É um admirável mundo novo. Praticamente no mesmo sítio onde se queimou carvão durante quase 40 anos para produzir eletricidade, nasceu um mega-investimento para alimentar a fúria tecnológica do mundo moderno. Menos de um 1 km separa o Sines Data Center Campus da antiga central da EDP, para onde está idealizado um projeto de hidrogénio verde.
O centro de dados tinha tudo para não nascer: tornou-se conhecido dos portugueses pelas piores razões, envolvido na Operação Influencer, que acabou por derrubar António Costa e o seu Governo. Mas o mundo pula e avança e a inauguração teve lugar na sexta-feira, na pior semana para a economia mundial de anos recentes (apesar da pandemia e da invasão russa da Ucrânia), com a imposição de fortes tarifas pelos EUA a vários países, incluindo aliados históricos.
O primeiro edifício do Sines Data Center Campus foi inaugurado esta sexta-feira com 26 megawatts de capacidade. É já o maior centro de dados de Portugal e ambiciona tornar-se no maior da Europa, quando estiver concluído.
O custo total do projeto está estimado em 8,5 mil milhões de euros pela dona do projeto, a Start Campus.
Mas deverá gerar 30 mil milhões de euros de investimento, com a chegada prevista de mais clientes de Inteligência Artificial (IA), Cloud e HPC (computação de alta performance), o número de investimentos pelos clientes no equipamento necessário para as suas operações.
Tudo somado, são quase 40 mil milhões de euros de investimento a aterrar em Sines, distrito de Setúbal.
O projeto foi totalmente financiado de forma privada, contando como acionistas os norte-americanos da Davidson Kempner Capital Management e os britânicos da Pioneer Point Partners.
“Portugal continua a atrair investimento estrangeiro. O país é muito atrativo para clientes de IA e de cloud”, disse o CEO da Start Campus, Robert Dunn, na sexta-feira na cerimónia de inauguração em Sines.
O gestor destacou como mais-valias de Portugal, os cabos submarinos, a “melhor oferta de eletricidade a baixos preços”, a energia renovável.
“Portugal tem a oportunidade de tornar-se na porta de entrada da IA na Europa. Portugal e a Europa precisam de tomar decisões na agenda digital”, segundo Robert Dunn.
O gestor garantiu que os dois acionistas “não vão a lado nenhum” e que apostam no projeto. “À medida que crescemos vamos precisar de muito mais investimento e isso vai incluir tanto uma mistura de dívida e de capital”.
Ora, o sistema de captura de água e de saída de água será o mesmo que era usado na central a carvão da EDP.
Isto significa que a água vai voltar a ser quentinha na praia de São Torpes a partir do final deste mês. Os banhistas desta praia estavam órfãos da água quente desde 2021 quando a EDP encerrou a central.
Sobre a Operação Influencer, o CEO da Start Campus não quis fazer comentários.
Tarifas? Portugal escreve carta de amor aos EUA para atrair investimento
Depois do infame “dia de libertação” a 2 de abril, quando Donald Trump anunciou tarifas a nível global que vão degradar as relações comerciais entre a maior economia mundial e vários dos seus aliados históricos, eis que Portugal escreve uma carta de amor ao seu aliado, parceiro comercial e importante fonte de investimento.
“O investimento americano é muito bem vindo a Portugal. Queremos construir uma parceria estratégica profunda. Esta é uma boa semana e bom evento para mostrar um sinal de compromisso entre os EUA e a Europa. É uma boa semana para apostar na confiança em vez de afastamento; para o investimento em vez de tarifas; para o combate às barreiras em vez de barreiras; para o liberalismo em vez de protecionismo”, começou por dizer o ministro da Economia na sexta-feira durante a inauguração da primeira fase do centro de dados de Sines, distrito de Setúbal.
O mundo deseja uns EUA fortes, como bastião do livre comércio, a promover a inovação, a promover uma abertura equilibrada do mercado; uma economia dos EUA geradora de emprego, competitiva, sem inflação”, acrescentou Pedro Reis.
Entre os seus acionistas, o centro de dados de Sines conta com os norte-americanos da Davidson Kemper.
A importância deste investimento era visível pelo peso da comitiva americana. No evento, estavam presentes cerca de uma dezena de membros da embaixada norte-americana em Portugal. Entre eles, estava o Chargé d’affaires da embaixada Douglas Koneff, o responsável máximo atual da representação diplomática enquanto não chega o novo embaixador nomeado por Donald Trump.
Já o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz também dedicou parte do seu discurso à relação próxima entre Portugal e os EUA.
Recordou que o aumento de voos da TAP para os EUA trouxe mais cidadãos dos states a Portugal: “abrimos os corações dos americanos a este país à beira-mar plantado. Não foi só o vinho, gastronomia, clima: aqui podem investir em segurança”.
“Agora, a globalização is coming home: foi aqui que nasceu e queremos fazer renascer uma nova globalização com novas regras, novas formas de estar que garanta melhor qualidade de vida aos vossos e aos nossos cidadãos”, acrescentou Miguel Pinto Luz.
Já o Chargé d’affaires da embaixada norte-americana agradeceu ao Governo português e defendeu que é preciso “construir um futuro mais interligado”.
“Portugal e os EUA compartilham uma fronteira: o oceano Atlântico. Para nós é cod, para vocês é bacalhau, mas é pescado nas mesmas águas”, afirmou Douglas Koneff.
“Partilhamos a cultura e valores. Somos parceiros de longa data. Este é um projeto importante para os nossos dois países”, disse no seu discurso.
Os ministros da Economia e das Infraestruturas também deixaram o reconhecimento aos seus antecessores no cargo: António Costa Silva e João Galamba, destacando que Portugal tem “políticas de continuidade”, tranquilizando os investidores sobre o desfecho das próximas eleições.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com