O Monte dei Paschi lançou na semana passada uma oferta pública de aquisição (OPA), no valor 13,3 mil milhões de euros, sobre o maior concorrente doméstico, o Mediobanca. Isto depois de a concentração bancária europeia ter voltado à ribalta em maio do ano passado com a OPA espanhola do BBVA ao Sabadell.
Em setembro do ano passado foi a vez do UniCredit, liderado por Andrea Orcell, ter anunciado a aquisição de uma participação inicial de 9% no Commerzbank que tem vindo a ser aumentada com vista a controlar o banco alemão.
Sente-se um clima no ar a fusões na banca e depois do relatório Draghi que apontou a baixa dimensão das empresas europeias (incluindo bancos) face aos Estados Unidos e China, há uma predisposição das autoridades europeias em fomentar as fusões bancárias.
O Banco Central Europeu e a União Europeia têm mostrado abertura para a criação de bancos maiores. As fusões entre bancos permitem gerar sinergias de custos e de receitas, através de ganhos de quota de mercado.
“Acho que as fusões bancárias são inevitáveis e que devem acompanhar a construção do espaço único europeu”, revela ao Jornal Económico uma fonte com larga experiência em banca a nível internacional.
“Ainda falta ainda o mecanismo de garantia mútua dos depósitos na Europa, o que é um entrave (mas já temos o regulador único e o fundo de resolução europeu), e a Europa precisa de bancos grandes no espaço europeu (como existem nos EUA) que possam competir no mercado mundial”, refere um banqueiro ao JE.
“Estamos a ver as fusões europeias a começar, dada a rentabilidade dos bancos ter melhorado com a subida das taxas de juros, primeiro domésticas (BBVA/Sabadell, Unicredito/Banco BPM, Unicredito/Commerzbank – através do HypoVereinsbank, filial do Unicredito na Alemanha), mas depois virá a fase cross-border”, refere a mesma fonte que tem vasta experiência na banca.
Manuel Requicha Ferreira, sócio e co-coordenador pela área de Finanças, Banca e Mercado de Capitais da Cuatrecasas, na conferência Banca do Futuro, do Jornal de Negócios, no ano passado, destacou que o JP Morgan, o maior banco norte-americano em termos de capitalização bolsista, vale mais do que os 10 maiores bancos europeus. “O segundo e o terceiro maiores bancos norte-americanos, Bank of America e Wells Fargo, são maiores, em termos de capitalização bolsista, do que qualquer banco europeu”, referiu.
Tudo isto para dizer que “o setor bancário europeu tem de ganhar dimensão para responder aos desafios do futuro, como a digitalização e o financiamento do desenvolvimento europeu, conforme defende o Relatório Draghi”.
O ano de 2025 promete ser o ano das fusões na banca na Europa e também em Portugal, sendo aqui o trigger a venda do Novobanco pela Lone Star. A Lone Star prepara-se para pôr em bolsa 30% do Novobanco, mas pode haver quem queira comprar o banco diretamente.
OPA espanhola do BBVA ao Sabadell
Em 9 de maio de 2024, e depois do “não” do banco Sabadell à proposta de fusão apresentada pelo BBVA, Espanha assistiu à primeira oferta pública de aquisição (OPA) hostil – uma operação que não é previamente conhecida ou bem recebida pela sociedade visada – no setor bancário desde os anos 1980.
A operação está a evoluir lentamente. O Banco Bilbao y Viscaya Argentaria (BBVA) alterou no dia 9 deste mês as condições mínimas para considerar bem sucedida a OPA lançada sobre o Banco Sabadell, segundo revelou o banco basco em comunicado ao regulador do mercado de capitais espanhol.
O BBVA define agora como limite para o sucesso da OPA a aquisição de 50,01% dos direitos de voto no banco catalão, em vez dos 50,01% do capital. Ou seja, exclui as ações próprias detidas pelo Sabadell. Desta forma, o BBVA terá de adquirir menos 40 milhões de ações do Sabadell do que antes para considerar a OPA bem sucedida.
Adicionalmente, o banco liderado por Carlos Torres revelou que irá proceder à amortização das ações próprias do Sabadell, que totalizam 78.770.535 títulos, na primeira assembleia-geral de acionistas do banco catalão após a conclusão da OPA.
Mas o Sabadell não se derrota e aprovou este mês de janeiro a mudança de sede para a Catalunha em plena oferta pública de aquisição do BBVA. O Banco Sabadell aprovou na reunião do conselho de administração do passado dia 22 que irá restabelecer a sua sede na cidade de onde adotou o seu nome, Sabadell, desde a sua fundação em 1881.
