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“Existia um homem que acreditava ser dono de tudo”: o caso do ensino superior

Não é necessário construir tabelas de rankings sobre a transparência e rigor na contratação de docentes no ensino superior em Portugal, basta tentar participar nestes concursos, ou perguntar a docentes que já participaram, ou, também, saber a opinião dos estudantes sobre o mesmo assunto. Nessas observações podem ser reveladas informações sobre as contratações pelas “simpatias”, “amizades”,  etc.
23 Julho 2024, 07h15

O álbum infantil The Fate of Fausto do famoso ilustrador e escritor Irlandês Oliver Jeffers demonstra preocupações prementes no mundo atual: o domínio arrogante do Homem sobre a Natureza, bem como a existência de indivíduos perigosos para a Humanidade, que podem conduzir a consequências devastadoras. A tomada de consciência e prevenção do abuso de autoridade em qualquer instituição do ensino superior, no tempo certo, pode prevenir o perigoso motor de produção de força toda-poderosa que no final pode causar, não apenas, danos morais e financeiros mas fomentar diversas formas de influências ao nível nacional e global.

Não é necessário construir tabelas de rankings sobre a transparência e rigor na contratação de docentes no ensino superior em Portugal, basta tentar participar nestes concursos, ou perguntar a docentes que já participaram, ou, também, saber a opinião dos estudantes sobre o mesmo assunto. Nessas observações podem ser reveladas informações sobre as contratações pelas “simpatias”, “amizades”,  etc.

Neste sentido, existem questões multidimencionais, sendo uma delas relacionada com o mérito e qualificações académicas necessárias para assumir o cargo. Neste caso, pode acontecer que um investigador ou assistente com um pequeno vínculo foi informado sobre a possibilidade de integrar a tempo inteiro, e assim, começa a focar a sua atenção nos projetos e publicações necessárias apenas para essa vaga, para depois vencer o concurso, porque as condições do concurso foram “costuradas” de acordo com o perfil profissional dessa pessoa, e todos os outros participantes não conseguiram vencer, porque faltavam “alguns botões” no design pretendido pela instituição. No final do concurso, que até pode durar um ano, um grande volume de relatórios vão ser enviadas para todos os candidatos, mas, nenhum deles vai conseguir vencer em caso de reclamação. Em vista disso, do outro lado, acontece, que se não “preparar” o candidato “certo” com antecedência, não vai ser possível abrir as portas a novos jovens docentes e cientistas promissores, que não tenham experiência suficiente e ainda não lançaram dezenas de publicações em comparação com os professores mais experientes. No entanto, a escolha dos candidatos jovens ou mais experientes, na mesma, “está na mão” dos “juris poderosos”.

Um outro caso que deixa muitas preocupações, está relacionado com a contratação dos docentes no ensino superior do setor técnico. De facto, não é fácil encontrar o docente perfeito para estes cargos quem tem, em primeiro lugar, o Doutoramento da área de vaga aberta e publicações científicas sobre as matérias que esse professor vai ensinar, e, em segundo lugar, a probabilidade é muito baixa, que esse profissional tenha a formação e/ou experiência pedagógica ao nível do ensino superior público. No fim do concurso pode acontecer que a vaga do professor do ensino superior público politécnico venha a ser ocupada por uma pessoa sem currículo académico e pedagógico, mas com experiência ao longo dos anos no setor industrial. No entanto, se isso acontecer a instituição do ensino superior torna-se uma oficina dos trabalhadores, que ganham o mesmo ordenado ao nível do professor universitário, e, que não seguem a direcção de progressos científicos e técnicos, e, que não têm a voz académica ao nível nacional e internacional, mas apenas, servem aos interesses dos superiores que conseguem contratar esses “falsos cientistas”.

De facto, não podemos fugir da existência destas questões prementes da sociedade portuguesa, ou um qualquer dia, vamos ter no poder do nosso país os governantes que “acreditam ser donos de tudo”.

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