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Europa tem de duplicar investimento em I&D para melhorar competitividade

Europa está a ficar para trás quando comparada com os EUA e a China, em termos de competitividade. “O investimento insuficiente compromete a competitividade, o modo de vida e o lugar da Europa no mundo e, sem competitividade, o investimento não flui”, alerta o McKinsey Global Institute.
22 Julho 2024, 08h15

A Europa tem de acelerar o investimento se pretende melhorar a sua competitividade a nível global. Esta é a mensagem passada pelo McKinsey Global Institute no seu mais recente relatório “Investment: Taking the puls of European competitiveness”.

Indica a McKinsey que o “pulso de investimento da região é baixo”. Ora, esta afirmação torna-se verdade quando se conclui que o investimento dos EUA em propriedade intelectual e equipamentos é o dobro do da Europa, em termos per capita.

“Em 2022, as grandes empresas norte-americanas dedicaram mais cerca de 700 mil milhões de euros a mais a despesas de capital e I&D do que os pares europeus. E os ativos de capital de risco da Europa sob gestão equivalem a um quarto do total dos EUA”, sustenta o relatório.

Lembra o instituto internacional que “o investimento em capital, como infraestrutura e maquinaria, é responsável por 70% a 80% do crescimento da produtividade em todas as regiões”. O restante, a parte mais pequena, surge do investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) e capital humano.

No entanto, “o investimento insuficiente compromete a competitividade, o modo de vida e o lugar da Europa no mundo e, sem competitividade, o investimento não flui”. Dito isto, a McKinsey sustenta que o continente europeu “precisa de enfatizar a eliminação de barreiras conhecidas ao investimento para aumentar o seu ritmo”.

E que barreiras pode a Europa eliminar para aumentar o investimento em I&D? Primeiramente, sugere a McKinsey, os custos de energia, escassez de talento, regulação de empresas e mercado de trabalho e ainda a incerteza geográfica e macroeconómica. Mas vão mais além, destacando ainda a corrida à liderança em Inteligência Artificial (que está a ser ganha pelas gigantes tecnológicas da América do Norte).

“Uma região que não está a investir não pode ser competitiva, e uma região que não é competitiva não conseguirá atrair investimento nacional ou estrangeiro: um círculo vicioso”, lembra o instituto. A McKinsey Global Institute deixa mesmo o aviso “se a Europa dos 30 (27 Estados-membros da UE, Noruega, Suíça e Reino Unido) não aumentar o investimento, coloca em risco a prosperidade, modo de vida e o lugar da Europa no mundo”.

De acordo com os mesmos dados, o investimento líquido nos Estados Unido e Europa “caiu significativamente” após a crise financeira global de 2008, sendo este declínio mais pronunciado na Europa por causa da crise sentida na zona euro, em que existia um “ambiente de austeridade e fraca procura”.

“Na última década, as taxas de investimento líquido europeu em percentagem do PIB foram, em média, 2,8 pontos percentuais ou cerca de 550 mil milhões de euros por ano (nominais) inferiores às da década anterior à crise financeira global”, indica o mesmo relatório, que conta ter como base a formação líquida de capital fixo (subtração da depreciação e redução ao valor recuperável de ativos existentes).

Este relatório da McKinsey deixa contas ainda mais preocupantes: “Nos últimos 25 anos, o capital por trabalhador cresceu 10% em termos reais na Europa Ocidental, 50% na América do Norte e 700% na China”, sendo a Europa Ocidental “a única região cuja produtividade total dos fatores diminuiu no último quarto de século”.

Desta forma, os dados divulgados esta segunda-feira mostram que “a Europa não está a investir na mesma ordem de grandeza que os EUA naquilo que são os tipos de investimentos mais produtivos”, como equipamentos, propriedade intelectual e intangíveis, onde se incluem a I&D e o software, que têm “desempenhado um papel cada vez mais importante nas economias atuais”. Sustenta o estudo que são estes investimentos intangíveis que “geram retornos económicos de 25%”.

“Os Estados Unidos estão a investir dois pontos percentuais do PIB a mais do que a Europa em propriedade intelectual e equipamento. Deixando de lado as diferenças no PIB per capita, trata-se do dobro (4.900 euros por ano) em termos per capita. É notável que a participação da Europa no gasto interno bruto em I&D em relação aos Estados Unidos e à China caiu de 39% em 2010 para 29% em 2021. Além disso, os gastos da Europa tendem a ser direcionados para sectores de midtech em vez dos sectores de alta tecnologia”.

Assim, apesar do território europeu ultrapassar os EUA e a China na produção de artigos científicos e na comunicação social, a “inovação comercial fica aquém”. Isto porque a Europa é responsável apenas por 5% dos pedidos de patente, um valor que compara com os 15% dos EUA e 80% da China.

Mostram os dados deste relatório que as grandes empresas tecnológicas dos EUA desempenham um papel de destaque aquando da diferença entre níveis de investimento. Ora, é que apenas 10 empresas americanos respondem por 19% do investimento total de empresas nos EUA. A título de exemplo, a McKinsey evidencia que os “Sete Magníficos” (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla) dedicaram perto de 360 mil milhões de euros em despesas de capital e I&D só no ano passado. Em terreno europeu, o valor, como dito anteriormente, fica aquém, com a maior parte do investimento a surgir da Volkswagen, Shell, Roche, Deutsche Telekom, BMW e TotalEnergies.

E sugestões para melhorar? “O capital de risco, como venture capital e private equity, podem ser um forte sinal das tendências de investimento, especialmente no que toca à área tecnológica. E novamente, “é aqui que a Europa está mais atrasada”. Segundo os dados recolhidos, “os ativos de venture capital enquanto percentagem do PIB na Europa são cerca de um quarto dos dos Estados Unidos”. Enquanto isso, os ativos sob gestão de private equity são metade do nível dos EUA.

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