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Falar a verdade

Querer queimar fases de uma candidatura, seja ela qual for, na ânsia de aparecer e parecer que faz e querer propor tudo e mais alguma coisa, chegamos a uma vergonhosa falta de noção dos números.
5 Julho 2021, 07h15

Estamos em ano de eleições autárquicas. Já não faltam muitos meses para termos vencedores e vencidos, eleitos e reeleitos nos 308 concelhos do território continental e ilhas. Estamos prestes a entrar na fase mais acalorada do embate político e com isso é necessário não esquecer, para os mais distraídos, que a escolha das equipas autárquicas é uma coisa e que as linhas orientadoras de um projecto político é outra completamente distinta. Quantos candidatos
anunciados, ainda sem as listas anunciadas publicamente, já disseram ter a melhor equipa e projecto para os próximos 4 anos? Mas qual projecto?

Querer queimar fases de uma candidatura, seja ela qual for, na ânsia de aparecer e parecer que faz e querer propor tudo e mais alguma coisa, chegamos a uma vergonhosa falta de noção dos números. Sim, porque as pessoas não são
números, mas é com os números que um município é gerido. Quando um país como Portugal tem números avassaladores de dívida pública, não podemos esperar que a maioria das autarquias estejam a respirar os ares mais puros a nível económico. Muitas estão a arder que nem eucaliptos no calor de Agosto e os bombeiros desta história estão em greve porque todos recusam-se a abordar qualquer subida de impostos, não vá o eleitorado ficar assustado com a junção das palavras “subida” e “impostos” na boca de um candidato.

O próprio eleitor é o principal culpado de alguns incêndios. Aqueles que dizem que os partidos só recordam as pessoas em tempo de eleições são, na maioria, os mesmos que não têm qualquer interesse na vida política da sua freguesia, mas estão na linha da frente na maledicência. Este desconhecimento generalizado é culpa de quem? Um pouco por todo o lado notamos que quem tenta ganhar um município atira valores de endividamento para o ar e espera que esse número corra de boca em boca e se distorcerem o valor, que seja para cima e nunca para baixo, na lógica do quanto pior melhor. Este é o nível em que estamos.

Porque não uma lufada de ar fresco onde existe incêndio, se for o caso, falando a verdade e assumir sem qualquer temor que será necessário ajustar impostos para realizar alguma coisa, porque eu teria vergonha de prometer sabendo à partida que no caso de ser eleito não iria conseguir cumprir com a população.

Alguns sabem que vai dar para pouco mais do que a gestão corrente, mas não desarmam no discurso do paraíso na terra.

Enquanto a maioria preferir a ilusão e a mentira agradável, o único período de felicidade política para quem vota dura até terminar o período de “nojo” do candidato vencedor. Depois voltamos todos à realidade até nova oportunidade para repetir a receita.

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