Estávamos no auge da bolha tecnológica, em 1999 e 2000, e recordo-me de ver muitos analistas e jornalistas do canal de televisão CNBC a anunciarem a chegada da “Nova Economia”.

Este conceito, novo à época, defendia que o mercado financeiro era imparável porque as empresas tecnológicas iriam dominar a economia. As empresas da “velha” economia, por sua vez, iriam obter menos resultados, logo deviam estar subponderadas pelos investidores.

Vinte anos depois, esta nova economia é uma realidade e está para ficar, porque existe uma diferença fundamental – a impressão maciça de dinheiro pelos bancos centrais, na tentativa de impulsionar a economia. Mas como sabemos, não é por se injectar dinheiro num problema que ele se resolve. O Banco Central Europeu (BCE) tem um problema com a inflação, ao passo que a Europa tem um problema com o crescimento.

Nos últimos anos as empresas têm sido inundadas de regulamentação e legislação impossível de acompanhar, isto sem descurar a sustentabilidade e viabilidade financeira das mesmas.

Muitas das directivas ou regulamentos são verdadeiros enigmas que contribuem para aumentar a já de si lenta Justiça, e comprometem a necessária agilidade da economia. O Parlamento Europeu converteu-se numa máquina de processamento de legislação, à qual os parlamentos nacionais não escapam. Antes pelo contrário, com o seu cunho pessoal vão adicionando níveis de dificuldade.

Dou um exemplo simples. É sabido que uma empresa tem a obrigação de registar os seus beneficiários efectivos num portal criado para o efeito. Este mecanismo existe em vários países europeus, pelo que a aceitação do código de validação deveria ser universal, pelo menos nos países da zona euro.

Pasme-se que uma empresa estrangeira que já tenha passado por este processo no seu país e que queira abrir uma atividade em Portugal tem de passar pelo calvário, ou pagar a um advogado ou solicitador, para preencher exatamente os mesmos dados, mas agora em Portugal. Este é um pequeno exemplo do porquê do dinheiro não chegar à economia real. Por muito que se imprima, a burocracia criada em torno dos negócios e a necessidade voraz de os Estados cobrarem, ou criarem barreiras, é impeditiva do crescimento económico.

Cada vez é mais claro que será necessário imprimir muitos mais biliões de euros para que algum rendimento chegue à base da pirâmide. Por outro lado, a história que o BCE agora nos conta, acerca da alteração para inflação assimétrica de 2%, não passa disso mesmo, história, uma cortina de fumo, que visa impedir aumentos de salários e, dessa forma, a despesa dos governos.

Resumindo,  quem sofre as consequências da desvalorização do dinheiro são as pessoas que continuam com receio de investir as suas poupanças. Não há dúvida que não faltam histórias para nos adormecer.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.