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Governo rejeita críticas do FMI ao IRS Jovem e descida do IRC

O Fundo considera que a medida para o IRS arrisca ser ineficaz e agravar desigualdades, enquanto no IRC o foco deveria estar na redução das derramas, para retirar progressividade ao imposto. Governo garante que avançará com as propostas, reforçando que estas atacarão problemas prioritários no país.
IRS Jovem
JOÃO RELVAS/LUSA
3 Outubro 2024, 07h30

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para a pouca eficácia do IRS Jovem, que arrisca ainda ser uma medida que agrava as desigualdades na população nacional, e da redução transversal do IRC. O Governo já rejeitou deixar cair a medida, reforçando a confiança na sua eficácia, embora lembrando que, na questão do IRC, as mexidas nas derramas estão previstas mais para a frente.

Ao abrigo do Artigo IV, o FMI finalizou esta quarta-feira a avaliação periódica da economia portuguesa, deixando algumas considerações sobre a eficácia das duas principais medidas do lado fiscal apresentadas pelo Governo para o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025). Por um lado, o IRS Jovem não só cria problemas de equidade, como não aparenta ser capaz de travar a saída de mão-de-obra jovem e qualificada, enquanto do lado do IRC a prioridade deveria passar por reduzir as derramas estaduais e municipais, em vez de uma descida transversal, como sugere o Executivo.

Apesar disso, o Governo reforçou, já depois da publicação do documento do FMI, a intenção de avançar com estas medidas no OE2025. António Leitão Amaro, ministro da Presidência, garantiu após o Conselho de Ministros desta quarta-feira que ambas as propostas irão avançar, defendendo o seu mérito e eficácia.

O relatório do FMI “não nos vai fazer mudar as propostas que tínhamos”, ressalvou Leitão Amaro, argumentando que “há um problema” e que, portanto, a “prioridade” passa por o resolver. Tal é extensível também às empresas, dada a recomendação do FMI para o Governo se focar nas derramas, ao invés da intenção do Executivo de descer transversalmente o imposto.

A redução prevista pelo IRS Jovem levanta questões de equidade, com o Fundo a salientar que “taxas de imposto baseadas na idade são caras”, além de com “uma eficácia duvidosa a evitar emigração”. Acresce a isto a reintrodução de uma taxa fixa de 20% para profissionais altamente qualificados (semelhante ao antigo regime de residentes não-habituais), que “irá distorcer o sistema fiscal ainda mais e pode exacerbar problemas de acesso à habitação”.

Do lado do IRC, e apesar de Portugal mostrar uma taxa nominal mais alta do que os seus pares na zona euro, o FMI recomenda “reduzir taxas progressivas e locais”, ou seja, as derramas, ao invés da descida transversal defendida pelo Governo.

Simultaneamente, a despesa fiscal tem continuado a subir, levando o Fundo a defender uma revisão das isenções existentes. Do lado dos impostos sobre a propriedade, é sugerida uma subida para “aumentar a receita em linha com os parceiros da OCDE”, sobretudo dados os contínuos problemas no mercado imobiliário.

Ainda assim, a consolidação orçamental portuguesa é elogiada, bem como a redução dos riscos sistémicos no setor financeiro, que mostra agora uma robustez considerável. Para esta evolução ajudou ainda a contenção dos riscos na habitação, onde o FMI aplaude as “medidas macroprudenciais” recentes, mas mantendo a possibilidade de “mais aperto” das condições caso os riscos não abatam.

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