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François Bayrou: estabilidade é o grande desafio do novo primeiro-ministro de França

Esta segunda-feira, após receber Marine Le Pen e Jordan Bardella, líderes do partido mais votado, François Bayrou conversará com o antigo primeiro-ministro Gabriel Attal e com todos os outros partidos com assento na Assembleia Nacional, na tentativa de encontrar um compromisso para a governabilidade.
François Bayrou
Francois Bayrou, leader of French centrist party MoDem (Mouvement Democrate), arrives to attend the second plenary session of the Conseil National de la Refondation (CNR – National Council for Refoundation) at the Elysee Palace in Paris, France, December 12, 2022. REUTERS/Gonzalo Fuentes
16 Dezembro 2024, 07h00

O presidente francês Emmanuel Macron decidiu nomear o centrista François Bayrou para liderar o país. O anúncio foi feito pelo Palácio do Eliseu oito dias depois da queda do governo de Michel Barnier e desde sexta-feira que o novo primeiro-ministro marcou encontros com todos os partidos representados na Assembleia Nacional por ordem decrescente da sua dimensão parlamentar. Já falou com o Rassemblement National de Le Pen e Bardella e esta segunda-feira seguem-se os restantes.

A nomeação de Bayrou não foi uma surpresa – apesar de haver outros nomes igualmente ‘qualificados’ – e pode contar à partida com o apoio dos 36 deputados do MoDem, os 93 eleitos do Ensemble pour la République e os 34 do grupo Horizons. Vale a pena recordar que, pouco depois do anúncio da nomeação, o Rassemblement National anunciou que “não haveria censura à priori” contra o novo chefe de governo. Mas deixou claro que “as nossas linhas vermelhas mantêm-se, não vão variar”, especificando: “não há reembolso de medicamentos, não enfraquecem a situação económica e social dos reformados”. Jordan Bardella, líder da extrema-direita, chamou a Macron um “presidente bunkerizado que escolheu um novo primeiro-ministro que deve levar em consideração a nova situação política”.

“Tudo isto parece um mau vaudeville”, criticou o secretário nacional dos ambientalistas em reação à nomeação de François Bayrou. Para Marine Tondelier, “quanto mais Emmanuel Macron perde terreno eleitoral, mais se apega aos que lhe são muito próximos e que encarnam o macronismo mais fiel”. “É incompreensível a nível eleitoral”, acrescentou, referindo-se aos resultados das últimas eleições legislativas, onde a Nova Frente Popular teve, enquanto coligação, o maior número de votos.

“A nomeação de François Bayrou é uma má notícia”, disse, por seu turno Fabien Roussel. “Ele persistirá em querer impor uma política que falhou e foi sancionada?”, pergunta o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), que apela a “uma mudança de rumo político, ao respeito pelo Parlamento e pelo não pelo artigo 49.3º”. E pediu ao novo primeiro-ministro que “se comprometa a não aplicar o 49.3. É assim que não haverá censura” prévia. Segundo o secretário nacional do PCF, é François Bayrou “quem tem essa responsabilidade”, defendendo que “a não aplicação do artigo 49.3 obrigar-nos-á a construir maiorias, compromissos”, o que conduzirá, espera, a “uma mudança de política”. “Nomear um primeiro-ministro que vem do seu campo envia um mau sinal”, lembra Fabien Roussel, que, no entanto, afirma que, tal como a extrema-direita, não censurará o seu governo à priori.

A prioridade imediata de Bayrou é, evidentemente, e uma vez conseguir alguma ‘paz governamental’, fazer passar um orçamento de Estado para 2025 – sabendo de antemão, como já disse Bardella, que algumas das decisões de Barnier não podem ser repetidas, sob pena de voltar a sofrer o mesmo tipo de derrota parlamentar que o seu antecessor.

Um mês depois das eleições legislativas, que dividiram a Assembleia Nacional em onze grupos, François Bayrou antecipou em meados de agosto, em declarações ao jornal “no Le Figaro”, que “o único caminho possível – e que prevalecerá – não é um governo de um lado, opondo-se ao outro lado, mas uma equipa unida para enfrentar os graves problemas do nosso país, do mundo e do planeta”.

Quem é François Bayrou?

Nascido em 1951, o novo primeiro-ministro é professor e conselheiro de figuras políticas desde 1979, tendo exercido vários mandatos eletivos, nomeadamente os de deputado (pelos Pirenéus-Atlânticos entre 1986 e 2012), presidente do conselho geral dos Pirenéus-Atlânticos de 1992 a 2001, deputado europeu de 1999 a 2002 e prefeito de Pau desde 2014.

Entre 1993 e 1997, sob três governos de direita (Balladur, Juppé I e Juppé II), foi ministro da Educação Nacional. Ao mesmo tempo, presidiu vários grupos centristas: o Centro dos Social-democratas (CDS) de 1994 a 1995 e a Força Democrática (FD) de 1995 a 1998, a União para a Democracia Francesa (UDF) de 1998 a 2007 e o Movimento Democrático (MoDem) desde 2007.

Foi três vezes candidato à presidência, nunca tendo chegado a passar à segunda volta. Nas presidenciais de 2017 desistiu de concorrer e apoiou Emmanuel Macron, que o nomeou então ministro de Estado e ministro da Justiça. Por pouco tempo: desistiu um mês depois, acossado por um caso mal explicado que comprometia os eurodeputados do seu partido. Mesmo assim, em 2020 foi nomeado Alto Comissário para o Planeamento por Emmanuel Macron, o que mostra que esteve sempre na órbita do círculo mais próximo do presidente.

Também por isso, o seu nome esteve sempre no horizonte dos comentadores na sequência das eleições de julho – que foram elas mesmas consequência das eleições parlamentares anteriores. Para muitos, foi com surpresa que Barnier acabou por ultrapassar a procedência de Bayrou – mas também isso sucedeu por pouco tempo, face à incapacidade do antigo comissário europeu em convencer o parlamento a deixar seguir o seu governo.

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