O banco vai assim transferir a sua sede social de Alicante para a Catalunha, como comunicou à Comissão Nacional do Mercado de Valores Mobiliários (CNMV).
A transferência “é um ponto de não retorno”, disseram as fontes aos jornais espanhóis. O regresso à Catalunha terá sido uma decisão pessoal do presidente Josep Oliu, com quem o CEO César González-Bueno está totalmente alinhado, segundo os media do país vizinho. Os jornais espanhóis analisam a mudança de sede do Sabadell como um movimento estratégico para evitar o sucesso da OPA do BBVA.
Regressar à cidade de onde retirou o seu nome pode garantir-lhe novo apoio político que o ajudará a travar a tentativa de aquisição do BBVA. Tanto o Governo como a Generalitat manifestaram a sua oposição à OPA imediatamente após o primeiro anúncio em Maio de 2024.
O presidente, do BBVA Carlos Torres, reagiu prometendo ao Governo espanhol que o seu banco manterá uma sede operacional conjunta na Catalunha se a OPA avançar e o Executivo autorizar a fusão subsequente de ambos os bancos.
A ter sucesso a OPA, a sede do Sabadell voltaria assim a abandonar a Catalunha para se instalar em Bilbao — onde se encontra oficialmente a sede do BBVA.
A OPA está atualmente a ser analisada pela Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC) ao nível mais rigoroso. Nesta fase, os terceiros que possam ser afetados pela OPA poderão recorrer à Autoridade da Concorrência e formular exigências que comprometam o futuro da operação – incluindo o Governo, que tem a última palavra e debaterá a sua posição em Conselho de Ministros, segundo os jornais espanhóis.
Mas o banco catalão Sabadell não se ficou pela mudança de sede, pois na semana passada anunciou um dividendo de cerca de 500 milhões de euros, segundo avançou o jornal espanhol Cinco Días. Este dividendo tem o objetivo de atrapalhar a oferta de aquisição pública do BBVA.
No entanto, para que o banco possa distribuir este valor aos seus acionistas é necessário submeter a decisão à assembleia de acionistas e ter a aprovação do Banco Central Europeu (BCE). Esta medida obrigará a que o BBVA aumente a sua oferta sobre o banco e melhore as condições da OPA.
Relembre-se que a oferta do BBVA foi anunciada a 9 de maio de 2024, no valor de 12 mil milhões de euros. Inicialmente a OPA consistia numa oferta de ações do BBVA aos acionistas do Sabadell com base na seguinte equação, uma ação do BBVA para cada 4,83 ações do Sabadell.
A OPA hostil acontece depois do BBVA ter proposto uma fusão entre os bancos, em abril de 2024, que foi recusada pelo Sabadell. Os dois bancos já tinham tentado uma fusão em 2020, no entanto o projeto fracassou.
Se a OPA tiver sucesso o BBVA propõe-se a criar com o Sabadell um banco com quase um bilião de ativos, o que é 10 vezes superior ao ativo líquido consolidado da Caixa Geral de Depósitos.
Unicredit e Commerzbank
O UniCredit está a aguardar a aprovação do Banco Central Europeu para a participação de 28% que adquiriu no banco alemão, recorrendo maioritariamente a derivados.
Recorde-se que em dezembro, o Unicredit voltou a aumentar a sua posição no Commerzbank e já detém 28% da instituição financeira alemã. O movimento foi anunciado pelo banco italiano liderado por Andrea Orcel, com o reforço da posição a ser feito através da assinatura de contratos de derivados com as ações do banco alemão.
O banco alemão reagiu. “A abordagem de construção e expansão unilateral de uma participação significativa só pode ser considerada hostil”, afirmou o Commerzbank num comunicado.
O CEO do UniCredit, Andrea Orcel, disse estar surpreendido com a reação negativa na Alemanha sobre os seus esforços para adquirir o Commerzbank.
Em declarações à CNBC em novembro, poucos meses após o seu surpreendente aumento de participação no Commerzbank, Andrea Orcel disse que “vamos pôr as coisas desta forma: não estaríamos aqui se não tivéssemos sido convidados a comprar esta participação. E tudo começou de uma forma que achámos construtiva”.
