Os mercados bolsistas têm estado em alta. Esta vaga ‘verde’ que atravessa as bolsas teve o tiro de partida com a divulgação dos dados referentes à inflação nos Estados Unidos. A tomada de posse de Donald Trump, na segunda-feira, tem ajudado a manter estes ‘bons espíritos’ dos mercados. Mesmo assim existem motivos para preocupação e eventuais correções nas bolsas, como referem analistas consultados pelo Jornal Económico.
“Desde a semana passada, após a divulgação dos dados da inflação nos Estados Unidos, que se tem verificado um otimismo entre os investidores. Este otimismo tem conduzido a melhorias significativas nos dados macroeconómicos. Posteriormente, os dados da produção e os resultados trimestrais das empresas reforçaram esta onda de otimismo pelos índices acionistas. Desta forma, a tomada de posse de Donald Trump tem vindo a cavalgar uma onda de otimismo nos últimos dias que o próprio evento criou. As promessas do novo presidente dos Estados Unidos sobre um crescimento económico contínuo também alimentou este sentimento”, explica o analista da XTB, Vítor Madeira, em declarações ao Jornal Económico.
Para Vítor Madeira, esta sensação de otimismo, que tem passado pelos mercados nos últimos dias, “tem tido um efeito positivo”, que tem levado a que praticamente todos os dados macroeconómicos estejam a apresentar previsões de crescimento das empresas de Wall Street. “Estas previsões acabam, elas próprias, por alimentar esse sentimento de otimismo”, sublinha o analista da XTB.
“Verifica-se um efeito de retroatividade que nos faz concluir que esta tendência otimista de crescimento se deverá manter nos próximos dias, em especial no que toca ao mercado norte-americano”, reforça Vítor Madeira.
O economista do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, considera, em declarações ao Jornal Económico, que as primeiras medidas da nova administração presidida por Donald Trump apontam para um “impacto inicial positivo” no crescimento económico, o qual tem-se “refletido favoravelmente” em Wall Street.
“Medidas como cortes de impostos, desregulamentação e estímulos fiscais podem proporcionar um impulso adicional ao investimento e ao consumo, gerando otimismo, pelo menos a curto prazo”, acrescenta o economista do Banco Carregosa.
Paulo Monteiro Rosa sublinha ainda que esta ‘onda positiva’ se espalha dos Estados Unidos à Europa.
“Donald Trump tem gerado um impacto positivo inicial nas bolsas de valores, com índices como o Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq 100 (índices norte-americanos) a aproximarem-se dos máximos históricos registados no final do ano passado. O S&P 500 encontra-se a menos de 1% do seu recorde histórico. O índice DAX, na Alemanha, tem alcançado sucessivos máximos históricos, acumulando uma valorização superior a 6% desde o início do ano. O FTSE 100, em Londres, atingiu novos recordes e regista uma valorização de 4% em 2025. Os mercados mantêm-se impulsionados pelo otimismo em torno dos cortes de impostos e da desregulamentação promovidos pela nova administração”, diz Paulo Monteiro Rosa.
O economista do Banco Carregosa defende que, embora a tendência de valorização dos mercados “possa continuar” no curto prazo, os investidores “deverão manter uma abordagem cautelosa, considerando os potenciais riscos e incertezas” que poderão surgir ao longo do ano.
Apesar deste otimismo se poder manter, o economista do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, alerta que existem fatores que “podem aumentar os riscos e incertezas” nos mercados.
“O agravamento dos défices orçamentais, caso os estímulos fiscais não sejam acompanhados de cortes de gastos, pode pressionar as taxas de juro e aumentar a dívida pública. Além disso, políticas protecionistas podem desencadear tensões comerciais, afetando o comércio global e gerando volatilidade nos mercados financeiros”, afirma Paulo Monteiro Rosa.
O economista do Banco Carregosa chama também a atenção para o impacto ambiental das políticas pró-petróleo e pró-indústria pesada que, no entender de Paulo Monteiro Rosa, “podem gerar pressão regulatória e social a longo prazo”, afetando sectores como o da energia renovável e da tecnologia.
“Dessa forma, o desempenho dos mercados acionistas ao longo do ano dependerá da implementação concreta dessas políticas e da forma como os investidores interpretarão os seus efeitos no horizonte de médio e longo prazo”, conclui Paulo Monteiro Rosa.
Paulo Monteiro Rosa diz ainda que a possível implementação de tarifas sobre produtos do México e do Canadá, a serem aplicadas pelos Estados Unidos, podem “suscitar preocupações quanto a potenciais tensões comerciais, que podem ter um impacto desfavorável” em sectores como o tecnológico e o automóvel.
Entre os sectores que podem beneficiar com a chegada de Trump ao poder, nos Estados Unidos, está a energia, considera Paulo Monteiro Rosa.
