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Exportações perderam 5,8 mil milhões de euros até setembro, diz presidente da CIP

“Enquanto a procura interna se reduziu em 12% no segundo trimestre, as exportações caíram 39,5%”, referiu António Saraiva na conferência anual da Aicep, adiantando que “as prestações de serviços, onde o turismo tem um peso preponderante, pouco ou nada recuperaram nos últimos meses”.
  • Cristina Bernardo
20 Novembro 2020, 20h41

“Para dar uma ideia sobre o efeito da pandemia no comércio externo português começaria por dizer um número bem expressivo: 5,8 mil milhões de euros. Nos sete meses entre março e setembro foi este o montante perdido relativamente ao valor das mercadorias exportadas no mesmo período do ano 2019”, referiu esta sexta-feira o presidente da CIP, António Saraiva, na terceira sessão da conferência da Aicep de 2020, subordinada ao tema “Exportações & Investimento”.

“As exportações foram de facto, na primeira fase da crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, a componente do PIB que sofreu uma maior queda, contribuindo fortemente para a contração da atividade económica”, referiu António Saraiva, adiantando que “enquanto a procura interna se reduziu em 12% no segundo trimestre, as exportações caíram 39,5%”. E “as prestações de serviços, onde o turismo tem um peso preponderante, pouco ou nada recuperaram nos últimos meses”, disse.

“As exportações de bens, depois da queda abrupta de 41 % em abril registaram logo a partir de maio sinais de recuperação, com contrações homólogas menores, registando uma variação de 0,4% em setembro. Face à contração no mercado interno, as empresas reorientaram os seus esforços para os mercados externos, para mercados de países terceiros menos afetados pela pandemia que a Europa”, referiu o presidente da CIP.

“Mais uma vez, à semelhança da anterior crise, o sector exportador mostrou estar à altura e impulsionou o início da recuperação. Infelizmente este processo está de novo adiado com a segunda vaga da pandemia a alastrar em muitos países, sobretudo europeus, a regressarem a situações de confinamento mais ou menos radicais. Em função da tipologia e da assimetria desses mesmos países, as perspetivas dos exportadores para os próximos meses regrediram lamentavelmente”, refere António Saraiva.

Por isso, diz que “a incerteza é grande. Tudo isto justifica uma forte apreensão do Governo para com o sector exportador, um sector fortemente penalizado pela pandemia. Um sector que mostrou uma vez mais resiliência e capacidade de reagir rapidamente”.

Sobre o “Programa Internacionalizar 2030”, apresentado pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, referiu o presidente da CIP considera que “este programa é um elemento importante na estratégia do Governo. A CIP teve oportunidade de comentar a primeira proposta que nos foi apresentada, e expressámos uma apreciação geral positiva. As medidas introduzidas neste programa estão adaptadas à evolução entretanto ocorrida, dando especial destaque às medidas de ação de resposta à crise do Covid-19 para serem adotadas num primeiro tempo neste Governo”.

“É particularmente importante que o programa continue a dar destaque à cooperação empresarial, doseando medidas e instrumentos que concretizem o efeito que visa o ganho de dimensão crítica das empresas. Constatamos a referência ao papel das confederações empresariais e câmaras de comércio e indústria como parceiros da política de internacionalização, que sempre temos sugerido aos sucessivos governos”, comentou.

Quanto à importância das PME para aumentar a base exportadora, “a este respeito dissemos que deveria ser desenvolvido um programa da identificação das PME com potencial de exportação. Como sabemos, o número de empresas exportadores é ainda lamentavelmente baixo, pois temos qualquer coisa como 22 mil empresas exportadoras e muitas delas – 10.500, sensivelmente –, apenas com um país como mercado”, referiu António Saraiva. Segundo o presidente da CIP, “as licenciaturas em relações internacionais deveriam dar resposta às necessidades das nossas empresas, designadamente, incluindo disciplinas de comércio internacional”.

António Saraiva referiu que o Governo reconheceu a “necessidade de ser mais ambicioso nos apoios às empresas depois de ter apresentado um orçamento particularmente dececionante neste capítulo. Nas novas medidas de apoios encontra-se uma linha de crédito à indústria exportadora. Este é um passo importante sobretudo se tivermos em conta a possibilidade de conversão de 20% do crédito concedido em subsídios a fundo perdido”. O presidente da CIP considera que “o Governo vai-se aproximando do que tem sido defendido pelas nossas empresas”.

“Esperamos ainda para ver em detalhe em que moldes serão concebidas estas novas linhas de crédito, nomeadamente no que respeita às condições de acesso e exigências em termos de manutenção dos postos de trabalho. É preciso que cheguem depressa ao terreno, evitando os percalços e atrasos que constatamos num passado recente. É fundamental salvar o maior número possível de postos de trabalho e isso obviamente consegue-se mantendo as empresas vivas e tanto quanto possível, dinâmicas”, acrescenta António Saraiva.

Há entraves à atividade exportadora que “já há muito podiam ter sido resolvidos e destacaria o que se passa relativamente aos seguros de crédito fundamentais para o sector exportador. A pandemia aumentou o risco e o incumprimento dos mercados externos, e as seguradoras cortaram e suprimiram os seus plafonds de seguros de crédito. A solução só em junho foi encontrada para a súbita redução ou supressão dos plafonds de seguros de crédito, mas terá sido a mais cómoda para o Estado e para as seguradoras, ficando muito longe do que seria necessário para repor alguma aproximação à situação anterior à crise. Há testemunhos de empresas que desistiram”, diz António Saraiva, recordando que “outros países europeus depressam colocaram no terreno um sistema de resseguro por parte do Estado”. A finalizar, o presidente da CIP afirma que “é possível ultrapassar esta crise e estaremos cá, seguramente, com políticas publicas adequadas”.

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