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Há mais 167 mil passes em Lisboa e Porto desde a redução de preços

“Há menos carros a circular nas maiores cidades e há mais pessoas a viajarem em transportes públicos”, diz o secretário de Estado da Mobilidade. “O sistema está menos poluente e mais sustentável”, admite
  • Cristina Bernardo
29 Junho 2019, 14h00

Mais 167 mil passes; 116 milhões de euros do Estado e das autarquias para reduzir o valor dos passes cobrados aos passageiros; menos carros nas cidades; e um investimento de 900 milhões de euros em novos equipamento para os transportes públicos. Eis alguns indicadores que o secretário de Estado da Mobilidade, José Mendes, refere ao Jornal Económico na entrevista em que faz o balanço inicial da estratégia pública para a mobilidade sustentável.

Que balanço faz da nova estratégia para a mobilidade sustentável?
O centro das novas políticas de mobilidade sustentabilidade é o transporte público. Porque é o mais eficiente e mais eficaz na redução da carga energética e da carga carbónica de cada passageiro/km transportado. Para além disso há o esforço de descarbonizar as motorizações dos veículos e isso traz sustentabilidade porque reduz as emissões de gases com efeito estufa. Há também a aposta na mobilidade suave, ou micro mobilidade, que nos permite viajar em modos que, ou não são motorizados, ou são de muito baixa energia ou de ‘Zero emissões’: o modo ciclável – e todas as suas variantes da bicicleta à trotineta – ou o modo pedonal. Mas o transporte público é o centro da estratégia para a mobilidade sustentável. É um transporte partilhado no seu expoente máximo. Depois temos a descarbonização das motorizações através do programa da mobilidade eléctrica (embora com futuras variantes como o hidrogénio, para as quais temos estado bem atentos).

O que diferencia a estratégia da mobilidade sustentável do atual Governo?
O que nos diferencia dos governos anteriores é que este tema está muito mais presente no debate atual do que estava no passado. Estando mais presente no debate atual é natural que constitua uma maior prioridade. Claramente temos uma abordagem da mobilidade, e sobretudo do transporte publico, que se diferencia [do governo anterior] porque achamos que só investindo, só aumentando o acesso das pessoas no transporte público, é que conseguimos aumentar a sustentabilidade e abordar o tema das alterações climáticas e do aquecimento global. Se compararmos com a legislatura anterior, isso claramente não estava na agenda. Estava completamente fora, era um tema que não existia e que agora existe.

É por isso que reduziram o preço dos passes sociais? Para aumentar a utilização do transporte publico?
Sim. Comecemos pelo transporte público: A nossa palavra de ordem no ministério, quanto ao transporte, é mais acesso e menos impacto. Mais acesso significa mais pessoas a acederem ao transporte, por um custo que possam suportar. Mais acesso significa aceder a mais oportunidades. Sem acesso à mobilidade não acedem ao emprego, à saúde, à cultura, à educação, etc.
Menos impacto porque, evidentemente, dado o tema das alterações climáticas, não podemos estar a alimentar um sistema de mobilidade que à medida que vai tendo mais pessoas continua a fazer mais emissões poluentes. A base é essa: mais acesso, menos impacto.

Quanto será investido para ter esse aumento do acesso?
O valor total deste investimento ronda os 900 milhões de euros. O investimento será feito na expansão das redes, em novas carruagens, em novas embarcações fluviais. Ou seja, quase mil milhões de euros estão a ser investidos no sistema de transportes. Com o Programa de Apoio à Redução do Tarifário (PAR) reservámos 104 milhões de euros no OE2019, aos quais os municípios se comprometeram em comparticipar. Estava previsto aumentarem 2,5 milhões de euros e os municípios aumentaram para 14 milhões de euros. Agora o PART dispõe de 116 milhões de euros para estes nove meses. Esse valor é destinado a reduzir o preço dos passes e também, em alguns casos, a aumentar um pouco a oferta.

Em termos práticos o que é isso significa?
Maior eficiência, eficácia e sustentabilidade, porque transportamos mais pessoas nos transportes públicos do que em outro modo qualquer.
Mas também é uma medida que tem dimensão social: as pessoas têm os rendimentos que têm, com os seus limites e em vez de gastarem 100 euros num passe mensal, se gastam 30 ou 40, isso faz toda a diferença. Em alguns casos pode significar aumentar o rendimento em 10%. A nossa expectativa era reduzirmos, em média, 30% no custo dos passes e conseguirmos aumentar a procura em mais 10%. Teoricamente entraram 100 mil pessoas no sistema. A realidade é que, com os dados mais recentes referentes às áreas metropolitanas, ou seja Porto e Lisboa, registamos um acréscimo de 167 mil passes. Isto corresponde a uma taxa de crescimento de 26% em Lisboa, cerca de 143 mil novos passes, e de 16% no Porto, com 24 mil. Em boa verdade, o sistema cresceu mais.

Assim resolveram os problemas todos?
Claro que não, mas não há duvida nenhuma que é o caminho certo e é um impulso substancial.
Estamos a falar de um investimento de milhares de milhões de euros, comparados com 0 porque isto é um programa novo. Encontrar espaço num orçamento de estado para colocar lá mais de 100 milhões de euros é demonstrativo da prioridade que isto tem para o Executivo. E os municípios têm vindo a jogo. Há sempre ‘os velhos do restelo’. Os críticos dizem que aumenta a procura e que não estavam as condições todas garantidas. Mas todos os autarcas, sem excepção, elogiam a medida e acham que esta vai no sentido certo. Aliás, alguns municípios querem avançar com medidas para a gratuitidade entre os jovens, até aos 13 anos sendo que alguns querem avançar até aos 18 anos. Isso teria um impacto muito positivo na vida dos jovens pois integraria nos seus quotidianos. Isto gera procura e a oferta por sua vez é reforçada.

 

Artigo publicado na edição nº 1993, de 14 de junho do Jornal Económico

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