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França: Barnier aposta na divisão da esquerda para tentar governar

Os socialistas recusaram um encontro com o primeiro-ministro indigitado por Macron, mas, o PCF aceita-o “sem ilusões”. A fissura na Nova Frente Popular, de que ambos os partidos fazem parte, abre novas perspetivas para Barnier.
David Fitzgerald/Web Summit
11 Setembro 2024, 07h30

Os líderes socialistas Olivier Faure e Boris Vallaud, contactados pelo palácio de Matignon, ocupado pelo governo demissionário, recusaram qualquer reunião com o primeiro-ministro indigitado pelo presidente Emmanuel Macron, antes de Michel Barnier apresentar a sua declaração de política geral à Assembleia Nacional. Mas os comunistas do ‘velho’ PCF serão recebidos na próxima terça-feira, 17 de setembro, segundo avança a imprensa gaulesa. O secretário nacional do partido, Fabien Roussel, disse que “não tem ilusões” sobre o novo chefe de governo, “que tem 50 anos de vida política e nunca fez nada na área social no nosso país”.

A abertura do PCF para ser recebido dá nota de que, pelo menos para já, os partidos que compõem a Nova Frente Popular não estão alinhados no mesmo sentido – o de dizerem ‘não’ a Barnier sem quaisquer negociações – o que abre uma nova hipótese para Barnier conseguir fazer passar o seu governo na Assembleia. Genericamente, Barnier precisa de duas coisas: que o Les Republicains (família de onde é oriundo) e o Horizons (de Macron) votem favoravelmente e que, em paralelo, ou o bloco de esquerda ou o bloco de extrema-direita não votem contra.

A pressão sobre a esquerda é grande: depois de a Frente ter percebido que não será convidada a formar governo – apesar de a France Insumisse (LFI) ter sido o partido mais votado – corre o risco de, dizendo ‘não’ a Barnier, ser confrontado com um convite à extrema-direita, que talvez tivesse mais hipóteses de ser aceite no Parlamento. Por esta ordem de ideias, a extrema-direita estará mais próxima de recusar Barnier, apostando na possibilidade de ser o próximo partido na ‘fila’ para formar governo.

Ainda segundo a imprensa francesa, o coordenador nacional da LFI, Manuel Bompard, disse que, para já, não recebeu nenhum convite e deu a entender que o seu partido não se encontraria com o primeiro-ministro indigitado mesmo que o fosse. E confirmou que a esquerda apresentaria uma moção de censura sem demora, assim que a sessão parlamentar começar, no início de outubro, se não houver sessão extraordinária em setembro.

Os Verdes também disseram que ainda não receberam um convite para se encontrarem com o primeiro-ministro. De qualquer forma, Michel Barnier “não tem nada a esperar de nós e nós não temos nada a esperar dele”, disse um dos porta-vozes dos verdes, Benjamin Lucas. “Vamos fazer de tudo para derrubar este governo”, acrescentou.

Do outro lado, os extremistas do Rassemblement National optaram por não se comprometer, dizendo que só tomarão uma decisão definitiva quando ouvirem o que Michel Barnier terá a dizer na Assembleia – o que sucederá ou a partir de 1 de outubro ou antes disso, se for marcada uma sessão extraordinária durante o mês de setembro, o que não é provável que aconteça.

Entretanto, o tempo continua a contar para o orçamento do Estado. Mas o assunto não está parado. Enquanto multiplica as consultas para formar seu governo, Michel Barnier também está a preparar o projeto de orçamento, que deve concluir nos próximos dias. Esta terça-feira, almoçou com o ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, e com o seu ministro delegado para as Contas Públicas, Thomas Cazenave. “É o desafio mais urgente e o mais difícil, é o desafio mais político”, disse Le Maire, citado pela imprensa. Barnier queria ter uma ideia precisa do projeto preparado pelos ministros do seu antecessor, Gabriel Attal. O orçamento deve, em princípio, ser enviado ao Conselho Superior de Finanças Públicas antes da próxima segunda-feira, 16 de setembro.

Para piorar o ambiente, Charles de Courson, relator geral do orçamento na Assembleia Nacional, considera que é “impossível”, na “atual situação política”, que a França reduza o défice público para 3% do PIB até 2027. Mas Bruno Le Maire, garantiu que a França ainda pode cumprir esse objetivo.

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