A participação do Unicredit no Commerzbank consiste, agora, em 9,5% de propriedade direta dos títulos do banco e cerca de 18,5% em instrumentos financeiros, com o banco italiano a querer reforçar ainda mais a sua posição.
De acordo com a instituição financeira, o processo regulatório para conseguir a permissão para deter até 29,9% do Commerzbank já foi iniciado e, caso seja aprovado, o banco italiano vai poder converter a sua participação através de instrumentos financeiros em participação direta.
O UniCredit anunciou uma participação inicial de 9% no Commerzbank em setembro, irritando o governo alemão.
Falando em Davos na terça-feira, Andrea Orcel disse que a reação do Governo alemão foi uma surpresa, mas que ele esperava poder sentar-se com o futuro Governo formado após as eleições de 23 de fevereiro para discutir uma ligação do Commerzbank com o HypoVereinsbank (HVB), o banco alemão que o UniCredit comprou em 2005.
“Há mais de 20 anos que o HVB e o Commerzbank conversam entre si, em ambas as direções, porque é um daqueles negócios que se quer sempre fazer, que faz muito sentido, mas que, por alguma razão, acaba sempre por descarrilar”, disse Andrea Orcel à Bloomberg TV.
“Nos últimos dois anos e meio, provavelmente tivemos, e eu provavelmente tive, dezenas reuniões com a liderança do governo e com a liderança do Commerzbank”, confessou o banqueiro considerado um especialista em fusões e aquisições.
Desafiado a responder aos comentários de Andréa Orcel, o Commerzbank disse que quaisquer negociações só poderiam ser baseadas numa proposta específica.
“Temos manifestado constantemente a nossa vontade de participar em conversações e analisaríamos uma proposta do UniCredit no interesse de todas as partes interessadas. No entanto, ainda não recebemos qualquer proposta”, refere o banco alemão, citado pela imprensa internacional.
O Commerzbank tem defendido a sua independência, alertando sobre possíveis perdas significativas de empregos em caso de fusão. A Alemanha promete uma forte resistência ao avanço do Unicredit sobre o Commerzbank.
“A abordagem do UniCredit antagonizou desnecessariamente muitas partes interessadas, e a administração do Commerzbank deve garantir que continua a proteger os interesses dos acionistas e da empresa da melhor forma possível”, segundo o banco alemão.
Na quarta-feira, segundo a Reuters, Andrea Orcell disse ao jornal alemão FAZ que esperava alguma clareza até ao final do ano sobre a estratégia do UniCredit na Alemanha, depois de se ter comprometido com o futuro governo.
Disse ainda que qualquer oferta pública de aquisição deve esperar por causa das regras alemãs que exigem que a oferta seja feita em dinheiro, com um preço mínimo, se ocorrer no prazo de seis meses após ultrapassar o limite acionista de 5%.
O atual ministro das Finanças alemão criticou a oferta que considera “demasiado agressiva” do UniCredit pelo Commerzbank. “Uma OPA muito agressiva e muito opaca” foram as palavras do ministro das Finanças alemão, Jörg Kukies, que enfatizou que as aquisições hostis geralmente não funcionam.
“No governo, precisamos de proteger a segurança e a estabilidade de um setor bancário sistémico”, disse Kukies à CNBC na quinta-feira, no Fórum Económico Mundial, em Davos. “Aquisições hostis em bancos sistémicos não tendem a ser bem-sucedidas.”
As aquisições hostis não são uma coisa boa nos bancos sistémicos. “Portanto, tudo isto tem a ver com os detalhes deste caso, não é uma declaração geral de que a Alemanha não está aberta a negócios com investidores globais”, disse o Ministro das Finanças alemão, citado pelos meios de comunicação internacionais.
Uma cisão na política interna em dezembro e as próximas eleições poderão impedir a administração alemã de acompanhar de perto a transação e Andrea Orcel aposta agora nisso.
Armado com um sólido rácio CET1 de 16,1% no terceiro trimestre, o banco italiano está a procurar obter permissão do Banco Central Europeu, que supervisiona os maiores bancos da zona euro, para aumentar a sua participação no Commerzbank para 29,99%.
O ritmo abrupto e acelerado da procura do UniCredit gerou especulações no mercado de que o CEO Andrea Orcel — um veterano negociador de fusões e aquisições do Merrill Lynch — está, em última análise, a visar a consolidação internacional.
