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“A Grande Guerra pela Civilização”

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
Marta Teives
17 Dezembro 2016, 10h05

O britânico Robert Fisk é uma referência do jornalismo nas últimas décadas. Sediado em Beirute, é hoje correspondente para o Médio Oriente do jornal The Independent – função que desempenhou ao longo de 18 anos no londrino The Times até que, em 1988, uma reportagem sua sobre a verdadeira história de um avião comercial iraniano abatido por um navio dos EUA foi censurada pelo editor.

Nos mais de 40 anos que leva de vida no mundo árabe, cobriu cinco invasões israelitas ao Líbano, a guerra entre o Irão e o Iraque, a invasão soviética no Afeganistão, a de Saddam Hussein no Kuwait, as guerras da Bósnia e do Kosovo, a invasão e ocupação norte-americana do Iraque e as revoluções árabes de 2011. Conseguiu três entrevistas com Osama Bin Laden – que mostrou interesse em recrutar o jornalista –, a primeira vez no Sudão e as outras duas no Afeganistão, e falou com Saddam e com o líder iraniano Khomeini.

O seu trabalho insere-se, de certa forma, na linha do polaco Ryszard Kapuscinski e não será exagero dizer que é, provavelmente, o jornalista ocidental que melhor conhece o Médio Oriente. Mas os seus esforços para tentar explicar e compreender a perspetiva dos muçulmanos têm-lhe granjeado numerosos inimigos e o ódio de muitos ocidentais. Os críticos do seu trabalho acusam-no de não ser objetivo nem imparcial. Mas Fisk não é nenhuma destas coisas. É, aliás, o primeiro a admiti-lo, recordando que “a guerra representa o falhanço total do espírito humano”.

 

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Sempre muito crítico das intervenções e interesses ocultos do ocidente no Médio Oriente, considera que os problemas nesta zona do globo são consequência direta da Primeira Guerra Mundial. Sobre a atualidade, afirma que há muitas verdades que não são conhecidas sobre a situação em Alepo e a guerra na Síria, e que não será Donald Trump a marcar o futuro próximo na região, mas sim Vladimir Putin.

Em “A Grande Guerra pela Civilização”, publicado originalmente em 2005, Robert Fisk retrata os diversos conflitos no Médio Oriente, aqui entendido em sentido lato, pois os relatos do autor vão desde a invasão soviética do Afeganistão em 1980, até à guerra da Argélia. Em descrições por vezes cruas, de grande realismo – afinal, trata-se de relatar o horror, a dor e a injustiça –, Fisk narra a violência dos combates, as lutas sem quartel e o cinismo das decisões. Os erros do passado voltam a ser repetidos, a vida das populações civis vale muito pouco ou nada, os interesses económicos continuam a falar mais alto.

“A Grande Guerra pela Civilização – A Conquista do Médio Oriente” é editado em Portugal pelas Edições 70.

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