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Expedição científica identificou 20 novas espécies para o Recife do Algarve

A bordo do navio Santa Maria Manuela, dezenas de investigadores fundeados na Baía de Armação de Pêra exploraram toda a área do parque, à superfície e em mergulho, para observar e recolher amostras do fundo do mar, numa iniciativa promovida pela Fundação Oceano Azul, Oceanário de Lisboa e Centro de Ciências do Mar (CCMAR) – Universidade do Algarve.
4 – Algarve
7 Outubro 2025, 13h23

A expedição científica que hoje termina no Recife do Algarve identificou cerca de 20 novas espécies para o parque marinho, onde nos últimos seis dias investigadores monitorizaram um dos maiores recifes costeiros de Portugal.

A bordo do navio Santa Maria Manuela, dezenas de investigadores fundeados na Baía de Armação de Pêra exploraram toda a área do parque, à superfície e em mergulho, para observar e recolher amostras do fundo do mar, numa iniciativa promovida pela Fundação Oceano Azul, Oceanário de Lisboa e Centro de Ciências do Mar (CCMAR) – Universidade do Algarve.

Durante a campanha, foram identificadas cerca de 20 espécies – sobretudo crustáceos e também gorgónias, corais que formam jardins subaquáticos e criam abrigo e alimento para outras espécies – que embora não sejam novas para a ciência o são para esta área específica, conta Jorge Gonçalves, do CCMAR, coordenador científico da expedição.

“Identificámos uma espécie relativamente grande [de gorgónia] que não estava registada no parque e foi agora observada pela primeira vez”, exemplificou, acrescentando que na área do recife existem também algas calcárias que formam estruturas de carbonato de cálcio, “uma espécie de dunas submersas, um ecossistema muito próprio que alberga centenas de outras espécies”, funcionando como sumidouros de carbono.

Ao contrário das gorgónias, que são animais, estas algas calcárias coralinas (de cor vermelha) que também existem na área do parque são plantas – fazem fotossíntese, removem dióxido de carbono da água e, indiretamente, da atmosfera -, formando, em conjunto, um habitat prioritário para a conservação.

Acabado de chegar de um mergulho, o investigador João Silva, do CCMAR, mostra aos jornalistas estas pequenas algas que, em Portugal Continental, apenas foram identificadas na Pedra do Valado, e que têm um ‘super poder’: como produzem carbonato de cálcio entre as suas células funcionam como verdadeiros reservatórios de carbono azul no fundo do mar.

“Esta espécie em particular, o ‘Lithothamnion corallioides’, é a principal formadora do ‘maerl’ [rodólitos], que foi identificado aqui em Armação de Pêra. São algas de crescimento muito lento, cerca de um milímetro por ano, o que significa que alguns destes depósitos terão seguramente mais de 100 anos, o que é notável”, refere.

Segundo João Silva, cada uma destas algas é, por si só, um micro-habitat: “A olho nu vemos apenas uma alga, mas ao microscópio identificamos dezenas, por vezes centenas de pequenos organismos como moluscos, crustáceos e muitos outros que procuram abrigo na estrutura tridimensional durante as primeiras fases de vida”, ilustra.

Durante seis dias, equipas de investigadores mapearam habitats emblemáticos como gorgónias, pradarias marinhas, jardins de corais e bancos de ‘maerl’, através de mergulho científico e da utilização de diversas plataformas tecnológicas de recolha de imagens, incluindo ‘drones’, veículos operados remotamente (ROV) e veículos subaquáticos com isco para atrair peixes.

De acordo com Diana Vieira, gestora de projeto da Fundação Oceano Azul, durante a campanha foram realizados mais de 30 mergulhos, somando 24 horas de imersão, e recolhidas muitas horas de vídeo que agora vão ser analisadas para identificar as espécies observadas no parque.

“Estamos a recolher informação complementar à que já existe para servir de base à elaboração do programa especial e do regulamento de gestão [do parque].

Estes são os instrumentos que vão definir as regras para o Parque Marinho — o que será permitido, o que será condicionado ou proibido — e estão a ser desenvolvidos pelo ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas], em colaboração com o CCMAR e outras entidades”, referiu.

Também acabado de regressar ao Santa Maria Manuela, Diogo Paulo, coordenador científico dos mergulhos, explicou que os mergulhos realizados na segunda-feira, penúltimo dia da campanha, tiveram como objetivo fazer a monitorização do recife na zona de proteção total, depois de, nos dias anteriores, as equipas se terem dedicado a explorar outras zonas de proteção daquela área marinha.

Nestes mergulhos científicos tudo é registado: são usadas fitas métricas, quadrados de amostragem, câmaras fotográficas e de vídeo para documentar o que é observado e pequenas pranchetas subaquáticas onde se registam todos os dados. Neste mergulho em particular, a equipa teve uma surpresa.

Além de terem sido encontrados peixes já com alguma dimensão, o que é um “bom sinal”, foram também observados corais de grandes dimensões e descoberta uma pequena gruta mais escura, onde se abrigam espécies típicas de mar profundo: “Destaco especialmente as gorgónias amarelas — ‘Paramuricea grayi’ — muito grandes e bonitas. Foi uma surpresa, mais pelo lado estético do que científico, mas mesmo assim muito interessante”, concluiu.

Nesta área foram já identificadas 1.059 espécies marinhas — 754 invertebrados, 152 peixes, 61 aves marinhas e 82 macroalgas —, incluindo espécies de valor comercial, potencial biomédico e interesse turístico, algumas raras e ameaçadas.

A expedição foi apoiada pelo ICNF, Autoridade Marítima Nacional e os municípios de Albufeira, Lagoa, Portimão e Silves.

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