As insolvências em Portugal deverão crescer 19% em 2024 e 10% em 2025, segundo a Allianz Trade que divulga esta quarta-feira o seu mais recente Relatório Global de Insolvências e revela as previsões atualizadas para 2024 e 2025.
“Serviços, construção, retalho e têxteis deverão continuar a ser os setores mais afetados em 2024 em Portugal “, revela a seguradora.
Portugal manteve com sucesso um nível baixo de insolvências até 2022, com menos de 2.000 casos anuais, marcando o nível mais baixo em 15 anos.
As insolvências observadas entre 2020 e 2022 foram reduzidas em vários países devido aos apoios do Estado às empresas no cenário de pandemia de Covid-19, explica a Allianz Trade.
A seguradora diz que neste contexto, esperava-se uma “normalização” em 2023 com o fim das medidas de apoio em alguns países e num cenário de procura mundial mais fraca, pressão prolongada sobre a rentabilidade devido ao aumento dos custos de produção e de financiamento.
Em comparação com os níveis de 2016-2019 é possível perceber que, entre 2020 e 2022, as medidas de apoio pouparam o equivalente a três quartos das insolvências em países como os EUA, a Alemanha, Áustria, Noruega, Portugal e Nova Zelândia.
De acordo com a principal seguradora de crédito do mundo, após duas recuperações graduais em 2022 (+1%) e 2023 (+7%), as insolvências globais preparam-se para acelerar novamente em 2024 (+9%) antes de estabilizar em 2025 (0%) em níveis elevados.
O estudo revela que o abrandamento da economia em 2023 já resultou numa inversão da tendência ascendente nas insolvências empresariais (+14% num ano).
“Isto afetou particularmente as PME, nomeadamente nos serviços, construção, retalho e têxteis, que continuaram a ser os quatro setores mais afetados – representando em conjunto 60% de todas as insolvências”, avança a Allianz Trade que prevê que o prolongamento de uma dinâmica económica frágil poderá continuar a exercer pressão sobre as empresas mais vulneráveis, levando a um aumento contínuo das insolvências empresariais em 2024 e 2025 (+19% anual e +10%, respetivamente), atingindo níveis ligeiramente superiores aos observados antes da pandemia.
“As insolvências (já) estão acima dos níveis pré-pandemia na maioria das economias avançadas”, alerta a Allianz Trade que acrescenta que “como esperado, 2023 registou uma recuperação rápida e ampla nas insolvências empresariais e, 2024, começou com insolvências acima dos níveis pré-pandemia na maioria das economias mais desenvolvidas”.
Em 2023, três em cada quatro países registaram uma recuperação nas insolvências em empresas, o que resultou num aumento de 7% a nível global.
“No ano passado, o número de insolvências das empresas recuperou em cada três países num conjunto de quatro, com a maioria a registar um aumento de dois dígitos. Assistimos a aumentos acentuados nos EUA (+40% em 2023) e na Zona Euro (+14%), com os Países Baixos (+52%), a França (+35%) e a Alemanha (+23%) na linha da frente”, revela o estudo.
“O aumento das insolvências globais acelerou +6 pontos percentuais (pp) em 2023 em comparação com 2022, um valor moderado apenas pelas quedas observadas na China (-14%) e em mercados emergentes como a África do Sul (-13%) e a Índia (-8%)”, segundo Maxime Lemerle, Lead Analyst da Allianz Trade.
A responsável diz ainda que “a Europa Ocidental continuou a ser um dos principais contribuintes para o aumento global das insolvências empresariais, apesar de um ligeiro abrandamento (+15% em 2023, -8 pontos percentuais face a 2022)”.
“A América do Norte também impulsionou a recuperação global, com uma aceleração acentuada (+41%, +43 pontos percentuais)”, acrescenta Maxime Lemerle.
“Outro fator preocupante é o aumento das insolvências de grandes empresas, o que pode gerar mais riscos de não pagamento para pequenos fornecedores. Em 2023 foi registado um caso por dia a nível global (365)”, conclui.
A aceleração da insolvência global ainda não terminou, mas a recuperação está a chegar ao fim, refere a companhia.
Insolvências aceleram em 2024
O menor crescimento, as perturbações comerciais e a incerteza geopolítica preparam o terreno para outra aceleração nas insolvências empresariais globais em 2024, defende a Allianz Trade que espera uma terceira escalada consecutiva este ano (+9%), potenciada por um aumento contínuo em quatro em cada cinco países. Os maiores aumentos são esperados nos EUA (+28%), Espanha (+28%) e Países Baixos (+31%).
“Este aumento generalizado levaria dois em cada três países a ficar em níveis acima do número de insolvências pré-pandemia em 2024, contra metade em 2023″, afirma Aylin Somersan Coqui, CEO da Allianz Trade.
