Valem 16 mil milhões de euros por ano e devem ser encarados como absolutamente estratégicos para o país. A consideração foi deixada por Álvaro Mendonça e Moura, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) no 7º colóquio hortofrutícola da Lusomorango que decorreu esta sexta-feira em Odemira, e no qual o JE é media partner.
Este responsável começou por referir que a agricultura “é o garante do abastecimento alimentar mas é também estruturante e coloca-a numa situação muito singular nas atividades económicas, assim como a produção florestal”.
“Quando falamos de autonomia ou segurança alimentar, temos que enquadrar no contexto europeu, porque é aí que se joga a autonomia estratégica. A União Europeia só existe se tiver importância estratégica e só terá se tiver autonomia alimentar”, destacou Álvaro Mendonça e Moura.
Traçando o peso na economia do complexo agro-florestal em Portugal – que acarreta 9% do emprego, 5% do PIB e 16 mil milhões de euros de exportações por ano – o responsável máximo da CAP recordou que este valor de vendas internacionais equivale a “cinco vezes o que metemos na TAP por ano”.
Álvaro Mendonça e Moura traçou o caminho: “Temos que caminhar para uma autosuficiência em valor, ou seja, aumentar o valor acrescentado destas atividades. Não se pode ter uma visão nacionalista da agricultura e da floresta. Temos assistido a uma evolução muito positiva entre 2009 e 2019 e até à Covid. Cerca de 75% das explorações agrícolas são especializadas, houve aumento na contratação de serviços e diminuição da mão-de-obra familiar”. Como recordou o líder da CAP, “o setor modernizou-se ao ponto do termo agricultura de precisão ter-se tornado banal, assim como o uso das renováveis. Isto exige um reconhecimento e uma visão estratégica”.
Sobre os valores previstos para a Política Agrícola Comum referente ao período de 2028-2034, e que a CAP já referiu que a mesma prevê um corte direto de 22% face ao anterior quadro financeiro (que com a inflação pode chegar a 35%”, Álvaro Mendonça e Moura não tem dúvidas de que estamos perante notícias “confrangedoras” e por isso “ainda estamos de ressaca”. Sem se alongar no tema, porque considera que é cedo para mais comentários, o responsável deixou o recado: “Governo tem que se bater para que estes valores sejam revistos”.
“Confederações têm muito más relações institucionais com o Governo. Temos uma PAC para discutir em conjunto, reservando para o Ministério da Agricultura o poder de decisão mas que exista uma base comum, como acontecia nos anos 90”, destacou.
O líder da CAP destacou que “há 40 meses que não abre um concurso para um investimento conjunto nas explorações agrícolas. Isto não é possível. Este Governo não tem nenhuma justificação se as coisas correrem mal. Tem um mandato de quatro anos, um larguíssimo apoio parlamentar, o primeiro-ministro tem defendido que este é um sector estratégico e temos a sorte de ter um ministro que conhece os mecanismos europeus. O que falta? Vontade política”.
“Água? Nenhum outro sector terá mudança tão radical”
O líder máximo da CAP fez questão de enfatizar aquela que, no seu entender, é a mudança mais radical em todos os sectores da economia. “Na questão da água, é preciso meter isto na cabeça: podemos gerir o país como business-as-usual, ganhar eleições e fazer umas coisas no final do ciclo eleitoral; no setor agroflorestal, o país tem hoje uma possibilidade de fazer uma alteração estrutural que não aconteceu em décadas e que pode mudar radicalmente a forma como fazemos agricultura”.
Mas avisa: “Não pode ficar como o novo aeroporto de Lisboa. Faz-me impressão que seja pouco discutida a reforma estrutural relativamente à utilização da água. Os pequenos poderes instalados podem impedir que isto se faça, por isso tem que se centralizar a estratégia “Água que Une”. Tem que haver extensão do regadio e água para o sequeiro. Não vejo uma mudança tão radical em nenhum outro sector da economia”, salientou.
Álvaro Mendonça e Moura considera ainda que temas como as parcerias e verticalização “são obrigações” do sector e que “nem tudo é responsabilidade do Estado”. “Tem que se definir mercados alvo para a diversificação das exportações. Mas não basta um esforço das empresas, os poderes políticos têm que criar condições para que as pessoas possam optar pelo interior. Ninguém vai viver para uma pequena cidade do interior porque precisa de médico e de outros serviços essenciais”, realçou.
Sobre o tema da mão-de-obra e a inevitável questão da imigração, tão essencial para o setor agroindustrial, Álvaro Mendonça e Moura não tem dúvidas: “Se queremos crescer, precisamos de mão-de-obra. Mas temos que a receber com dignidade. Não temos direito a receber essa mão-de-obra se não o fizermos com condições. Mas isso é mesmo uma prioridade. Quem disser que se pode viver sem mais imigrantes está a mentir. E devem ter família com eles, isso é essencial: dar estabilidade a estas pessoas”.
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