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Iémen: o lado esquecido do mundo

ONU pedia 2,4 mil milhões de dólares à conferência de doadores, mas os países envolvidos não conseguiram ir além dos 1,35 mil milhões. A guerra civil e a Covid-19 deixaram 28 milhões de pessoas desesperadas. Entretanto Riade e Teerão prometem não deixar a guerra.
4 Junho 2020, 07h25

A conferência de doadores para o Iémen assumiu compromissos no valor de 1,35 mil milhões de euros para ajudar o país destruído por seis anos de guerra e agora ameaçado pela pandemia de Covid-19, pouco mais de metado dos dos 2,2 mil milhões que a ONU solicitava ao convocar a reunião virtual, co-presidida pela Arábia Saudita.

Situado nos confins da Penísula Arábica e palco de uma guerra que opõe as pretensões sauditas às do Irão, a comunidade internacional mostrou-se assim indisponível para responder com um míonimo de eficácia às solicitações da ONU – que descobrem no país mais um foco de desumanidade, fome, maus tratos e milhares de refugiados.

Na ausência da contribuição solicitada, ficou claro que a ajuda será de pouca utilidade até que uma paz duradoura seja alcançada – e essa paz não parece estar na agenda das duas potências regionais em conflito aberto. Os cem países participantes apoiaram uma solução política para o conflito, mas ninguém forneceu fórmulas para alcançá-lo, uma vez que a solução passa em exclusivo por Riade e por Teerão.

“O Iémen está por um fio. A menos que obtenhamos um financiamento significativo, cerca de 30 dos 41 principais programas das Nações Unidas serão encerrados nas próximas semanas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, no discurso de abertura da conferência, citado pela comunicação social.

Quase seis anos de guerra entre a coligação liderada pela Arábia Saudita e os rebeldes Huthi alinhados com o Irão deixaram 80% dos 28 milhões de iemenitas dependentes de ajuda humanitária. Agora, assim como a disseminação da Covid-19 ameaça uma população gravemente desnutrida, a operação de ajuda da ONU ameaça ter efeitos muito limitados.

É que o mundo está mais pobre: no ano passado, a ONU conseguiu angariar 3,2 mil milhões de dólares até à data da conferência; este ano, em período homólogo, não foi além dos 474 milhões.

“A situação é catastrófica. O coronavírus está a espalhando-se rapidamente por todo o país e os hospitais são forçados a rejeitar as pessoas porque, após cinco anos de guerra, o sistema está à beira do colapso”, disse Mark Lowcock, subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários.

A Arábia Saudita prometeu doar 500 milhões de dólares, naquela que foi a contribuição individual mais generosa. Os Estados Unidos, que, como o Reino Unido, apoiam e vendem armas à coligação liderada pela Arábia Saudita, já anunciaram no mês passado que dariam 225 milhões para ajuda de emergência e alimentos, tal como já haviam feito no ano passado.

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