Família Moniz Galvão: de Espírito Santo ao império Santogal

Espírito Santo Moniz Galvão poderiam ser duas famílias – e antes eram -, mas uniram-se através do casamento e nasceu um império assente nos bens das duas famílias. Fernando Espírito Santo Moniz Galvão fundou a Mocar em 1946, que a filha Maria do Carmo viria a herdar, o importador exclusivo da Alfa Romeo em Portugal.

A revista Forbes Portugal colocou a família Moniz Galvão Espírito Santo entre os mais ricos de Portugal, posicionando-se no 48º lugar do ranking dos milionários. Em conjunto, e apenas com o ativo da Santogal, os herdeiros Moniz Galvão somavam uma riqueza de 315 milhões de euros até ao fim do ano passado.

No ano seguinte à fundação da Mocar, em 1947, Fernando abriu o primeiro stand da Alfa Romeo em Lisboa e no ano seguinte tornou-se o importador da Peugeot e Packard.

Maria do Carmo Arzina Moniz Galvão nasceu em Alcácer do Sal em 1933, casou em 1954 com o primo Manuel Ricardo Pinheiro Espírito do Santo Silva e tornou-se então Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva, uma senhora que da alta sociedade fugia dos fotógrafos, evitava festas e não dava entrevistas, mas apaixonada pela velocidade e antiguidades.

Em tempos, a já falecida Maria do Carmo, foi a mulher mais rica de todo o Portugal, com uma fortuna de fazer inveja a muitas famílias, e também a maior acionista individual do Banco Espírito Santo, com uma participação de 16%.

Em 2008 era a mulher mais rica do mundo, posicionando-se na sétima posição da lista dos milionários – à frente de Soares dos Santos, do concorrente Salvador Caetano e da família Mello -, somando uma fortuna de 745 milhões de euros, assente em ativos como o grupo Espírito Santo e o grupo Santogal. No ano anterior a sua fortuna ascendia a 768,1 milhões de euros.

Embora fizesse vida entre Genebra e Portugal, a herdeira Moniz Galvão tornou-se a matriarca da família Espírito Santo, depois da morte do marido no início da década de 1990. Foi então que se tornou a maior acionista individual do Banco Espírito Santo, e conseguiu navegar pela queda do BES quase sem sofrer mossa.

Com o marido teve quatro filhos: Manuel Fernando, Fernando Manuel, Mafalda e Madalena

Todo o património que Maria do Carmo tinha – e foi passado para o filho – foi acumulado por herança. Bisneta, neta, sobrinha e filha única, deve uma boa parte da fortuna ao pai, que, além de ter criado a Mocar, foi um importante acionista do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) até à sua nacionalização, em 1975.

Após a prisão do marido, em março de 1975, Maria do Carmo mudou-se com os filhos para Londres. Meses mais tarde, Manuel Ricardo juntou-se à família, após ser libertado de Caxias. Foram refazendo os seus negócios no estrangeiro e o regresso a Portugal deu-se com a reprivatização da banca, que levou à criação do grupo Espírito Santo.

Com a morte do marido, no fim do século XX, Maria do Carmo Moniz Galvão substitui-o no Conselho Superior da família, enquanto líder dos Moniz Galvão Espírito Santo, um dos ramos da família que detinha o Grupo Espírito Santo. Contudo, nos anos que antecederam à queda do grupo, foi Manuel Fernando Espírito Santos, antigo presidente da Rioforte, que representava a família.

A Mocar viria a ter várias vidas e nomes: em 1967 foi designada de Santomar e iniciou a importação dos automóveis da Honda, em 1986 surgiu uma joint-venture para a importação das motas da Honda.

O nome Santogal, que persiste até aos dias atuais, só chegaria a 17 de dezembro de 1991, sendo uma holding do grupo de retalho automóvel multimarca. Desde então, o grupo Santogal soma mais de 30 marcas automóveis, entre as quais Audi, BMW, Mazda, Volkswagen, Mercedes-Benz, Fiat e Renault. A Santogal expandiu-se para Madrid em 2007, onde tem a representação da Ferrari.

Maria do Carmo Moniz Galvão viria a morrer em 2020, na sequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo sobrevivida pelos quatro filhos e pelos netos. Apesar do império Espírito Santo ter o nome rasurado, a herança da Santogal permanece viva, tendo apresentado lucros de 24,5 milhões de euros em 2023, mantendo-se ativo em aquisições e com o objetivo de chegar aos mil milhões de faturação.