Nos últimos 50 anos, Itália teve 32 Governos. Até 1993, ano da Operação Mãos Limpas, conduzida pelo juiz António Di Pietro, que demoliu o sistema político vigente, foi Giulio Andreotti o “master of puppets” da política local.

Posteriormente, surge o “homem novo” na pele de Silvio Berlusconi. Por ali, a maioria absoluta nunca foi uma prioridade, governava-se por acordos de incidência parlamentar ou soluções saídas de coligações nas urnas e o país nunca esteve traumatizado com a palavra estabilidade.

Após as eleições deste domingo, Portugal irá entrar num ciclo de “italianização” do regime, de governos provavelmente curtos e de instabilidade quase permanente. É essa a herança e legado de Marcelo Rebelo de Sousa, a quem se exige, mais do que nunca, equilíbrio institucional, recato e menos “fontes” a debitarem os seus interesses para as páginas dos jornais, pois o que se passou no dia 8, no “Expresso”, é inqualificável.

A solução ditada pelos portugueses nas urnas exibiu o fracasso da última maioria absoluta, que não foi esquecido e ninguém pretende reeditar algo que correu mal por culpa própria do PS.

Contudo, a mudança não foi clara e a vitória da AD é muito curta, quase igual ao resultado de Rui Rio em 2022, o que significa cristalinamente que Luís Montenegro ainda não convenceu totalmente os seus concidadãos.

Agora, enquanto os socialistas se renovam e viram a página de António Costa sob a batuta de Pedro Nuno Santos, que assumiu a liderança da oposição com a frase “o nosso caminho começa hoje”, Luís Montenegro tem de governar – se assim for indigitado – como Cavaco Silva fez em 1985, tendo como horizonte um posterior reforço nas urnas do PSD, tal como o homem de Boliqueime conseguiu em 1987, sendo premiado com uma maioria absoluta.

A novidade é o Chega, que superou os 17,9% do PRD e elegeu 48 deputados, fruto de mais de um milhão de votos obtidos. André Ventura está sentado na mesa dos grandes e já evidenciou astúcia e frieza no dia seguinte, colocando o ónus da instabilidade política em Luís Montenegro, que bateu (e bate) o pé a qualquer forma de entendimento.

Está montado um imbróglio, pois também a Iniciativa Liberal recusa qualquer acordo governativo à direita, e a esquerda não soma o necessário para uma nova geringonça que Pedro Nuno Santos, verdadeiramente, não deseja neste momento. Marcelo é o fiel da balança.