2021 é um ano de enormes expetativas e de esperança: é o ano em que esperamos pôr fim à pandemia e repor algo parecido com uma normalidade; é o ano em que esperamos recomeçar a viajar, a festejar com amigos e família as ocasiões adiadas e prometidas; é o ano em que esperamos poder voltar a abraçar todos e a cumprimentar com dois beijos, tão portugueses. É, por isso, um ano que esperamos bem mais risonho.
Mas este ano ficará também registado, de forma muito triste, como sendo o primeiro ano no qual o Reino Unido deixa formalmente e de forma irreversível (pelo menos num prazo previsível) a União Europeia.
É certo que foram eles que quiseram sair, é certo também que nunca estiveram dentro de forma plena, mas é sem sombra de dúvida uma grande perda para todos nós, europeístas.
Esqueçamos os políticos britânicos concretos que permitiram/alimentaram esta separação e que, creio bem, ficarão para a história como tendo feito um péssimo serviço ao seu país. Esqueçamos também alguns laivos de arrogância que sempre se lhes reconheceu face ao “continente” e que nós, Portugueses, conhecemos bem pelo modo como nos foram tratando, tantas vezes, ao longo da história. Como todos os povos e países, o Reino Unido – até talvez mais do que muitos outros – tem características menos simpáticas e outras mais agradáveis; tem, na sua história, momentos horríveis e momentos heroicos. Mas é (ou era) uma peça imprescindível e, sem ele, o puzzle europeu fica irremediavelmente empobrecido.
Do ponto de vista económico, não restam dúvidas de que, pelo menos no curto/médio prazo, o Reino Unido vai perder e sofrer mais do que a União Europeia. Muito provavelmente, continuará a ter a maior praça financeira da Europa e com mais ou menos dificuldade e negociando acordos com vários países, conseguirá manter-se uma potência económica relevante. A Europa ajustar-se-á à sua saída e garantirá, assim o esperamos, acordos que assegurem que se mantenha uma relação benéfica para os dois blocos.
Mas há uma parte que a Europa perde e que tem que ver com o que é o seu material genético, com aquilo que queremos ser estruturalmente: uma união coesa, mas multicultural de partes muito diferentes e ricas. E perde, porque o Reino Unido era, politicamente, um contraponto importante à França e à Alemanha. Porque, culturalmente, é um país notável, com um sistema científico e de educação, sobretudo de ensino superior, excecional, provavelmente só comparável ao dos EUA. O Reino Unido é, numa curtíssima e pessoal lista, o país de Newton, Maxwell, Darwin e Turing; de Shakespeare, Agatha Christie, Tolkein, Orwell e John Le Carré; de Charlie Chaplin, Lawrence Olivier e James Bond; dos Beatles e dos Monty Python; mas também dos Oasis, dos Radiohead e dos Coldplay, de Harry Potter e do Senhor dos Anéis.
A União Europeia vai continuar e, depois deste ano tremendo, espero que mais forte e resiliente, com condições para aprofundar a união. E esperemos que assim como o Reino Unido esteve dentro sempre com um pé de fora, fique fora mas com um pé sempre cá dentro.