Governo diz que há “alguns sinais positivos” de investidores interessados no projeto de lítio de Setúbal
O Governo disse hoje que “há sinais positivos” de investidores interessados no projeto para a refinaria de lítio de Setúbal, depois da Galp ter anunciado a sua desistência do projeto.
“Se estamos a contactar outros promotores, ou se foi sinalizado interesse… sim, há alguns sinais positivos”, disse hoje o ministro da Economia Pedro Reis, mas manteve a “devida reserva” sobre mais pormenores, pois o objetivo é trazer estas possibilidades a “bom porto”.
“Tendo recebido informação” sobre que tipo de “empresas e promotores” poderiam estar interessados neste tipo de projeto, o ministério da Economia colocou-se em “campo à procura” para “mapear ou radiografar que poderiam ser promotores alternativos, mesmo com escala diferente, pode haver nuances”.
No seu contacto com investidores internacionais, e do feedback que vai obtendo, “mantém-se o interesse no lítio e na refinação” em Portugal, apesar da quebra dos preços do lítio no mercado internacional e da desaceleração da compra de veículos elétricos, à medida que vários países vão tirando os incentivos.
“O interesse dos investidores internacionais não se esgota no tema do automóvel ou do potencial do lítio e das refinarias”, apontando para a necessidade do seu uso para baterias na área industrial.
Galp cancela projeto da refinaria de lítio em Setúbal
Galp cancela refinaria de lítio em Setúbal
A Galp anunciou a 26 de novembro o cancelamento do projeto Aurora, a refinaria de lítio prevista para Setúbal, um investimento que poderia atingir os 1.300 milhões de euros. O projeto consistia numa parceria 50/50 com os suecos da Northvolt, que se encontram em grave crise financeira.
A companhia portuguesa revelou que a Northvolt anunciou a sua desistência do projeto no início de 2024, uma novidade pois nada tinha sido anunciado ainda.
Desde esta ocasião, a Galp “procurou identificar novos parceiros internacionais, mas sem sucesso”.
O projeto Aurora foi estabelecido em 2021, com o objetivo de estabelecer uma fábrica de lítio em Setúbal para abastecer a indústria de baterias para carros elétricos.
“Apesar de esforços significativos (…) o contexto atual e a incapacidade de contar com um parceiro internacional tornou impossível continuar com o projeto”, segundo a Galp.
Savannah diz que o seu “caminho” sempre foi “independente” do projeto de lítio da Galp
A Savannah assegurou na quarta-feira, 27 de novembro, que mantém os planos para arrancar com a produção da mina de lítio do Barroso, em Boticas, distrito de Vila Real. A companhia britânica disse estar “empenhada” neste objetivo. “O nosso caminho já era e continua a ser independente do da Aurora”.
“Como comunicado no Verão deste ano, firmámos um primeiro acordo de parceria com a alemã AMG Lithium (dona da primeira refinaria de lítio ativa na Europa), e temos discutido com eles e com outros a possibilidade de a médio prazo se construírem refinarias adicionais na Península Ibérica”, segundo fonte oficial da companhia.
“Acompanhamos com atenção o processo relativo ao projeto Aurora, de onde se destaca a necessidade de um apoio mais amplo a tais projetos na cadeia de valor europeia do lítio, tal como outros grandes blocos económicos globais estão a fazer”, acrescentou.
Para terminar, a Savannah disse estar “disposta a contribuir para o desenvolvimento de indústrias europeias estratégicas, como a cadeia de valor das baterias de lítio e da mobilidade elétrica”.
Como escreveu o JE a 28 de outubro, a Galp garantiu que só vai avançar com a sua refinaria de lítio em Setúbal quando confirmar que vai haver lítio extraído em Portugal.
“Estamos nas fases finais de detalhes, como relacionados com a engenharia e com os incentivos. Muito trabalho foi feito e continua a ser feito”, começou por dizer o CEO.
“O mercado está muito desafiante. Não temos pressa de tomar uma decisão final de investimento (FID) até vermos retorno apropriado para o projeto. Não parece que estejamos lá”, acrescentou Filipe Silva na call com analistas para apresentar os resultados trimestrais.
O gestor mostrou a sua preocupação que o projeto fique “órfão, caso não haja mineração em Portugal. Não vamos tomar decisão final de investimento até vermos mineração em Portugal”.
Foi a primeira vez que o presidente-executivo da Galp revelou preocupações tanto com a extração do lítio em Portugal, como com a rentabilidade do projeto.
O projeto da refinaria de lítio para Setúbal viu este ano o seu custo previsto subir de 700 milhões, estimado em 2022, para um valor entre os 1.100 e os 1.300 milhões de euros.
A entrada em operação estava prevista agora para 2028, dois anos mais tarde do que o inicialmente previsto. O projeto ainda aguarda pela decisão final de investimento pelos promotores. Por ano, vai sair daqui o lítio suficiente para equipar as baterias de 650 mil automóveis.
O BEI está a avaliar investir 825 milhões de euros nesta unidade, que será a maior da Europa quando for inaugurada.
Em termos de postos de trabalho, o promotor prevê a criação de 357 postos de trabalho diretos e três mil indiretos, “dos quais 70% altamente qualificados, assim como a nível nacional, pela promoção do crescimento sustentado da cadeia de valor das baterias de lítio em Portugal, através da produção de um produto que atualmente não integra a base produtiva do país”, segundo o estudo de impacte ambiental (EIA).
A Galp disse em meados de setembro que o “aumento do valor do investimento, atualmente estimado entre 1,1 e 1,3 mil milhões de euros, resulta do reforço da complexidade do projeto devido a um esforço de melhoria de processos de engenharia e de performance nas áreas ambiental –utilização integral de águas residuais, redução de emissões, componente de utilização de energias renováveis, etc. – e económica, e do aumento da sua capacidade das 28 para as 32 mtpa”.
Sobre a data em que podem tomar decisão final sobre o projeto, a companhia portuguesa disse em setembro.: “a Galp e a Northvolt continuam empenhadas na execução do projeto Aurora. No entanto, devido à natureza e complexidade do projeto, continuam a ser desenvolvidas ações (incluindo acesso a fundos nacionais ou europeus que nos permitam competir com outros projetos e que ainda não estão garantidos) e os estudos indispensáveis para a tomada de decisão final de investimento. É também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal”
Os suecos angariaram financiamentos de 10 mil milhões de dólares desde 2017, entre dívida e capital, mas a luta tem sido dura contra os gigantes chineses do sector, como a BYD ou a Contemporary Amperex Technology Co., que fabricam baterias há décadas e a preços muito competitivos. A dívida atinge os 5,8 mil milhões de dólares.
Apesar da grande carteira de encomendas, a empresa tem tido dificuldade em entregar as baterias com qualidade e a um ritmo aceitável.
O cancelamento de um contrato de dois mil milhões de euros pela BMW em junho expôs os problemas da companhia, a par de uma desaceleração da procura por carros elétricos.
