O aumento dos gastos com defesa na Europa irá levar a um aumento considerável da necessidade de mão-de-obra altamente especializada, um acréscimo de pressão num mercado laboral envelhecido e já bastante rígido, sobretudo em comparação com a média histórica. Caso a meta NATO salte para 3% do PIB, o bloco europeu pode precisar de mais 760 mil trabalhadores até 2030 e, apesar de os representantes do sector nacional pedirem tempo para avaliar as orientações da Aliança, o desafio é inegável.
A NATO reúne a 24 e 25 deste mês em Haia, nos Países Baixos, e é certo que o alvo para os gastos no sector de defesa irá subir – a dúvida é para quanto. O secretário de Estado dos EUA, Pete Hegseth, já garantiu na passada semana que a subida para 5% “vai acontecer”, uma ideia defendida pelo secretário-geral da Aliança, Mark Rutte, um número que se dividiria em 3,5% para despesa ‘pura’ em defesa e outros 1,5% para infraestrutura relacionada, como cibersegurança.
Segundo um estudo da consultora Kearney, caso os parceiros europeus cumprissem a meta atual de 2%, isso criaria uma necessidade de até 160 mil trabalhadores qualificados até 2030, número que sobe para 460 mil no caso de o objetivo passar para 2,5% do PIB. Com 3% do PIB alocado ao sector, serão precisos até 760 mil trabalhadores.
Ao JE, o presidente do Conselho de Administração da idD Portugal Defence, Ricardo Pinheiro Alves, começa por defender que os números para Portugal dependerão fundamentalmente das decisões que emergirem de Haia, bem como “das necessidades nacionais” de cada Estado-membro. Ainda assim, independentemente do número final de trabalhadores que serão necessários, o representante do ramo perspetiva a criação de emprego “bem pago comparativamente aos restantes sectores nacionais” e com maior produtividade.
Segundo um estudo do Instituto Kiel, da Alemanha, a produtividade de longo prazo na Europa sobe 0,25 pontos percentuais (pp) por cada acréscimo de 1pp do PIB nos gastos com defesa. Em 2023, os dados da Agência Europeia de Defesa (AED) mostram que o sector empregou à volta de 581 mil pessoas e gerou receitas de 158,8 mil milhões de euros – caso se confirmem os números avançados pela Kearney, um salto para 3% levaria a que a força de trabalho no ramo da defesa mais que duplicasse até 2030.
Armindo Monteiro, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, começa por defender que a falta de mão-de-obra para a defesa se insere noutro problema de maior dimensão na economia nacional, a dificuldade em conseguir trabalhadores para indústrias com valor acrescentado acima da média – dificuldade essa que não se resolverá com a chegada da atual vaga de imigração “iletrada”.
Com uma indústria de guerra cada vez mais tecnológica, este é um ecossistema “que exige qualificações humanas”, pelo que uma das prioridades deve estar na atração de talento estrangeiro, continua. Para tal, políticas como o extinto regime dos residentes não-habituais seriam úteis, considera.
Com mais oportunidades num sector com salários acima da média nacional, o investimento em defesa pode também ser uma forma de manter o talento português dentro de portas, continua Ricardo Pinheiro Alves, elogiando a qualidade da formação em Portugal. Considerando a mais recente sugestão da administração norte-americana, alocar parte deste aumento em gastos à valorização salarial parece possível, sendo que o presidente da idD fala emc, “de certa forma, um investimento”.
“Depende do que é que se entende por infraestruturas que tenham a ver com a defesa: por exemplo, e se quisermos incluir o novo aeroporto de Lisboa como infraestrutura para a defesa?”, interroga. É, portanto, fundamental perceber as orientações da Aliança e, ao mesmo tempo, as necessidades internas, que são amplas.
“Como nós, em 50 anos, investimos pouco, todas as áreas neste momento precisam de investimento, todos os ramos”, resume o presidente do idD. Tal passa por capacidades para patrulhar a extensa área económica exclusiva do país, formar mais um batalhão para apoiar a NATO, fortalecer a cibersegurança nacional e olhar para o espaço, “um domínio como outro qualquer onde os países europeus estão muito atrasados”.
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