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Início do Ano Letivo com Pais Desesperados

Temos crianças a quem nunca lhes foi perguntado como se sentem nesta condição de “criança covid”, que nunca lhe foi explicado o porquê de tudo isto ter acontecido e que é obrigada a ter como indumentária, a máscara, que para os adultos é incomodativa para uma criança deve ser um terror.
28 Setembro 2020, 07h15

O ano escolar mais atípico de sempre já iniciou e “tudo está a correr, bem” diz-se na comunicação social, em alguns órgãos da tutela e em algumas escolas, sinto que os professores mais uma vez estão a dar uma boa resposta com os parcos recursos que têm ao seu dispor, contudo não são as suficientes para que as crianças voltem ao seu possível normal e os pais fiquem descansados.

As emoções de diretores de escola, pais, professores e alunos estão todos os dias a ser postas à prova e ainda não foi aprovado, por quem tem a capacidade de decidir, que este ano letivo tem como ponto fulcral do desenvolvimento da comunidade educativa o equilíbrio emocional dos nossos alunos e de todos os que com eles se relacionam no dia a dia, para que só depois e muito depois nos podermos preocupar com os resultados académicos.

Temos crianças do pré escolar a receber livros por parte de autarquias, temos a moda dos tablets, a serem distribuídos massivamente e sem critério, temos a obrigatoriedade do uso de máscara para crianças do 1.º ciclo, que é bastante questionável, temos pais desesperados sem saber se fazem bem em deixar os filhos em casa uma parte do dia, para frequentarem a escola o mínimo de tempo possível, como é aconselhado pela DGS e por alguns diretores de escolas, e ainda ninguém se perguntou, quais as repercussões sociais que este deixa andar vai ter no desenvolvimento social, emocional, cognitivo, e motor destas crianças.

As crianças estão cada vez mais “proibidas de brincar” que é uma adaptação ontogenética, ou seja, um sistema comportamental que melhora a adaptação do indivíduo nos estágios imaturos da vida perdendo o seu significado na idade adulta.

Temos crianças a quem nunca lhes foi perguntado como se sentem nesta condição de “criança covid”, que nunca lhe foi explicado o porquê de tudo isto ter acontecido e que é obrigada a ter como indumentária, a máscara, que para os adultos é incomodativa para uma criança deve ser um terror.

Temos crianças sozinhas em casa e pais sem saber o que lhes fazer, crianças estas, que ao contrário das crianças de algumas décadas atrás, não estão habituadas a ficar em casa sozinhas e podem estar a correr perigo, porque sempre foram habituadas a ter tudo, dentro de um prossuposto de segurança perfeitamente exagerado, e de um protecionismo que acaba por as descapacitar. Assim, os pais sofrem horrores, com um medo inquietante pela segurança dos seus filhos e estes continuam a sua saga de alienação social mergulhados na Netflix, Facebook, Instagram, Zoom, TikTok, YouTube, Whatsapp, entregues a uma dependência tecnológica que interfere diretamente com comportamentos interpessoais, demonstrando grande dificuldades de se relacionar, conversar, criar empatia, conservar relações duradoras, porque estão completamente centrados no mundo virtual.

Todas estas situações estão a criar fenómenos mundiais de distúrbios cerebrais que revelam modificações no seu sistema de recompensa neuronal que são semelhantes aos que se encontram nos alcoólicos e nos consumidores de drogas, podendo ser a causa de uma postura inadequada, desatenção, stress infantil, insónias, hiperatividade.

Temos de fazer uma análise profunda dos comportamentos que uma vez mais os adultos estão a ter para com as crianças e uma vez por todas alterar uma escola, formatada que não dá resposta às necessidades e que não se consegue adaptar ao século XXI, muito menos a esta pandemia.

Temos de olhar em volta e ver que se pode fazer mais e melhor, porque temos de procurar sair da nossa zona de conforto e diagnosticar que temos condições para devolver o ser humano ao seu habitat natural, que é a rua e a natureza e não os blocos de betão onde se movimenta diariamente. As crianças não podem ficar em casa sozinhas e a tutela limitar-se a distribuir “prendas” de início de ano letivo, mas olhar para a oportunidade que temos com este Covid, em alterar o paradigma da educação, e levar as crianças para a natureza, onde podem estar a brincar a desenvolverem a criatividade, imaginação, concentração, a curiosidade, a responsabilidade, resolução de conflitos, trabalhar em equipa, a desenvolver psicomotricidade sem que se apercebam porque todos os dias se movem em terrenos heterogéneos que lhes permite fortalecer os grupos musculares e terem um maior controlo sobre o seu corpo, melhorando de forma muito significativa a motricidade fina e motricidade grossa.

A natureza tem um papel muito importante no que diz respeito à prevenção da obesidade infantil, porque as crianças andam em constante movimento ao ar livre, produzem os seus próprios alimentos e adquirem uma consciência sobre a importância ou não de cada alimento.

Numa perspetiva médica, o contacto com a natureza reforça o sistema imunológico e diminui a predisposição das doenças infetocontagiosas. A exposição à luz solar estimula a produção de vitamina D, o que ajuda a fortalecer o sistema imunitário.

Proponho então que os pais procurem atividades o mais próximas do meio natural para os seus filhos no período extracurricular e que as escolas se transformem e comecem a dar uma resposta alternativa para as reais necessidades das nossas crianças.

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