A Galp defende uma atribuição inteligente da rede elétrica em Sines. Os projetos contemplados com a rede elétrica disponível devem fazer sentido numa lógica de transição energética, defende o CEO da energética.
“Só para substituir a unidade em Sines, onde se faz o hidrogénio hoje a partir de gás natural, precisamos de 600 megawatts (MW,) seis vezes mais do que o que estamos agora a construir”, começou por dizer Filipe Silva. “Já nos foi concedida a capacidade para avançar com os primeiros 100 MW de eletrólise”, afirmou, referindo ao investimento de 250 milhões de euros anunciado na passada semana de construção de um eletrolisador com capacidade de 100 MW para substituir o atual hidrogénio cinzento consumido na refinaria por hidrogénio verde.
Mas o objetivo da companhia é a expansão do projeto. “A principal limitação vai ser a capacidade destes eletrões todos chegarem a Sines. A Galp precisa de capacidade de interconexão à rede e à subestação de Sines. Logo que tivermos acesso a essa rede podemos tomar decisões de escalar os primeiros 100 MW para 200/300/400 ou 500 MW”, afirmou em declarações aos jornalistas à margem da inauguração da primeira central solar da empresa em Portugal, localizada em Alcoutim, Faro.
“É uma questão de prioridades. Sines tinha uma grande central a carvão da EDP, mais de 1.200 MW ficaram disponíveis, vai ser agora necessária alocar essa capacidade para os projetos que tiverem maior impacto no planeta. Há muita gente a querer fazer projetos em Sines, mas seria necessário priorizar. A interconexão é um bem escasso, vai ter de ser priorizada a alocação para os projetos que fazem maior diferença nos projetos em termos de menos emissões para a atmosfera”, acrescentou o gestor na sexta-feira, apontando que a decisão sobre a atribuição dos projetos está nas mãos do Governo.
O Jornal Económico questionou o ministério do Ambiente sobre qual a potência ainda disponível em Sines, mas continua a aguardar respostas.
Além dos 100 MW já destinados à Galp, vários projetos para a zona já submeteram os seus pedidos de avaliação de impacte ambiental: central fotovoltaica do Cercal (223 MVA), central Santiago do Cacém (1.200 MWp) e central eólica Morgavel (49 MW), ascendendo a quase 1,5 gigawatts.
Além do mais, existem projetos para o eólico offshore na calha para o mar ao largo de Sines: 1,5 gigawatts do total de 10 gigawatts previstos para Portugal. Destes, 500 megawatts poderão entrar já no primeiro leilão que deverá ter lugar ainda este ano.
Mas há mais projetos na calha para aquela região particularmente para a fileira do hidrogénio verde que poderão precisar de uma ligação à rede elétrica nacional. Sines tem cinco projetos previstos de hidrogénio verde: o projeto da Galp para passar a usar hidrogénio verde na sua refinaria (0s 100 MW já referidos); o projeto GreenH2Atlantic, um consórcio que conta com a EDP e a Galp a bordo, que deverá ser construído no local da antiga central a carvão da EDP (eletrolisador de 100 MW) ou o projeto H2 Sines da Engie/Shell, (eletrolisador de 100 MW) com o objetivo de exportar hidrogénio para os Países Baixos através de navios para ser consumido na indústria local
Também o projeto MadoquaPower2X, que prevê um eletrolisador de 500 megawatts, para produzir hidrogénio verde e amónia verde, um consórcio formado pela Madoqua Renewables, Power2X e Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) e o projeto da NGreen Hydrogen Sines que planeia construir uma fábrica de E-metanol, que conta com um eletrolisador de 330 MW. É verdade que muitos destes projetos preveem as suas próprias centrais eólicas e solares para produzir o hidrogénio verde, mas resta saber quantos irão necessitar de ir buscar energia à rede e em que quantidades. Total para projetos de hidrogénio verde: 1,3 gigawatts.
Analisando os projetos previstos para Sines, o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) sublinha que é necessário um reforço da rede para acolher os projetos de hidrogénio e outros projetos que vão necessitar de eletricidade em grande volume, como o projeto do aço verde, da Green Steel e da Iberdrola, ou o Sines 4.0, o novo data center da cidade alentejana.
“O PNEC 2030 prevê um aumento do consumo de 50 terawatts hora para 100 terawatts hora em 2030. Penso que uma grande parte desta potência estará alocada em Sines para os projetos que estão a ser desenhados”, afirmou Pedro Amaral Jorge, sendo necessárias “tomadas de decisões firmes sobre as necessidades da rede” para acomodar os projetos que forem apresentados.
A REN alertou no seu plano PDIRT 2022-2031 (investimentos para a rede nacional de transporte de eletricidade) para a questão dos inúmeros pedidos para a zona de Sines e o facto de a rede não estar preparada para tantos projetos. “O ORT [a REN] tem vindo a ser confrontado com um elevado número de pedidos de informação por parte de entidades externas relacionados com a hipótese de instalação na zona de Sines de diversos novos projetos industriais de grande dimensão, alguns dos quais associados com produção de hidrogénio”.
Desta forma, revelava que encontrava-se em estudo a possibilidade de expandir a operação na zona. “Face ao número de casos e à dimensão em potência requerida pelos projetos em causa, num contexto de quase saturação da atual subestação de Sines da RNT, encontra-se em estudo a possibilidade de abertura de uma nova instalação da RNT na zona, que permita, por um lado criar condições para a requerida ligação e alimentação destes novos consumos, e por outro evitar uma excessiva concentração de potência numa única subestação, com riscos acrescidos de fiabilidade e segurança de operação da rede, vistos tanto a um nível local como também mais global da rede”.
“A localização e constituição desta nova instalação, previsivelmente uma nova subestação 400/150 kV, mas numa fase inicial apenas com o nível de 400 kV, terá de ter em consideração os polos de consumo e de produção já existentes e futuros, no sentido de incorporar uma visão global que permita uma otimização de conjunto, quer do ponto de vista de ordenamento do território, com minimização da quantidade e comprimento de novos circuitos de linhas necessários criar na região para a integração dos novos projetos previstos, quer do ponto de vista da eficiência financeira, administrativa e de prazos de concretização subjacente a este desígnio de otimização”, segundo o documento.
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