A iniciativa do UniCredit, que já está presente na Alemanha através do HypoVereinsbank, teve até agora uma recepção fria por parte do governo fragmentado de Berlim, com o chanceler cessante, Olaf Scholz, a criticar que “ataques hostis e aquisições hostis não são uma coisa boa para os bancos”. Mas os analistas descrevem a consolidação bancária na região — e na Alemanha em particular — como “há muito esperada”.
Unicredit lançou OPA sobre o italiano BPM
O Unicredit lançou simultaneamente uma ambiciosa oferta formal de aquisição do seu homólogo italiano Banco BPM no final de novembro. Uma operação integralmente por troca de ações avaliada em 10 mil milhões de euros.
O banco liderado por Andrea Orcel já tinha anteriormente preparado uma oferta sobre o Banco BPM, nascido em 2017 da fusão do Banco Popolare com a Banca Popolare di Milano, o terceiro maior banco de retalho e de empresas de Itália, em termos de ativos.
Numa altura em que o Unicredit está a tentar comprar o alemão Commerzbank a operação surpreendeu o mercado.
Ao contrário de Portugal, a banca italiana está a viver um momento agitado, com o Banco BPM a ter comprado este mês 5% no Monte dei Paschi, naquilo que é visto como um primeiro passo para uma eventual fusão com o banco mais antigo do mundo e que foi alvo de um resgate pelo Estado italiano.
Também em novembro, o Banco BPM lançou uma oferta de 1.600 milhões de euros para ficar com 100% da gestora de ativos Anima Holding.
Mas o Unicredit enfrenta também um obstáculo à compra do Banco BPM (BAMI), pois em dezembro, o Governo de Itália, que tem como primeira-ministra Giorgia Meloni, disse estar pronto para usar os seus poderes de veto na Oferta Pública de Aquisição (OPA) do UniCredit ao banco italiano BPM de 10 mil milhões de euros. O Governo italiano considera que esta operação vai contra o interesse nacional, como adianta a agência noticiosa Reuters.
A Reuters salienta que esta intenção do UniCredit colocaria em causa os planos que o Governo italiano tem relativamente ao setor bancário. A Reuters revela que o plano passa por se formar um terceiro player forte no setor bancário que envolveria entidades como o Intesa Sanpaolo, UniCredit, BPM, Monte dei Paschi di Siena.
Monte dei Paschi e Mediobanca
O Monte dei Paschi lançou na semana passada uma oferta pública de aquisição (OPA) no valor 13,3 mil milhões de euros sobre o maior concorrente doméstico, o Mediobanca, que tem o português António Horta Osório como consultor sénior.
O resgatado Monte dei Paschi oferece 23 das suas ações por 10 do banco alvo de aquisição, o que traduz uma avaliação implícita das ações do Mediobanca em aproximadamente 15.992 euros cada, ou seja, incorpora um prémio de 5% sobre o preço de fecho de 23 de janeiro.
A proposta terá de ser aprovada em assembleia de acionistas, que decorre a 17 de abril.
As ações do Monte dei Paschi valiam 8,7 mil milhões de euros no fecho de 23 de janeiro, enquanto a capitalização bolsista do Mediobanca era de 12,3 mil milhões de euros, de acordo com os dados da FactSet.
De acordo com os termos da oferta, o Monte dei Paschi estima benefícios antes de impostos de 700 milhões de euros por ano com a transação, o que o ajudaria a aproveitar os créditos fiscais de prejuízos passados e a acrescentar 500 milhões por ano durante os próximos seis anos.
O banco, que pretende retirar o Mediobanca de bolsa, espera concluir a transação até ao final de setembro, disse o CEO do Monte dei Paschi, Luigi Lovaglio, num briefing.
“O Mediobanca é a melhor opção no melhor momento para uma poderosa combinação de negócios”, acrescentou. “Aproveitaremos a excelência dos dois cérebros, preservando o seu posicionamento único. O novo campeão italiano será resiliente com [uma] combinação de negócios diversificada”, defende o CEO do Monte dei Paschi (MPS).
Numa nota desta sexta-feira, os analistas da KBW, Hugo Cruz e Ben Maher, citados pela CNBC, referiram que a proposta tem um potencial de sinergia e hipóteses de sucesso “limitados”.
Numa carta enviada aos trabalhadores este sábado e a que a Reuters teve acesso, o presidente executivo do Mediobanca, Alberto Nagel, afirmou que a oferta do MPS não tinha sido acordada com o banco e que o conselho de administração iria expressar os seus pontos de vista, com o objetivo de proteger os interesses de todas as partes interessadas, em especial os trabalhadores.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com