Conseguirá a administração pública (AP) e o tecido empresarial português, povoado de pequenas e médias empresas, aproveitar a nova revolução tecnológica? A inteligência artificial (IA) está na ordem do dia. Nas múltiplas aplicações, o desafio será encontrar uma área que não seja impactada. Pela capacidade de escala, democratização de tecnologia e produtividade, a IA é uma oportunidade, e em especial para o tecido empresarial português. Mas passa por visão, estratégia e gestão.

Já passámos por diversas ondas de inovação e disrupção. Espíritos mais críticos podem questionar se “é diferente de qualquer tipo até agora”, mas é inegável que é transversal e disruptora.  A IA ao poder ser aplicada em empresas de pequena dimensão, permite que não haja algumas usuais barreiras à entrada que a nossa (falta de) dimensão implica. O ritmo de implementação também é importante. A aceleração está a dar-se em muitos países e sectores; dois a três meses têm impacto nos desenvolvimentos e aplicações, e importa aumentar o ritmo. Pelos ganhos de escala, aumento de produtividade e alterações na cadeia de valor, este é o tipo de mudança na qual importa entrar e amadurecer o mais rápido possível.

Como muitos aspetos de transformação digital ou de mudanças culturais, o exemplo e empenho tem de vir de cima: da gestão na parte privada e da tutela na AP. Implica talento, entendimento interno e cultura.

O impacto na substituição ou complementaridade de trabalho dar-se-á também no trabalho qualificado, e essa alteração é socialmente relevante. Empresariamente, as escolhas das prioridades, o que se incorpora e desenvolve internamente vs. relação com parceiros é fundamental, como outro tema de elevado impacto no negócio, sendo que há algo comum: importa ter uma visão própria.

A aprovação no Parlamento Europeu do “AI Act” para regulação da IA dá visibilidade a temas relevantes como risco e compliance, privacidade e propriedade. A regulação é fundamental do ponto de vista de direitos, liberdades e garantias, com impacto na inovação e competitividade.

Este é um mundo em ebulição e ao qual a gestão não pode olhar para o lado. Tal como outrora para temas como as redes sociais ou a transformação digital, não pode ser “porque é moda ou moderno”, mas sim porque é transformador e gera valor acrescentado ao modelo de negócio. Os ganhos também se aplicam na eficácia dos serviços públicos, produtividade da administração pública ou tantas outras. No final, duas coisas comuns: estratégia e gestão.