[weglot_switcher]

Fábrica da Nestlé Portugal exporta café da Starbucks para todo o mundo

A fábrica de São Mamede de Infesta foi uma das duas selecionadas a nível mundial para concretizar a aliança entre estes dois gigantes. A nova linha vai valer 27% da produção de café já em 2020.
4 Agosto 2019, 10h00

Menos de um ano após ter sido anunciada a aliança entre a Nestlé e a Starbucks para a produção de café a nível global, a fábrica portuguesa da Nestlé em São Mamede de Infesta, Porto, uma das duas selecionadas à escala mundial para integrar esta parceria, já está a produzir e a exportar café.

Em poucos meses, os mercados de exportação do café Starbucks a produzir por esta unidade da Nestlé Portugal deverão atingir mais de três dezenas de países nos cinco continentes. Uma lista com tendência para aumentar, até porque a partir do final deste mês de julho vai alargar o número de mercados de exportação com que esta unidade vai começar a trabalhar.

“A fábrica da Nestlé no Porto tem uma capacidade de produção entre as 16 e as 17 mil toneladas de café por ano, dependendo do mix de produtos. Com esta nova linha de produção para a Starbucks, a capacidade da fábrica não aumentou, mas irá permitir-nos subir da quota de 27% de exportações em relação à produção com que encerrou 2018”, revelou, em declarações exclusivas ao Jornal Económico, Rui Vieira, diretor desta fábrica.

O mesmo responsável sublinha que, “em termos globais, esta parceria permitirá à fábrica da Nestlé no Porto ter um aumento no seu volume de negócios anual face aos valores precedentes”, sem revelar os valores atingidos pela faturação desta unidade. Estima-se que 27% da produção total de cafés desta fábrica seja da responsabilidade da marca Starbucks já em 2020.

Hoje em dia, esta fábrica da Nestlé produz cinco marcas de café – Buondi, Sical, Nescafé, Tofa e Christina, estas duas últimas de cariz mais regional. E foi esta experiência de décadas, nomeadamente no domínio da torrefação, que levou o quartel-general da Nestlé, na Suíça, a selecionar esta unidade para produzir café no âmbito da aliança com a Starbucks divulgada em agosto do ano passado.

A importância da torra e das novas tendências de consumo
Através desta parceria global no mundo dos cafés, a Nestlé passou a deter os direitos perpétuos de comercialização dos produtos embalados de café e chá da Starbucks para os consumidores em todo o planeta, fora dos estabelecimentos Starbucks e excluindo os produtos ready-to-drink. A nova gama de produtos da Starbucks a sair da fábrica da Nestlé no Porto é constituída por oito blends, três de café em grão e cinco de café moído, divididos em três tipos de torra – blonde roast (torra clara), medium roast (torra média) e dark roast (torra escura). Este é um conceito fundamental para a Starbucks e pode marcar uma alteração de paradigma no mercado nacional, como nos explica Ana Mónica Fernandes, responsável da Nestlé pelo marketing dos produtos Starbucks e dos cafés torrados.

“A prática da Starbucks vem introduzir um novo paradigma de classificação do café, em torra clara, média e escura, o que irá ajudar as pessoas a perceberem qual é que se adapta mais ao seu gosto. Segundo os especialistas, a torra clara é suave e aromática, a torra média é suave e equilibrada e a torra escura é forte e encorpada”, esclarece esta responsável.

Ana Mónica Fernandes alerta ainda para o facto de, “no mercado nacional, a maior parte das marcas se focar na intensidade, mas é preciso dizer que não existe uma escala global, universal, uniforme para definir essa intensidade”.

Outra questão que os produtos da Starbucks pretendem mudar no mercado doméstico dos cafés passa pela alteração dos padrões de consumo. “Portugal está focado no consumo de ‘espresso’, mas as camadas mais jovens da população, os novos consumidores que entram no mercado do café em Portugal, estão a preferir cafés como uma outra forma de degustação. Queremos com esta aliança reproduzir as novas tendências de consumo que se detetam já nas lojas da Starbucks em Portugal. Ou seja, em vez de tomar um shot de cafeína, prefiro tomar um café, mais longo, da marca Starbucks”, assume Ana Mónica Fernandes.

Maria Teresa Mendes, diretora da área de negócio de Cafés Retalho da Nestlé, partilha a mesma opinião: “queremos tirar o máximo partido da experiência de consumo das lojas Starbucks, o designado 3rd place [3º lugar] para desfrutar do café, a seguir a casa e ao trabalho”, garante esta responsável, acrescentando que “é preciso notar que a Starbucks ainda não tem muitas lojas em Portugal e, por isso, nós vamos ser o primeiro ponto de contacto dos consumidores portugueses com a marca Starbucks, principalmente no segmento roasted & ground [moído e torrado], em que o mercado português é muito promissor”.

Três ‘blends’ e cápsulas de café em Portugal até ao fim do ano
“No âmbito desta parceria, chegámos a uma primeira linha de oito produtos. Este foi o primeiro resultado da parceria, mas mais virão depois”, destaca Maria Teresa Mendes. Mas, afinal, quando e a que tipo de cafés da Starbucks produzidos pela Nestlé poderão os portugueses aceder? Esta responsável responde: “Ainda não sabemos se iremos lançar todos estes oito produtos no mercado português. Tudo isso vai depender do café consumido pelos portugueses, mas já temos a certeza que vamos comercializar, pelo menos, três tipos diferentes de blends de cada tipo de torra disponível. Os sacos de café em grão ou de café moído vão estar à venda na generalidade dos supermercados, no retalho moderno em Portugal, e também no canal HORECA(Hotelaria, Cafetaria, Restauração), mas essa não é a nossa prioridade. Preferimos começar pela distribuição direta ao consumidor final”.

E quanto a cápsulas de café Starbucks, uma modalidade prevista pela parceria entre os gigantes norte-americano e helvético, quando poderão estar disponíveis em Portugal? “Noutros mercados, já há cápsulas de café Starbucks, adaptadas aos modelos de máquinas Dolce Gusto ou Nespresso. O nosso objetivo para o mercado nacional é lançar todos esses sistemas comerciais, incluindo as cápsulas de café mas ainda não sabemos em que variedades. O nosso grande objetivo não é quantitativo, mas qualitativo, de posicionamento no mercado”, defende Maria Teresa Mendes.

Esta será a primeira vez que as cásulas de café feitas pela Nestlé adaptáveis a máquinas Nespresso, como será o caso das Starbucks, vão estar disponíveis na grande distribuição em Portugal, porque até ao momento só eram comercializadas nas boutiques da marca Nespresso ou online, além de pequenas áreas de comercialização na Worten, em conjunto com as respetivas máquinas.

Artigo publicado na edição nº1998, de 19 de julho, do Jornal Económico

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.