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Friedrich Merz: conservador nos costumes, liberal na economia

O provável próximo chanceler da Alemanha é um profundo defensor da comunhão de agendas entre a Alemanha e os Estados Unidos (mas parece desiludido com Trump), mas também da União Europeia. Tem pouco apreço por Angela Merkel e dois aviões privados.
Lisi Niesner/reuters
24 Fevereiro 2025, 07h00

O mais que provável novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, nascido em Brilon em 1955, é um antigo juiz e advogado de empresas que dessa função desistiu em 1989 para se dedicar à política, apesar de o seu tirocínio nessas andanças ter sido dado em 1972, quando se juntou à União Jovem – organização juvenil conjunta entre a CDU e a sua ‘irmã’ bávara, a CSU. Logo em 1989, foi eleito para o Parlamento Europeu. Ali, cumpriu apenas um mandato, depois do qual optou por regressar à política interna como deputado no Bundestag (Parlamento). Assumiu a especialização em política financeira, o que lhe valeu precioso destaque, uma vez que as questões económicas são relevantes para os alemães.

 

Quem é Friedrich Merz

Em 2000, foi eleito presidente do grupo parlamentar CDU/CSU, exatamente no mesmo ano em que Angela Merkel foi eleita presidente da CDU – mas Merz era muito mais um opositor que um apoiador daquela que viria a ser uma das mais importantes chanceleres da Alemanha do pós-guerra. É desde essa altura, há duas longas décadas, que Merz ‘sonha’ com a conquista do poder interno do partido democrata-cristão. Uma espécie de segunda via que não foi bem-sucedida quando Merkel desistiu (em 2018) da presidência do partido (foi substituída por Annegret Kramp-Karrenbauer, que desistiu em 2020 porque o seu partido quebrou, na Turíngia, o ‘cordão sanitário’ aos extremistas de direita da Alternativa para a Alemanha, AfD). A também antiga ministra da Defesa foi substituída por Armin Laschet, que não resistiu à derrota eleitoral de 2021 face ao ainda chanceler social-democrata Olaf Scholz. Dito de outra forma: Merz tem uma paciência muito acima da média – mas não pode ser ‘acusado’ de ser um ‘seguidista’ de Merkel, com quem manteve uma relação disfarçadamente tempestuosa – a ponto de deixar a política a tempo inteiro e regressar à advocacia. Nessa sua nova vida, avulta o facto de ter sido conselheiro na BlackRock Germany, um daqueles fundos a quem alguém maldosamente passou a chamar ‘abutres’.

Só regressaria ao Parlamento em 2021, precisamente quando o seu partido voltou, uns 16 anos depois, à condição de oposição. E dessa vez conseguiu: foi eleito presidente do partido em dezembro de 2021.

Definindo-se a si próprio como anti-comunista, conservador nos costumes e liberal na economia, Merz foi presidente da associação Atlantik-Brücke (Ponte Atlântica), uma organização privada fundada em Hamburgo em 1952, cujo objetivo é promover o entendimento político entre a Alemanha e os Estados Unidos (e a NATO) e que, através de um programa que denominou ‘Jovens Líderes’, pretende trazer para a ‘causa’ oficiais militares, jornalistas e estudantes de elevado potencial. A própria Angela Merkel e o defunto Henry Kissinger fazem parte da lista de membros. Mas não foi esta ligação que impediu Merz de ser muito crítico da posição do presidente norte-americano, Donald Trump, relativamente à Ucrânia e ao seu presidente Volodymyr Zelensky. Para todos os efeitos, Merz considera-se profundamente comprometido com o projeto europeu, defendendo uma União ainda mais federalizada e um exército para a Europa.

Refira-se ainda que Merz – que, quando nasceu, foi viver para um palacete que era dos seus pais – é multimilionário e piloto, tendo dois aviões privados.

 

O que defende: asilo, migração e integração

Merz diz que vê a limitação da migração irregular como a tarefa mais importante após as eleições deste domingo – e culpa a política de fronteiras abertas de Angela Merkel como um ‘pecado’ que nunca devia ter acontecido. É de opinião que a Alemanha ainda pode receber entre 60 a 100 mil imigrantes sem atingir o grau de saturação.

O futuro chanceler é um liberal em termos de políticas sociais: quer acabar com o subsídio de desemprego e substituir o edifício social alemão (que Bismarck laboriosamente foi construindo desde o século XIX) por uma coisa a que chamou Nova Segurança Básica e que os sindicatos (ou alguns deles) já caracterizaram como “desumano e inconstitucional”.

Quanto ao mais, as propostas de Merz para a frente económica não inovam – os germânicos são tidos como pouco sensíveis à inovação política – mas servem-se de todo o manancial liberal disponível: promete reduzir os impostos corporativos de 29,9% para 25%; eliminar a polémica Lei da Cadeia de Fornecimento (que tem o objetivo de proteger os direitos humanos em cadeias de fornecimento internacionais); reduzir os impostos sobre os rendimentos dos trabalhadores de médios e baixos recursos – mas ao mesmo tempo quer modernizar as leis do trabalho para as tornar mais flexíveis; reverter alguma da regulamentação focada nas alterações climáticas (incluindo a abolição da Lei de Energia para Edifícios, que obriga os proprietários a substituírem o aquecimento a óleo e gás); fazer regressar a energia nuclear (a que a sua antecessora Angela Merkel colocou um fim) ao quadro das opções federais, por via da aposta em reatores modulares pequenos; e construir centrais elétricas.

Já na frente europeia, o líder democrata-cristão continua, para já, a ser contrário à criação de mecanismos comuns de financiamento da despesa em defesa e segurança e parece pouco interessado em colocar a ‘tesouraria alemã’ ao serviço de países que não cumpram as suas obrigações macro em termos de défices e dívidas.

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