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Exclusivo: Farfetch com ‘breakeven’ em 2021 é “cenário perfeitamente realista”, diz José Neves

Em entrevista ao JE, o CEO diz que a empresa ainda não tem ‘guidance’ oficial, mas vê como correta a estimativa dos analistas sobre o ‘breakeven’ ao nível do EBITDA daqui a dois anos. A melhoria da margem no terceiro trimestre mostra o caminho a seguir, diz, mostrando confiança numa subida das ações. Cotação do título dispara 33% na abertura em Wall Street.
José Neves, Farfetch
15 Novembro 2019, 14h49

Disparos nas vendas, prejuízos trimestre após trimestre, aquisições importantes (embora por vezes mal recebidas), ações em subida e depois em queda.  Nos 14 meses desde a entrada na bolsa de Nova Iorque, a vida da Farfetch tem sido uma espécie de montanha russa com alta visibilidade nos mercados e nos media. No meio disso tudo, uma pergunta constante: quando é que a plataforma luso-britânica de venda online de artigos de moda de luxo vai chegar aos lucros?

Em entrevista ao Jornal Económico, o fundador e CEO, José Neves, disse que a empresa ainda não se compromete com uma data oficial sobre o assunto, mas deu uma pista clara sobre o calendário.

“A média dos analistas tem 2021 como o ano em que a Farfetch será rentável [ao nível do EBITDA ajustado] e o que dizemos é que eles estão corretos nessas estimativas”, referiu. “Neste momento é o comentário que fazemos e portanto consideramos perfeitamente realista esse cenário, sendo que não é uma guidance oficial da empresa”.

O CEO diz que os resultados dos terceiro trimestre do ano mostram o caminho a ser seguido. A Farfetch anunciou um prejuízo líquido de 85,5 milhões de dólares no terceiro trimestre, alargando as perdas em 10,6% face a igual período do ano anterior, altura em que o resultado negativo foi de 77,3 milhões de dólares, apesar de quase ter duplicado as receitas.

O EBITDA, resultado após juros, impostos, depreciação e amortização, também ajustado neste caso a custos de compensação via ações, foi negativo, dessa forma, em 35,6 milhões de dólares, mais 10,3% face aos 32,3 milhões do período homólogo.

José Neves salienta, no entanto que em termos do prejuízo, “a métrica que é importante e que os mercados e os investidores seguem é o EBITDA como percentagem das receitas, e isso na realidade isso melhorou substancialmente, portanto estamos a falar de margem negativa de 16% no terceiro trimestre deste ano comparada com margem negativa de 29% no mesmo período do ano passado”.

“Portanto está substancialmente melhorada a posição de profitability da empresa”, salienta. “É evidente que numa empresa que cresceu 90% o volume de negócios e no caso da plataforma digital que exclui a aquisição da New Guards Group [em agosto por 675 milhões de dólares] cresceu 37% ou 40% sem efeitos cambiais, evidentemente a base de custos, à medida que temos mais clientes vamos ter mais pessoas a atender os telefones, mais pessoas a tirar fotografias, mais custos”.

As receitas atingiram os 255,5 milhões de dólares, uma subida de 89,9% em relação aos 134,5 milhões no terceiro trimestre do ano passado. O Gross Merchandise Value (GMV, na sigla em inglês para o volume total processado pela plataforma) aumentou para 310 milhões, uma subida de 58,7%. A Farfetch adiantou que os custos de vendas, gerais e administrativos aumentaram para 195,4 milhões de euros, de 144,2 milhões no terceiro trimestre do ano passado.

“O que importa é o aumento da rentabilidade, e isso é bem claro e está acima das expectativas que nós tínhamos dado aos mercados”, sublinhou José Neves.

Qual é a fórmula para chegar a esse breakeven em 2021? “Há o crescimento do volume de negócios, por um lado. Para pôr isto em perspectiva, existem muito poucas empresas no mundo com o volume de negócios que nós fazemos, estamos a falar de quase 1,8 mil milhões de dólares transacionados na plataforma. Há muito poucas empresas com essa escala global que têm crescimentos na ordem dos 40%, estamos a falar dos crescimentos orgânicos excluindo a aquisição”, explicou o CEO.

“Ao continuarmos esse crescimento, com um crescimento mais lento dos custos fixos, vamos alavancando esse custos fixos. Essa alavancagem, associada a uma melhoria das margens que vem das melhorias na tecnologia, na logística, no online marketing, é isso que faz com que o modelo até na opinião dos analistas seja rentável já num curto espaço de tempo”, sublinhou.

Ações disparam 33% após resultados

No segundo trimestre a empresa tinha registado prejuízos de 89,6 milhões de dólares, mais 409% do que em igual período do ano anterior. O disparo no prejuízo, aliado ao anúncio da aquisição da New Guards Group e da saída do Chief Operating Officer Andrew Robb após nove anos na empresa, não agradaram os investidores. A 9 de agosto, no rescaldo desses anúncios, as ações da Farfetch tombaram 44,49% numa só sessão para 10,13 dólares por ação.

O ‘unicórnio’ português entrou na bolsa em Nova Iorque a 21 de setembro de 2018 a um preço de 20 dólares por ação, tendo visto uma rápida valorização nos primeiros dias que levou a cotação a negociar acima dos 30 dólares. A desconfiança dos investidores em relação ao percurso da empresa em direção aos lucros levou, no entanto, a cotação a cair, tendo fechado nos 7,48 dólares na quinta-feira antes do anúncio dos números do terceiro trimestre.

Questionado sobre o que a empresa diz aos investidores sobre a queda das ações, José Neves salientou que depois da apresentação dos números dos terceiro trimestre, no after-market as ações da Farfetch dispararam 22% e que está confiante sobre mais subidas, recordando ainda que a média dos preços-alvo dos analistas para o título está acima dos 20 dólares.

Esta-sexta feira, na abertura de Wall Street as ações disparam 33% para 9,95 dólares.

“Não faço comentários em relação à valorização das ações. O mercado tem reações por vezes violentas no curto prazo, mas no longo prazo o mercado corrige essas reações e nós estamos muito confiantes no caminho para a rentabilidade da empresa no timing que os analistas estão a traçar para nós, apesar de não termos dado ainda guidance, e estamos a executar da forma como tínhamos dito que íamos executar”, explicou.

“E apesar toda esta reação que houve à aquisição que nós fizemos, que não foi muito bem compreendida, estou muito confiante que nos próximos trimestres, como fizemos neste trimestre, à medida que formos apresentando os resultados dessas sinergias, o resto tratará da situação”, vincou.

A compra da New Guards Group foi apenas a mais recente de várias no caminho de crescimento da empresa, mas José Neves afirmou que não tem mais compras em vista neste altura.

“Neste momento vamos focar na integração das excelentes aquisições que fizemos e que consideramos que são altamente estratégicas e benéficas para o grupo. São empresas grandes e agora o foco vai ser integrar e obter todas as sinergias possíveis”, disse. “Portanto não há mais aquisições previstas nos próximos tempos”, concluiu.

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