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‘Falcões’ vs ‘pombas’ no BCE. Lagarde vai dar sinal forte, mas tensões devem adiar estímulos

O banco central da zona euro está novamente dividido entre os que querem mais estimulos já e os que preferem aguardar. Christine Lagarde tem espaço de manobra e deverá aguardar até dezembro, quando tiver novas projeções e melhor visão sobre riscos politicos. A mensagem de hoje deverá ser, portanto, de promessa de agir face ao aumento de riscos.
29 Outubro 2020, 08h10

Preparar terreno para anunciar novos estímulos em dezembro. Deverá ser este o principal objetivo de Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), na mensagem a transmitir na conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Governadores de hoje, segundo os analistas.

“O debate sobre estímulos adicionais do BCE passou de uma questão de ‘se’ para ‘quando'”, afirmou Nick Kounis, head of financial markets research do banco holandês ABN-Amro.  “Isso reflete os sinais de que a economia da zona euro está a perder ímpeto, as pressões inflacionárias subjacentes fracas, a segunda onda do vírus, novas restrições e uma mudança de tom por parte dos membros do banco central”.

Para Kounis, o BCE poderia surpreender com novas medidas antes do esperado em outubro se concluir que a ação preventiva pode ser mais potente do que ficar “atrás da curva” em termos de moldar as expectativas nos mercados financeiros.  “Além disso, há um argumento de gestão de risco, dado que as perspetivas podem se deteriorar acentuadamente nas próximas semanas se as tendências do vírus não melhorarem e os governos reagirem ao intensificar as restrições consideravelmente”.

No entanto, à semelhança da maioria dos analistas, Kounis acredita que o BCE deverá esperar até à reunião de dezembro para anunciar os novos estímulos, especialmente tendo em conta as divergências no Conselho sobre a estratégia a seguir.

“A velha divisão”

Franck Dixmier, global CIO fixed income da  Allianz Global Investors (GI), explicou que “na verdade, ressurgiu a velha divisão entre ‘pombos’ e ‘falcões'”, referindo-se a anteriores divergências entre os membros do Conselho de Governadores que preferem uma política monetária mais acomodatícia (os ‘pombos’) e o que preferem uma mais conservadora ou convencional (os ‘falcões’).

“Christine Lagarde, que defende a procura de consensos, terá muito trabalho pela frente para resolver um debate já antigo: corre-se o risco de uma política ainda mais agressiva de compra de títulos soberanos poder ser vista como financiamento monetário de défice públicos, algo proibido pelos tratados”, sublinhou.

O analista da Allianz GI diz que há outros fatores que poderão favorecer a escolha de dezembro para novos estímulos.  Na reunião de dezembro, o BCE deverá atualizar as suas projeções macroeconómicas. “Esperamos que sejam pessimistas, portanto, pode ser um bom momento para anunciar novas medidas de apoio”.

Além disso, nessa altura o banco central vai ter mais perspetiva sobre os riscos políticos que surgiram nas últimas semanas – como o Brexit e as eleições nos Estados Unidos – bem como sobre a evolução da pandemia.

Dixmier diz ainda que o Programa de Compras de Emergência Pandémica (PEPP) continua a manter o seu poder de fogo e portanto não há urgência para agir agora, a não ser para dar um sinal forte.

“Perante a deterioração das perspetivas económicas e a baixa inflação no contexto do agravamento da crise sanitária, Christine Lagarde deve afirmar veementemente a sua disposição para tomar medidas adicionais de suporte monetário no final do ano”, afirmou.

Menu de estímulos

O BCE lançou o PEPP em março deste ano para apoiar a economia e os mercados a enfrentarem os riscos que a pandemia causou na zona euro, inicialmente com um valor de 750 mil milhões de euros em compras de e um prazo de final deste ano. Na reunião de junho o BCE reforçou o valor em 600 mil milhões (para perfazer o total atual de 1,35 bilões de euros)  e estendeu o prazo final até junho de 2021.

Se quanto ao timing os analistas pendem para um anúncio em dezembro, em relação à natureza dos novos estímulos há algumas diferenças de opinião. Nick Kounis, do ABN-Amro, vê o PEPP a continuar a ser a  plataforma central, pois o BCE acredita que o Quantitative Easing, ou a compra de ativos tem maior impacto no crescimento e na inflação face a outras ferramentas e que dentro das opções o PEPP oferece maior flexibilidade do que os programas ‘convencionais’,

Carsten Brzeski, global head of macro do ING, por outro lado, antecipa um aumento do PSPP em Dezembro, em detrimento de um no PEPP.

Já Franck Dixmier, da Allianz GI diz que os novos estímulos deverão “incluir uma extensão do PEPP, adiando o seu final programado de junho para dezembro de 2021, e um aumento no programa de compra do BCE para atender às emissões soberanas recorde esperadas em 2021”, adiantando que também prevê novas condições favoráveis para os TLTROs, operações de refinanciamento de prazo alargado direccionadas ao apoio de crédito bancário.

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