“A economia pós-choque traz um grande conjunto de obstáculos e desafios. Será agora testada a resiliência das empresas, que se tornaram as mais frágeis nos últimos 3 anos. Esperamos que estes desenvolvimentos levem as insolvências de empresas a atingir um nível elevado em 2025: +12% acima do nível de 2019 nos EUA, +8% em França e +6% na Alemanha”, acrescenta a CEO.
A Allianz Trade diz ainda que “não espera um tsunami de insolvências empresariais” como o registado no rescaldo da grande crise financeira, quando as insolvências globais dispararam +17% e +19% em 2008 e 2009, respetivamente. No entanto, a recuperação deverá ser percetível em vários países, em particular nas economias mais desenvolvidas da Europa, devido a empresas específicas (as mais expostas à rentabilidade e a problemas de financiamento) e a setores específicos (nomeadamente setores relacionados com B2C e construção), detalha a Allianz Trade.
A Allianz Trade identifica assim “5 reality checks” para as empresas nos próximos anos. O primeiro é que o abrandamento na rentabilidade está iminente. “Antes de beneficiarem da recuperação global prevista para 2025, as empresas terão de gerir a desaceleração da procura global. Em vários países, é pouco provável que o nível de atividade atinja o mínimo necessário para, pelo menos, estabilizar o número de insolvências”, de acordo com a Allianz Trade. A segurador diz que a zona euro e os EUA precisariam de +0,7 pp no crescimento adicional do PIB, em média, em 2024-2025 para estabilizar o seu número de insolvências.
O segundo ponto refere-se à incerteza está a aumentar, desde a geopolítica até ao risco crescente de não pagamento.
A Aliianz Trade defende que depois de uma série de mudanças nos últimos anos, o calendário eleitoral em 2024 irá aumentar a incerteza económica, à medida que os países que representam 60% do PIB global vão às urnas.
“Este contexto acrescentará uma camada de complexidade e risco às operações comerciais, tornando difícil para as empresas fazer previsões e planos de negócios precisos e criando volatilidade nos custos dos fatores de produção”, refere a companhia.
Além disso, acrescenta, a regulamentação também está a aumentar, o que pode forçar as empresas a fazer esforços adicionais dispendiosos para cumprir.
“A nossa pontuação de risco de não pagamento baseada na nossa exposição ao crédito proprietário revela que as empresas estão cada vez mais preocupadas com o não pagamento, estando o índice no seu nível mais elevado desde 2022”, revela a Allianz Trade.
Em terceiro lugar surgem as condições de financiamento e de liquidez que continuam restritivas.
“As empresas continuarão a enfrentar financiamento dispendioso, mantendo preocupações quanto à sua capacidade de absorver os custos dos empréstimos e de mitigar a pressão sobre a rentabilidade global”, diz a Allianz Trade.
“Ao mesmo tempo, a disponibilidade limitada de financiamento colocará em risco os setores e empresas mais expostos, enquanto o número de empresas frágeis continua a ser visível no Reino Unido (15%), em França (14%), em Itália (9%) e na Alemanha ( 7%)”, acrescenta.
As novas empresas enfrentarão o seu primeiro teste real de resiliência. Esperamos que a aceleração pós-pandemia na criação de empresas impulsione o aumento “expectável” das insolvências empresariais.
Na Europa, o registo de novas empresas revelou-se +14% superior em 2021-2023, em comparação com 2016-2019. A Allianz Trade diz que para essas empresas, 2024 será o primeiro “verdadeiro” teste de resiliência, “especialmente em países que viram as empresas mais recentes serem estabelecidas, nomeadamente França (+47%), Países Baixos (+28%) e Bélgica (+14%)”.
Por último, alguns setores representam riscos mais elevados para o emprego e para a economia em geral, defende a seguradora.
Os setores e empresas mais expostos aos riscos de uma procura mais fraca, por mais tempo, e custos de financiamento elevados e prolongados são aqueles que dependem de despesas discricionárias (fábricas e venda a retalho de bens não essenciais, hotéis, restaurantes, turismo e outras atividades de lazer) e de mão-de-obra intensiva (construção, transporte rodoviário, hotelaria, restauração, cuidados de saúde, serviços empresariais específicos), prevê a Allianz Trade.
“A construção e o imobiliário, que já registaram saltos visíveis na Europa e na Ásia em 2023, irão aumentar o número nacional de insolvências empresariais devido à recessão cíclica e por razões demográficas empresariais”, acrescenta a seguradora.
Assim, defende a Allianz Trade, “a continuação do ritmo mais recente significaria a falência de mais de 16.000 empresas em França, mais de 7.000 no Reino Unido, perto de 4.000 na Alemanha e 2.000 em Itália”.
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