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Fitch reafirma rating de Portugal em ‘A-‘. Perspectiva é estável

A Fitch alerta ainda para as dinâmicas difíceis entre potenciais parceiros de coligação que podem resultar num período de incerteza política. “No entanto, com base num certo consenso político sobre políticas orçamentais prudentes, o nosso cenário base é que isto não se traduzirá numa flexibilização fiscal material”, conclui  a Fitch.
22 Março 2024, 22h50

A agência de notação financeira manteve a classificação da dívida soberana portuguesa em A-, com perspetiva estável.

Esta é a primeira agência a pronunciar-se desde as eleições legislativas de 10 de março.

Pontos fortes estruturais e dívida elevada: “As notações de Portugal são apoiadas por indicadores de governação superiores à mediana “A”, com pontos fortes institucionais sustentados pela adesão à UE e à zona euro e um historial de disciplina orçamental, que conduziu a um processo de desalavancagem na sequência da crise da dívida soberana da zona euro. Estes factores são contrabalançados pelos elevados níveis de endividamento público e externo herdados do passado e a dimensão relativamente pequena da economia”, refere a agência de rating.

A Fitch aponta o excedente orçamental e desempenho fiscal excecional. “Portugal registou um excedente orçamental estimado de 1,3% do PIB em 2023, 0,8 pp melhor do que a nossa previsão na última revisão de classificação em setembro de 2023. Compara favoravelmente com a atual mediana ‘A’ de 3,2% de défice orçamental e é também uma melhoria em relação ao défice de 0,3% do PIB em 2022. Prevemos a continuação do bom desempenho orçamental em relação aos seus pares, com excedentes orçamentais de 0,2% do PIB em 2024 e 2025, embora a incerteza política decorrente das eleições dê origem a riscos de queda”.

A Fitch alerta para os resultados eleitorais apertados que criam condições de incerteza. “A Aliança Democrática de centro-direita venceu as eleições de 10 de Março com 80 deputados, 35% de participação, no novo parlamento, enquanto o atual Partido Socialista (PS) caiu para 34% (78 deputados) face a 52% nas eleições de 2022. O Chega, de direita e populista, teve o maior aumento na sua quota de votos, com 22% dos assentos parlamentares, quatro vezes o resultado anterior”, lê-se no relatório da agência de notação financeira.

A Fitch alerta ainda para as dinâmicas difíceis entre potenciais parceiros de coligação que podem resultar num período de incerteza política com negociações prolongadas e a possibilidade de outras eleições, ou um governo minoritário dependente do apoio da oposição.

“No entanto, com base num certo consenso político sobre políticas orçamentais prudentes, o nosso cenário base é que isto não se traduzirá numa flexibilização fiscal material”, conclui  a Fitch.

Outro ponto forte é a redução sustentada da dívida. A dívida bruta do governo diminuiu para pouco menos de 100% do PIB no final de 2023, de 135% no final de 2020, uma das maiores quedas entre os seus pares classificados pela Fitch, mas ainda bem acima da atual mediana ‘A’ de 52%.

“A dinâmica favorável da dívida é impulsionada pela combinação de um forte crescimento económico nominal e real e de excedentes orçamentais. Prevemos que o rácio da dívida caia para 92% no final de 2025 e, na nossa dinâmica da dívida de médio prazo, que termine 2027 abaixo dos 85%”, refere a agência.

A Fitch diz que a economia portuguesa é robusta pois registou um crescimento de 2,3% em 2023 e o crescimento acelerou no 4º trimestre de 2023 para 0,8% face ao trimestre anterior, ambos significativamente melhores do que o desempenho global do crescimento da zona euro.

Os principais factores recuperação pós-pandemia foram o investimento e as exportações, que cresceram 11,5% e 11,8%, respetivamente, desde 2019.

Entretanto, o consumo das famílias registou um crescimento de apenas 4,5% cumulativamente, devido aos choques adversos no rendimento disponível real, realça a agência.

“Prevemos que o PIB cresça 1,4% e 1,8% em 2024 e 2025, respetivamente, continuando o desempenho superior em relação à área do euro”, estima a Fitch.

O mercado de trabalho também se revelou resiliente aos recentes choques adversos, com uma taxa de desemprego de 6,5% no início de 2024 e uma taxa de participação no mercado de trabalho recorde de quase 69%, acrescenta a agência de rating.

“A inflação desceu para 2,3% em fevereiro de 2024, ligeiramente abaixo da média da zona euro de 2,6%, e projectamos que desça para uma média de 2% em 2025”, salienta.

A Fitch destaca ainda o ajustamento externo em curso. A balança corrente voltou a registar um excedente em 2023, 1,4% do PIB, em comparação com um défice da balança corrente de 1,2% do PIB em 2022. A melhoria deve-se à queda dos preços da energia importada e ao forte desempenho das exportações, em particular devido ao dinamismo das receitas do turismo. “Projetamos que as balança corrente permaneça com um excedente de cerca de 1,3% do PIB em 2024 e 2025, com base no crescimento contínuo das exportações”, refere a agência.

“A dinâmica favorável da balança corrente também suporta o processo de desalavancagem externa, com a dívida externa líquida (54% do PIB) e a PII (posição de investimento internacional) líquida (-73% do PIB) numa firme tendência de melhoria, com uma redução de cerca de 30pp desde 2019, embora ainda muito superior às medianas dos pares”, refere a Fitch.

Depois a agência destaca o forte desempenho dos bancos. “A qualidade dos ativos e a capitalização do sector bancário português melhoraram significativamente nos últimos dois anos, o que reforçou materialmente a resiliência dos perfis de crédito dos bancos”.

A Fitch diz que “reviu em alta a pontuação do Indicador do Sector Bancário (BSI) de ‘bb’ para ‘bbb’ na última revisão do rating”.

O sector bancário é menos sensível aos choques de confiança dos investidores estrangeiros e de qualidade dos ativos do que no passado, acrescenta.

A Fitch salienta ainda o sector privado resiliente. As taxas de juro mais elevadas e a sua rápida repercussão (cerca de 80% das hipotecas são a taxa variável) conduziram a um aumento acentuado dos encargos com o serviço da dívida das famílias. “No entanto, os riscos para a estabilidade financeira do sector das famílias são atenuados por uma série de factores, incluindo o impacto de medidas macroprudenciais anteriores, que reduziram os rácios médios entre o valor dos empréstimos e o valor da dívida; a distribuição da dívida entre as famílias, que está relativamente concentrada nas famílias com rendimentos mais elevados, que dispõem de maiores reservas para fazer face às pressões do serviço da dívida; e a diminuição constante do endividamento global”, refere a agência.

As medidas de apoio governamental no contexto do programa ‘Mais Habitação’ e os limites máximos para o aumento das hipotecas para mutuários em dificuldades podem aliviar o stress do serviço da dívida para algumas famílias, destaca.

Por fim diz que Portugal tem um “ESG Relevance Score (RS) de ‘5[+]’ tanto para a Estabilidade e Direitos Políticos como para o Estado de Direito, Qualidade Institucional e Regulamentar e Controlo da Corrupção”.

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