpa”.
Jeroen Rijpkema admitiu que uma das coisas que lhe “tira o sono” à noite são as metas estabelecidas pelo próprio banco com sede em Zeist em termos de sustentabilidade ambiental. Porquê? “Tenho de falar com todos os meus clientes e explicar-lhes como é que eles vão fazer a transição energética, como os podemos ajudar nesse processo…”, explicou.
Questionado sobre a forma que esses gestores lidam com esse desafio, o CEO do Triodos Bank disse que uns ainda precisam de se convencer da importância das medidas, mas no geral lidam bem e estão comprometidos com a missão. “Sempre fomos lucrativos, portanto, é a prova que também se pode financiar inovação com propósito. Não acontece de um dia para o outro, mas se nos comprometermos vai acontecer ao longo do tempo”, crê Jeroen Rijpkema.
O Triodos Bank – oriundo dos Países Baixos e com filiais na Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido e Espanha – entrou na batalha mundial que define o máximo de aquecimento global nos 1,5°C até 2030 e pretende que os empréstimos e investimentos sejam neutros em carbono até 2035.
*A jornalista viajou aos Países Baixos a convite da EIT Innoenergy
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com