“Incentivo à produção de combustíveis fósseis e menor apoio a fontes renováveis. Impacto favorável nos sectores ligados ao petróleo e gás natural, podendo ver um aumento de investimentos e lucros. No entanto, a pressão sobre as políticas climáticas globais pode gerar atritos com parceiros internacionais e investidores focados em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG)”, explica Paulo Monteiro.
A indústria norte-americana pode também beneficiar com a implementação de tarifas pelos Estados Unidos.
“O aumento de tarifas, especialmente sobre a China, visa proteger a indústria doméstica americana. As empresas focadas no mercado interno norte-americano podem beneficiar, impulsionando sectores como a indústria e a agricultura. Porém, um aumento dos custos para empresas dependentes de inputs importados, sobretudo matérias-primas, penaliza os seus lucros e potencia a subida dos preços no consumidor, podendo gerar volatilidade”, diz Paulo Monteiro Rosa.
A política fiscal é outro factor que tem o potencial de beneficiar a economia norte-americana.
Paulo Monteiro Rosa adianta que a redução de impostos, defendida pela administração de Donald Trump, “pode aumentar” os lucros das empresas, “favorecendo” índices de ações como o S&P 500 e o Nasdaq. “No entanto, a pressão sobre o défice orçamental, que registou um saldo negativo de 6,3% no ano fiscal de 2024, e o aumento da dívida pública, que já ultrapassa os 120% do PIB, podem gerar preocupações a longo prazo”, alerta o economista do Banco Carregosa.
A levar em consideração está ainda a estratégia geopolítica que vai ser levada a cabo pelos Estados Unidos, e que engloba a China, a questão entre Rússia e Ucrânia, a que se junta o Médio Oriente e ainda a Europa. Paulo Monteiro Rosa entende que políticas contra a China, apoio estratégico à Ucrânia e fortalecimento da presença dos Estados Unidos no Médio Oriente podem ter um “potencial positivo” para as indústrias de defesa e energia, através do “aumento de contratos governamentais e fortalecimento da independência energética”, mas, por outro lado, podem gerar um efeito negativo, trazendo um “potencial aumento” das tensões globais “elevando a volatilidade” nos mercados e “gerando incertezas” sobre a estabilidade económica global.
Outro fator a ponderar reside na intenção de se diminuir as regulamentações no sector financeiro e outras indústrias-chave, explica Paulo Monteiro. Isto, adianta o economista do Banco Carregosa, “diminui os custos de conformidade para empresas, um potencial aumento da negociação de ativos financeiros e mais investimentos, com impacto positivo” em sectores como o bancário e o energético.
Apesar de vários sectores poderem beneficiar com as medidas que a administração presidida por Trump pretende implementar, por outro lado, os mercados podem estar sujeitos a outro tipo de riscos.
Isto devido às valorizações se encontrarem em “níveis muito elevados”, diz Paulo Monteiro Rosa, o que pode levantar a possibilidade de os investidores se “tornarem mais sensíveis a qualquer imprevisibilidade ou desilusão relativamente” às decisões de Donald Trump.
“Isto poderá dar origem a uma correção nos mercados”, afirma Paulo Monteiro Rosa.
“Enquanto o rendimento do S&P 500 é de 4,2% para um Price-Earning Ratio (rácio entre preço e ganhos em português), atual de quase 24, o rendimento das obrigações do Tesouro a 10 anos situa-se nos 4,60%, tendo recentemente atingido os 4,80%, refletindo uma melhor remuneração das obrigações em comparação com as ações, consideradas ativos de maior risco. Com as valorizações em patamares elevados, os investidores tornam-se mais vulneráveis a fatores de risco, e qualquer incerteza ou frustração relativamente às políticas de Trump poderá aumentar a volatilidade e levar a uma reavaliação dos portefólios”, alerta Paulo Monteiro Rosa.
O economista do Banco Carregosa diz ainda que o mercado “poderá já ter incorporado”, em parte, o otimismo em torno do crescimento económico e das políticas pró-negócios de Trump. “Assim, qualquer falha na implementação dessas políticas poderá desencadear movimentos de venda”, sublinha o economista do Banco Carregosa.
Paulo Monteiro Rosa alerta também para a “crescente concentração” do investimento nos mercados financeiros dos Estados Unidos e considera que existe uma “possibilidade real” de os investidores abrandarem o ritmo de compra de ações americanas, “caso percebam riscos elevados ou se sintam desapontados” com as decisões de Trump.
“No entanto, o impacto dependerá da magnitude e duração dessas desilusões, bem como das condições macroeconómicas globais. Medidas que reforcem a confiança dos investidores, como cortes de impostos ou estímulos económicos, poderão ajudar a mitigar reações negativas”, conclui o economista do Banco Carregosa.
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