[weglot_switcher]

Fed deve ir de férias sem mexidas nos juros apesar de divisões internas crescentes

O mercado atribui forte probabilidade a uma reunião sem mexidas, mas os dois governadores nomeados por Trump já sinalizaram a vontade de ver os juros recuarem, em linha com o presidente. Caso ambos divirjam da decisão da Fed, será a primeira vez desde 1993 que dois governadores votam contra.
FILE PHOTO: Federal Reserve Board Chairman Jerome Powell holds a news conference after Powell announced the Fed raised interest rates by three-quarters of a percentage point as part of their continuing efforts to combat inflation, following the Federal Open Market Committee meeting on interest rate policy in Washington, U.S., November 2, 2022. REUTERS/Elizabeth Frantz/File Photo
30 Julho 2025, 07h00

Após uma semana recheada de notícias com o acordo comercial UE-EUA, a quase inédita visita de Trump ao edifício da Reserva Federal e o Banco Central Europeu (BCE) a sinalizar o fim do atual ciclo de descidas de juros, a autoridade monetária norte-americana deve continuar a resistir à pressão política e deixará tudo na mesma antes de ir de férias, apontam analistas e investidores.

A FedWatch Tool, ferramenta de monitorização das taxas implícitas do mercado, atribui 96,9% de probabilidade a uma reunião sem mexidas nos juros esta quarta-feira, ou seja, com as taxas de referência a permanecerem entre 4,25% e 4,5%. Esta estimativa não tem flutuado muito em relação aos 95,9% de certezas uma semana antes, embora a subida comparando com os 81,4% de há um mês seja mais evidente. Tal ocorrerá apesar da pressão contínua de Trump para que o banco central baixe taxas, uma pressão que conheceu novos desenvolvimentos na passada semana.

A visita de Trump aos escritórios da Fed, em Washington, DC, foi vista como mais uma fonte de pressão no líder do banco central, que o presidente norte-americano já ameaçou repetidas vezes ir despedir – além de o classificar como “um perfeito totó”, entre outros adjetivos pouco abonatórios.

Trump pressionou publicamente Powell quanto aos números da renovação em curso da sede da Reserva Federal em Washington, DC, acusando o banqueiro de permitir uma derrapagem de 700 milhões de dólares (597,4 milhões de euros), elevando o custo do projeto para 3,1 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros). Perante a rejeição de Powell destes números, Trump reforçou a acusação.

“[Os números] Acabaram de ser conhecidos”, afirmou o presidente dos EUA, de capacete na cabeça e ao lado de Powell, tirando um pequeno papel do bolso. Para se ter uma noção da escala, 700 milhões de dólares é o equivalente a uma semana de leilões do Tesouro norte-americano – uma gota de água no orçamento da maior economia do mundo.

Apesar de recuar nas ameaças e sinalizar que não está a pensar afastar Powell, o presidente dos EUA reforçou o que poderia o líder da Fed fazer para o agradar: baixar juros em três pontos percentuais para 1%.

Esse não parece, contudo, o cenário base. A maioria dos analistas destaca as ainda evidentes pressões sobre os preços, sobretudo dado a imposição de tarifas, como um dos principais fatores a evitarem uma descida de juro para já, com a GeneraliAM e AllianzGI a apostarem em cortes de juro apenas em setembro.

Ainda assim, é provável que o voto não seja unânime, dados os sinais de dois dos governadores com direito de voto de que gostariam de ver uma descida dos juros. Christopher Waller e Michelle Bowman, dois nomeados por Trump para o cargo, apontam para alguma fragilidade no mercado laboral para argumentarem a favor de cortes já, em linha com o que defende o presidente.

“Outros membros da Fed, contudo, manifestaram o desejo de não cortar as taxas de forma preventiva, e o próprio Powell sugeriu que continua a ser prudente esperar para ver como evoluem as condições macroeconómicas”, destaca uma nota da AllianzGI, que vê no encontro de setembro “uma reunião ‘viva’ para a retoma dos cortes das taxas de juro, em especial se os dados de atividade económica e uma possível pressão política avassaladora forçarem a Fed a agir”.

Este é também o cenário base da GeneralliAM, embora sublinhando que esta previsão “depende da tendência da inflação, dinâmica do mercado laboral e desenvolvimentos económicos globais”.

Caso ambos os governadores divirjam da decisão da Fed, tal marcaria a primeira vez em que dois membros com voto diferem da posição do banco central desde 1993, um sinal para os mercados de divisões crescentes no seio da instituição (ainda) liderada por Jerome Powell.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.