O presidente francês Emmanuel Macron decidiu nomear o centrista François Bayrou para liderar o país. O anúncio foi feito esta manhã pelo Palácio do Eliseu, oito dias depois da queda do Governo de Michel Barnier. Já se sabia que Macron iria escolher o sucessor de Barnier esta sexta-feira. A reunião entre os dois líderes aconteceu esta manhã e as publicações francesas indicam que demorou perto de duas horas.
Ao cabo de alguns dias, o presidente francês acaba de nomear, sem surpresas, François Bayrou como primeiro-ministro. Poderá contar, à priori, com os grupos do campo presidencial: os 36 deputados do MoDem; os 93 eleitos do Ensemble pour la République e os 34 do grupo Horizons. Por outro lado, permanece a incerteza sobre o posicionamento dos representantes eleitos de La Droite Républicaine, de Laurent Wauquiez, ou dos grupos de esquerda – socialistas, ambientalistas e comunistas – que participaram nas discussões com Emmanuel Macron.
Seja como for, e apesar do nome de Bayrou circular há uma semana como a personalidade mais bem posicionada para suceder a Michel Barnier, o certo é que os últimos instantes antes do anúncio da sua nomeação foram de aparente confusão. De facto, alguns jornais franceses noticiavam (em tempo real) que Bayrou teria acabado de adiantar a Macron que não estaria interessado em assumir o cargo de primeiro-ministro, ao mesmo tempo que outros (como o “Le Monde”) diziam que a reunião desta manhã entre as duas personagens tinha servido para Macron adiantar a Bayrou que não iria ser convidado para o lugar. No meio da confusão instalada, a sua nomeação tornou-se oficial.
Na quarta-feira, durante o último conselho de ministros do governo Barnier, Emmanuel Macron reconheceu “que não havia atualmente uma base mais ampla do que a que existe agora”. E que restava, portanto, saber se alguns estavam dispostos a alargar esta base ou a concordar com um princípio de não censura.
A primeira boa novidade para as hostes de Macron é que, pouco depois do anúncio da nomeação de François Bayrou para Matignon, o presidente do Rassemblement National anunciou que “não haveria censura à priori” contra o novo chefe de governo. “As nossas linhas vermelhas mantêm-se, não vão variar”, acrescentou, especificando: “não há reembolso de medicamentos, não enfraquecem a situação económica e social dos reformados”. Jordan Bardella, líder da extrema-direita, chamou a Macron um “presidente bunkerizado que escolheu um novo primeiro-ministro que deve levar em consideração a nova situação política”.
“Tudo isto parece um mau vaudeville”, criticou o secretário nacional dos ambientalistas em reação à nomeação de François Bayrou. Para Marine Tondelier, “quanto mais Emmanuel Macron perde terreno eleitoral, mais se apega aos que lhe são muito próximos e que encarnam o macronismo mais fiel”. “É incompreensível a nível eleitoral”, acrescentou, referindo-se aos resultados das últimas eleições legislativas, onde a Nova Frente Popular teve, enquanto coligação, o maior número de votos.
“A nomeação de François Bayrou é uma má notícia ”, disse, por seu turno Fabien Roussel. “Ele persistirá em querer impor uma política que falhou e foi sancionada?” , pergunta o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), que apela a “uma mudança de rumo político, ao respeito pelo Parlamento e pelo não pelo artigo 49.3º”. E pediu ao novo primeiro-ministro que “se comprometa a não aplicar o 49.3. É assim que não haverá censura” . Segundo o secretário nacional do PCF, é François Bayrou “quem tem essa responsabilidade”, defendendo que “a não aplicação do artigo 49.3 obrigar-nos-á a construir maiorias, compromissos”, o que conduzirá, espera, a “uma mudança de política”. “Nomear um primeiro-ministro que vem do seu campo envia um mau sinal”, lembra Fabien Roussel, que, no entanto, afirma que, tal como a extrema-direita, não censurará o seu governo à priori.
Os analistas afirmam que a extrema-esquerda de Jean-Luc Mélanchon deverá manter fortes reservas face ao nome de Bayron, mas isso não será impeditivo da sua aceitação pela Assembleia Nacional, se o resto da esquerda que antes das eleições formou a Nova Frente Popular não ‘tirar o tapete’ à proposta do presidente.
Numa mensagem nas redes sociais, ex-primeiro-ministro Gabriel Attal saudou a nomeação de François Bayrou. “No momento muito difícil que o nosso país atravessa, sei que tem qualidades para defender o interesse geral e construir a estabilidade essencial que os franceses esperam”, assegurou.
A prioridade imediata de Bayrou é, evidentemente, conseguir fazer passar um orçamento de Estado para 2025 – sabendo de ante-mão, como já disse Bardella, que algumas das decisões de Bernier não podem ser repetidas, sob pena de voltar a sofrer o mesmo tipo de derrota parlamentar que o seu antecessor.
Um mês depois das eleições legislativas, que dividiram a Assembleia Nacional em onze grupos, François Bayrou antecipou em meados de agosto, em declarações ao jornal “no Le Figaro”, que “o único caminho possível – e que prevalecerá – não é um governo de um lado, opondo-se ao outro lado, mas uma equipa unida para enfrentar os graves problemas do nosso país, do mundo e do planeta”.
Nascido em 1951, o novo primeiro-ministro é professor e conselheiro de figuras políticas desde 1979, tendo exercido vários mandatos eletivos, nomeadamente os de deputado (pelos Pirenéus-Atlânticos entre 1986 e 2012), presidente do conselho geral dos Pirenéus-Atlânticos de 1992 a 2001, deputado europeu de 1999 a 2002 e prefeito de Pau desde 2014.
Entre 1993 e 1997, sob três governos de direita (Balladur, Juppé I e Juppé II), foi ministro da Educação Nacional. Ao mesmo tempo, presidiu vários grupos centristas: o Centro dos Social-democratas (CDS) de 1994 a 1995 e a Força Democrática (FD) de 1995 a 1998, a União para a Democracia Francesa (UDF) de 1998 a 2007 e o Movimento Democrático (MoDem) desde 2007.
Foi três vezes candidato à presidência, nunca tendo chegado a passar à segunda volta. Nas presidenciais de 2017 desistiu de concorrer e apoiou Emmanuel Macron, que o nomeou então ministro de Estado e ministro da Justiça. Por pouco tempo: desistiu um mês depois, acossado por um caso mal explicado que comprometia os eurodeputados do seu partido. Mesmo assim, em 2020 foi nomeado Alto Comissário para o Planeamento por Emmanuel Macron, o que mostra que esteve sempre na órbita do círculo mais próximo do presidente.
Também por isso, o seu nome esteve sempre no horizonte dos comentadores na sequência das eleições de julho – que foram elas mesmas consequência das eleições parlamentares anteriores. Para muitos, foi com surpresa que Barnier acabou por ultrapassar a procedência de Bayrou – mas também isso sucedeu por pouco tempo, face à incapacidade do antigo comissário europeu em convencer o parlamento a deixar seguir o seu governo.
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