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“Há oportunidades que se escondem por trás das tarifas”

A existência de tarifas faz desde sempre parte da história da economia e não foi nunca por isso que o multilateralismo ou o mais prosaico bilateralismo deixaram de existir. Eduardo Ferreira de Lemos, partner da EY, desafia os empresários a encontrar as oportunidades que se escondem no meio delas.
28 Setembro 2025, 17h00

As tarifas não são uma invenção da atual administração da Casa Branca: estiveram lá sempre e é um engano pensar-se que não são de facto um instrumento que pode contribuir para a defesa dos interesses nacionais em determinado momento – e uma forma de encontrar equilíbrios entre parceiros comerciais. Algo completamente diferente é a cascata de pautas aduaneiras agravadas com que a atual administração norte-americana, liderada por Donald Trump, veio dar cabo do andamento das relações comerciais estáveis – ou tendentes para isso, depois da crise de fornecimentos patrocinada pela pandemia e mais tarde pelos ataques do Iémen do Sul à circulação de navios.

Para todos os efeitos, a ‘normalidade’ das tarifas quer dizer, entre outras coisas, que é necessário olhar-se bem para o sistema para aí encontrar oportunidades inesperadas. Num contexto de crise tarifária, há com certeza oportunidades que as empresas devem ter em consideração. “Com uma transversatilidade de setores”, “importa saber como reagir”, disse Eduardo Ferreira de Lemos, partner da EY, na conferência de aniversário do JE.

“Porquê as tarifas e porquê agora, é a primeira pergunta”, disse. A massiva industrialização da China e a perda de relevância dos Estados Unidos – que funcionam quase como dois vasos comunicantes, dado o ‘lastro’ que cada uma delas captura em seu torno – são a base do contexto. “É isto que leva o modelo económico dos EUA a perguntar como reagir. As tarifas surgem como uma resposta ao facto de os EUA serem um mero mercado de consumo”, depois de passarem décadas a depreciar a sua já antiga pujança industrial.

Diversos blocos económicos responderam de forma diferentes para assegurarem a sua soberania económica. “As tarifas são um processo de protecionismo” antigo, “que diversas administrações não alteraram”. “A forma que foi usada criou muita volatilidade, muita incerteza” que destruiu “a capacidade de tomar decisões” – num quadro em que ninguém sabia ao certo que tarifas iriam ser colocadas à sua frente. Foram, “decisões precipitadas que destruíram margem”.

A segunda pergunta é: “como reagir à volatilidade e à incerteza”. Mas, questiona Ferreira de Lemos, “haverá assim tanta incerteza?”. Os EUA usaram as tarifas em diversos tempos e em diversas circunstâncias. É uma reação esperada”, afirmou. “O protecionismo é estrutural e isso vai ter repercussões económicas” que estão para ficar.

“É difícil pensar que o défice dos EUA vai desaparecer. Isso não se muda de um momento para o outro”. “A política de tarifas não será alterada com outras [administrações]: não é possível ter um trilião de dívida e sair da proteção das tarifas”.

Que fazer na Europa?
É preciso perceber-se “o que cabe à Europa fazer – num quadro em que a relevância económica do agregado está a perder-se”, alertou o partner da EY. Demografia e capacidade económica são um mau sinal para a Europa, nomeadamente quando comparada com outros blocos. A única alternativa “é pensar em tornarmo-nos competitivos para a Europa continuar a exportar”. Com a incapacidade de atrair talento à Europa, que não é fácil, o desafio é ainda maior.

Mas “há boas notícias”: o principal bloco impactado pelas tarifas é a China: a Europa tem uma oportunidade porque tem um prémio face à China, e isso aplica-se à China, à Coreia do Sul”. Os têxteis, por exemplo, têm uma oportunidade face à deslocalização anterior da produção para a Ásia – o que ocorre ao contrário no setor automóvel, por exemplo. “É uma oportunidade para olharmos para os EUA como uma zona de exportações”. Os empresários têm de pensar quais são as tendências de amanhã – “por isso as melhores decisões têm de estar na ordem do dia”, sendo certo que só as empresas capitalizadas terão hipóteses. Capacidade de investimento e de atrair talento, são dois fatores essenciais, disse Eduardo Ferreira de Lemos, a que tem de se acrescentar “flexibilidade”. É preciso aproveitar setores de nicho para usufruir dessas oportunidades”, concluiu o partner da EY.

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