Um “suicídio”, uma queda premeditada de um primeiro-ministro que “está completamente agarrado ao poder”. As críticas, feitas por históricos do PSD como Ângelo Correia ou Pacheco Pereira são duras e têm como alvo o líder do partido, Luís Montenegro, pela forma como conduziu o país a eleições. No mesmo dia, porém, da cúpula do PSD saiu uma mensagem de união. Na intervenção inicial do Conselho Nacional, Montenegro declarou ao partido e ao país não “desistir” e “estar aqui para durar”.
Com forte apoio do elenco governativo, que marcou presença em peso na reunião extraordinária de quarta-feira à noite, e da bancada parlamentar, o líder social-democrata aproveitou para ensaiar o discurso de campanha e ouviu incentivos da convidada de honra, Manuela Ferreira Leite. “Vinha cá pedir para não desistir porque o país precisa de si”, pediu a ex-líder.
“O PSD nunca poderia alinhar em nenhuma decisão que não fosse a recondução de Luís Montenegro”, acrescentou. A antiga governante atacou o PS pelas dúvidas que tem suscitado em torno da vida patrimonial de Montenegro. “Não acredito que o dr. Mário Soares ou o dr. Jorge Sampaio fizessem uma campanha na base do lançamento de lama. Nunca vi nada tão baixo na política portuguesa como aquilo a que assisto neste momento”, afirmou.
Numa noite em que o PSD se uniu para dar força ao recandidato a primeiro-ministro, houve apenas uma voz dissonante que acabaria apupada, segundo relatos feitos ao Expresso. Paulo Ribeiro, ex-presidente da concelhia de Lisboa, assinalou que o partido “devia ter capacidade de fazer uma autocrítica” e perceber o “que não fizeram bem”. Este conselheiro nacional terá mesmo perguntado se Montenegro sente condições éticas e morais para ser candidata do PSD a primeiro-ministro. E no final, Montenegro respondera-lhe que sim.
Se as críticas no Conselho Nacional se reduziram às feitas por Paulo Ribeiro, no espaço mediático têm-se somado. No essencial, mostram-se desalinhados quanto à tese de que a responsabilidade de o país ir a votos é da oposição. Pelo contrário, ao avançar com uma moção de confiança que já sabia que ditaria a queda do Executivo, Luís Montenegro levou a cabo uma estratégia suicida.
“O primeiro-ministro disse que lhe quiseram cortar a cabeça. Há alguma estranheza no facto de o Governo se ter suicidado. Essa é a expressão do que aconteceu. O Governo suicidou-se.”, disse Pacheco Pereira, antigo deputado do PSD, na CNN.
Para este militante histórico, que tem assumido ao longo dos anos divergências com o partido, há dois motivos que podem justificar este “suicídio”: Ou existia “a crença” de que novas eleições iriam “melhorar a situação frágil” do partido na Assembleia da República; ou, “eventualmente, uma tese mais conspirativa, o primeiro-ministro não quereria dar os esclarecimentos devidos e, portanto, ia tentar fazer como o Trump e usar as eleições para lhe dar uma legitimidade que pusesse em causa todas as dúvidas”.
Quanto ao caso que está na origem da crise, Pacheco Pereira defende que, quando passou a primeiro-ministro, Luís Montenegro “devia ter dissolvido a empresa”, “Foi muito imprudente” porque “é evidente que a força daquela empresa é o primeiro-ministro e os seus contactos”, frisou.
A mesma análise fez Ângelo Correia, na SIC Notícias. O antigo governante do PSD não poupou nas críticas a Luís Montenegro ao apontar que o primeiro-ministro está “completamente agarrado ao poder”. E frisa que Montenegro só tinha uma solução para resolver o problema em torno da empresa: “Entregar os documentos todos nas entidades responsáveis e matar o problema.” “Não só não o fez como, pior do que isso, passou informação a conta gotas, disse várias vezes que não estava disponível para esclarecimentos”.
O antigo ministro da Administração Interna considera que Luís Montenegro já tinha, antes desta polémica, a estratégia ir antecipadamente a votos. Só que acabou por conjugar essa estratégia com uma outra contraditória, que passa pela “mitigação de riscos em relação à sua vida pessoal”.
Intrigado com esta crise está também Alberto João Jardim, antigo Presidente da Região Autónoma da Madeira. Recorrendo á rede social X, o histórico social-democrata critica as “cenas” da geração que ocupa agora o PSD, mas também o PS. “O peso das sociedades secretas nos dois partidos, tal como o ‘menino rico’ líder do PS feito ‘socialista radical’, tornam intrigante a instabilidade criada”, escreveu”.
Já Miguel Relvas, antigo ministro de Pedro Passos Coelho, considerou o debate “um triste espetáculo” e questionou mesmo por que razão foi “interposta a moção de confiança”. Miguel Morgado, antigo deputado, tem também manifestado “perplexidade com a estratégia seguida pelo Governo e que conduziu à sua autodestruição”.
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