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Fundo que ficou com ativos da Promovalor está a negociar mais 2 ou 3 anos para pagar ao Novo Banco

“O fundo detido pelo Novo Banco que devia pagar 60 milhões em 2022 ao Novo Banco está a negociar um prolongamento de mais dois ou três anos por causa da pandemia”, revelou Luís Filipe Vieira.
  • O presidente do Conselho de Administração da Promovalor, Luís Filipe Vieira, fala perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, na Assembleia da República, em Lisboa, 10 de maio de 2021. TIAGO PETINGA/LUSA
10 Maio 2021, 19h18

O fundo que ficou com ativos da Promovalor está a negociar mais dois ou três anos para pagar ao Novo Banco, revelou na fase das perguntas e respostas, aos deputados.

“O fundo detido pelo Novo Banco que devia pagar 60 milhões em 2022 ao Novo Banco está a negociar um prolongamento de mais dois ou três anos por causa da pandemia”, revelou Luís Filipe Vieira.

O plano de negócios que implica o desenvolvimento dos ativos do fundo que ficou com património imobiliário de Luís Filipe Vieira deveria reembolsar o banco dos empréstimos concedidos, de acordo com a reestruturação da dívida feita em 2017.

Entre agosto de 2014 e 2017, com a constituição do FIAE (Fundo de Investimento Alternativo Especializado) da então Capital Criativo, “nós reduzimos à volta de cinco milhões de euros mas depois pedimos mais um financiamento para acabar a Quinta do Aqueduto”.  O financiamento aumentou a dívida para 387 milhões.

Sobre as VMOC, disse que em 2011 tinham uns ativos que queriam desenvolver faseadamente e tivemos a opção de os desenvolver mais rapidamente e o BES fez esse empréstimo obrigacionista de 160 milhões de euros.

“Foi pedido pelo BES”, frisou Luís Filipe Vieira. O deputado voltou à carga dizendo que entretanto foi registada totalmente a imparidade deste valor pelo Novo Banco.

“Isso imparidades não fale comigo que eu não sei o que é isso das imparidades”, disse o presidente do Benfica.

Na fase das perguntas e respostas Hugo Carneiro, deputado do PSD, confrontou o presidente da Promovalor com uma exposição total do grupo e outras empresas, ascendeu a 760 milhões de euros.

“Tivemos um projecto chamado Verde Lago, com um consórcio bancário (BES, CGD e BCP) de 270 milhões de euros”, revelou acrescentando que em 2014 “o máximo que atingimos de dívida ao Novo Banco foi 382 milhões de euros”.

“No Novo Banco tenho 387,284 milhões”, disse o Luís Filipe Vieira, a que acresce o empréstimo obrigacionista (160 milhões). O deputado do PSD confrontou o presidente do Benfica com uma exposição total a 31 de dezembro de 2014, segundo a EY, de 487 milhões de euros.

A relação com BES e com o seu presidente Ricardo Salgado era “completamente transparente”, garantiu o empresário, que lembra que antes da construção do novo estádio da Luz a relação com o BES era com Bernardo Espírito Santo, com Vítor Madureira ou com o administrador António Souto.

“Houve uma aproximação mais de perto quando foi o financiamento do estádio da Luz”, pelo que antes os financiamentos “que poderiam passar pelo Banco Espírito Santo eram os nossos operacionais, era o nosso diretor financeiro ou era com o Bernardo Espírito Santo ou com o António Souto que eram discutidos, e com Vítor Madureira, e depois era aprovado em conselho”, respondeu.

“A relação especial que eu tinha com o grupo BES era uma relação completamente transparente, já vinha do passado, de perto deles, mas curiosamente não era com ele [Ricardo Salgado] que eu lidava”, disse hoje o também presidente do Benfica no parlamento.

O presidente do Benfica está a ser ouvido pelos deputados na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução

Questionado pelo PSD se era hábito reunir com o antigo CEO do BES, Ricardo Salgado, “para discutir os seus negócios particulares e o financiamento às suas empresas”, o empresário admitiu que  “se me perguntar se eu, por vezes, num jantar ou num almoço em que fosse convidado para estar, se falava como é que estavam os negócios, como é que iam ou não iam, logicamente que falava com ele”. “Mas isso não tem nada a ver com a parte da empresa e como é que ela funcionava”, referiu o também presidente do Benfica.

Hugo Carneiro, deputado do PSD, questionou ainda o presidente da Promovalor com a venda de um fundo imobiliário à BES Vida, em 2012.

Luís Filipe Vieira diz que essa operação terá resultado de dificuldades criadas pela Troika a propósito do empréstimo obrigacionista de 160 milhões da Promovalor. “O banco chamou-me para adquirir ativos. Fiz mal, mas o dinheiro era deles e não podia dizer não. Só os terrenos da Matinha (terrenos na antiga Expo 98) pagavam toda a dívida. Foi o maior erro de gestão que fiz”. A operação “teve uma pequena rentabilidade”. “Se não tenho vendido hoje o melhor património de Lisboa era meu (meu com dinheiro do banco, vamos ser claros)”, disse o presidente do Benfica.

A venda foi feita por mais de 147 milhões de euros e reduziu a exposição ao BES acima dos 100 milhões, mas por pouco tempo, porque entretanto a Promovalor já tinha 160 milhões dos VMOC  (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis). Luís Filipe Vieira sugere que se coloquem as perguntas mais técnicas por escrito.

O deputado Hugo Carneiro confrontou o presidente da Promovalor com o litigio no hotel no Recife com a construtora (Odebrecht) que reclamava créditos que tinham privilégios. Luís Filipe Vieira diz que a origem do conflito judicial, entretanto resolvido pelo fundo, tinha a ver com o preço da empreitada.

O social-democrata confrontou o empresário com a ligação à família Brennand no Brasil.  Luís Filipe Vieira garante que a Promovalor nunca teve ligação à investigação criminal no Brasil à construtora Odebrecht — envolvida caso Lava Jato — com que teve uma parceria para vários projetos. O mais famoso é o hotel de luxo na reserva do Paiva construído em terrenos da família Brennand.

Luís Filipe Vieira remete o tema do Brasil para o sócio e diz que o conflito que existia com a Odebrecht que construiu o hotel foram resolvidos e que  passou pela entrega de bens no Brasil.

“Isto tudo é um trauma para mim, nem falo com o meu filho”, disse sobre as dívidas da Promovalor.

A deputada do Bloco de Esquerda chamou ao inquérito as VMOC e Luís Filipe Vieira disse que a dívida (160 milhões) vai ser convertida em capital. “Se quiser nem as pago”, disse o presidente do Benfica.

“Os 160 milhões de euros são pagos pela reestruturação que nós fizemos agora”, disse ainda o presidente da Promovalor.

Em resposta a Mariana Mortágua diz “tem de esperar por 10 ou 15 anos pelo desenvolvimento do projeto, que é longo, para saber se paguei ou não paguei” disse acrescentando que “não fui que fiz vendas rápidas”.

Não está vencida a dívida das VMOC (emitida em 2011). As VMOCs vencem em agosto deste ano. “Está reestruturada”, disse presidente do Benfica.

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