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Indústria automóvel nacional “preocupada” com quebra na Alemanha

O motor industrial europeu (e segundo cliente dos componentes automóveis fabricados em Portugal) continua numa profunda recessão industrial que “terá um reflexo claro na produção nacional”, não esconde o presidente da AFIA.
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FILE PHOTO: Employees works on an assembly line at startup Rivian Automotive’s electric vehicle factory in Normal, Illinois, U.S. April 11, 2022. REUTERS/Kamil Krzaczynski
10 Fevereiro 2025, 07h00

A produção industrial alemã abrandou significativamente no final do ano passado, registando em dezembro uma queda homóloga de 3,1% e de 2,4% em cadeia, muito à custa do sector automóvel. Olhando para o ano que fechou, a recessão industrial foi de 4,5% e a maior economia do bloco europeu não vê ainda a luz ao fundo do túnel, deixando sectores nacionais altamente interligados com o gigante industrial, como o dos componentes automóveis, preocupado com 2025.

Ao JE, José Couto, presidente da AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, admitiu estar “preocupado” com a evolução da situação na Alemanha, embora este cenário não seja propriamente novidade. O sector automóvel alemão, outrora o exemplo máximo de uma indústria pujante e que permitiu anos de crescimento assente em exportações, recuou 10%, o que não permite grandes perspetivas para os clientes da produção portuguesa.

“Os clientes nacionais na Alemanha, os construtores, já declararam que este ano esperam uma queda acentuada da produção. Portanto, como a Alemanha é o nosso segundo maior cliente de componentes, isto terá um reflexo claro na produção nacional”, afirmou, ainda que ressalvando que o impacto final dependerá dos modelos mais afetados.

“Poderá haver modelos com acréscimo de produção e outros com uma diminuição significativa”, continuou, mas o sector nacional verá “sempre um efeito negativo na atividade”.

Além do sector automóvel, também o da maquinaria recuou cerca de 10,5%, prolongando as preocupações com o sector secundário da maior economia europeia. Em termos globais, a produção industrial alemã continua 10% abaixo do que se registava antes da pandemia, denotam os analistas do banco ING, que alertam para as baixas probabilidades de inversão da situação no futuro próximo.

Pelo contrário, “os inventários continuam a subir, quando deviam inverter, e estão elevados há mais de um ano; ao mesmo tempo, os cadernos de encomendas bateram no fundo após os dados fortes de dezembro, mas não o suficiente para arrancar com uma inversão nos inventários”. Recorde-se que o gabinete federal de estatísticas havia comunicado na quinta-feira que as novas encomendas em dezembro haviam subido 6,9% em dezembro em relação ao mês anterior, mas o aumento deveu-se sobretudo a grandes encomendas (associadas normalmente com a aviação ou ferrovia). A dúvida é se este impulso será para se manter.

A esta dinâmica junta-se a possibilidade de tarifas vindas dos EUA, o que penalizaria particularmente o Estado-membro da UE com exportações mais elevadas, em termos absolutos, para a maior economia do mundo, sendo também a balança comercial mais expressiva nas relações com Washington.

“Aumento de custos de penetração no mercado americano tem consequências importantes, mas temos de perceber qual a quantidade de veículos da Alemanha que entra nos EUA”, ressalva José Couto, preferindo a contenção sobre esta possibilidade. Em sentido inverso, a entrada de players chineses no mercado europeu, sobretudo com investimento a substituir o alemão, não deve ser temida.

“Não devemos barrar a entrada aos chineses, desde que cumpram as regras europeias”, até porque “muitos construtores europeus já têm capital chinês”, remata.

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