Segundo o ICF Global Coaching Study, a mais recente estimativa de receita para a indústria global de coaching em 2022 é de 4.564 mil milhões de dólares. Isso representa um aumento de 62% desde 2019, quando a receita era de 2.849 mil milhões de dólares.

O coaching parece ter tido origem na década de 1960.O estudo da psicologia e a preparação dos futuros psicólogos contém uma diversidade de intervenções, clínicas e não clínicas, incluindo o desenvolvimento de competências e o desempenho. Há muitas décadas que assim é. Historicamente, parece que o estigma, nos anos 60, nos EUA, levou alguns psicólogos das organizações a optarem pela designação.

Anthony Grant e Stephen Palmer definiram o Coaching psicológico como a melhoria do bem-estar e do desempenho no trabalho e na vida pessoal, utilizando modelos baseados em teorias da aprendizagem e abordagens psicológicas. Mas atualmente, infelizmente, de pouco servem as definições de coaching ou de onde surgiu. Tornou-se banal a utilização do termo, com aplicação generalizada a coisas muitos diferentes. E certamente, grande parte delas, pouco ou nada científicas.

A palavra coaching passou de método a “pseudo-profissão”, num caminho seguido por outros métodos e com os riscos que tenho alertado. Aqueles que “descobrem a luz” no trabalho com as pessoas, por vezes começando no seu “desenvolvimento pessoal” e que passam depois aos “ensinamentos” de toda a espécie (desenvolvimento pessoal entre aspas pois para os psicólogos este é um conceito bastante sério no contexto da sua prática). Isto, excluindo as práticas propositadamente fraudulentas dos vendilhões de elixires e banha da cobra que proliferam nas redes sociais com a designação de coachs.

Alguns outros, de capas bem mais “adequadas” têm um marketing mais profissional e cuidaram de ter certificações internacionais. O problema é que mesmo estas certificações, poucos conteúdos exigem e são de entidade privadas, sem grande escrutínio. Podem ser mais ou menos exigentes. Mas se na base não está uma formação exigente e sólida, de ensino superior, em psicologia, com actividade sujeita a regulação, não passarão de técnicas avulso aplicadas melhor ou pior dependendo do jeito que cada um tenha desenvolvido e apenas dos seus escrúpulos.

Quais as razões de tanto crescimento?

Por um lado, o aumento da complexidade no ambiente de trabalho, com cada vez mais volatilidade e imprevisibilidade nas tecnologias, mercados e estruturas organizacionais, com aumento da diversidade e intensificação da globalização. Acrescente-se, o reconhecimento cada vez maior da necessidade de desenvolvimento contínuo, tanto pessoal como profissional. Adicione-se, uma pitada de mudança nas expectativas de carreira, procurando-se cada vez mais a associação entre recompensas financeiras e significado de acordo com os valores pessoais.

Ao mesmo tempo, tem aumentado a consciência para a importância da saúde mental e do bem-estar (talvez de forma muito mais rápida do que a literacia). Isto acontece, em simultâneo com a aceitação crescente do coaching, pela proliferação e normalização das experiências, o marketing e o facto de funcionar como resposta (des)estigmatizada. Por outro, a tecnologia vem permitir o acesso mais fácil a distância.

Tenha isto presente, fique muito alerta:

Um, qualquer um pode-se dizer coach, seja qual for a sua preparação. Dois, muitas das promessas são exageradas, irrealistas e de soluções rápidas; Três, o marketing é agressivo, fortemente disseminado pelas redes sociais; Quatro, incorporam elementos de pseudociência ou espiritualidade não fundamentando as suas práticas em evidência científica.

O coaching é banha da cobra?

Muito do dito coaching é só técnicas avulso. Umas, aplicadas por gente mais cuidadosa ou até bem-intencionada, mais ou menos preparada para as aplicar, mas é só isso, aplicar umas técnicas. Outros nem isso, pois apenas têm frases feitas, supostamente motivacionais, com certezas mais ou menos delirantes de um sucesso, por vezes tóxico.

Não surpreende assim que se confunda o trigo e o joio. Claro que existem óptimos profissionais, psicólogos, que utilizando o coaching psicológico, intervindo com evidência científica, no âmbito de uma profissão com as competências, regulação e formação de base necessária, prestam um serviço credível e efectivo aos seus clientes. É certo, que nem sempre com o “glamour” dos slogans bombásticos, fórmulas milagrosas e sucesso garantido.

Resposta: Muito do que para aí existe, é banha da cobra. Algum, não. Desconfie.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.