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Inteligência artificial traz 40 mil milhões para Sines (e o regresso da água quente do mar)

Projeto só estará concluído até 2030, mas primeira fase já tem clientes. Centro de dados usa água do mar para arrefecer servidores, reduzindo custos energéticos até 40%. Banhistas da praia de São Torpes vão ter a água quente de volta, depois da central a carvão ter fechado portas em 2021.
7 Abril 2025, 07h00

É um admirável mundo novo. Praticamente no mesmo sítio onde se queimou carvão durante quase 40 anos para produzir eletricidade, nasceu um mega-investimento para alimentar a fúria tecnológica do mundo moderno. Menos de um 1 km separa o Sines Data Center Campus da antiga central da EDP, para onde está idealizado um projeto de hidrogénio verde.

O centro de dados tinha tudo para não nascer: tornou-se conhecido dos portugueses pelas piores razões, envolvido na Operação Influencer, que acabou por derrubar António Costa e o seu Governo. Mas o mundo pula e avança e a inauguração teve lugar na sexta-feira, na pior semana para a economia mundial de anos recentes (apesar da pandemia e da invasão russa da Ucrânia), com a imposição de fortes tarifas pelos EUA a vários países, incluindo aliados históricos.

O primeiro edifício do Sines Data Center Campus foi inaugurado esta sexta-feira com 26 megawatts de capacidade. É já o maior centro de dados de Portugal e ambiciona tornar-se no maior da Europa, quando estiver concluído.

Para o final da década, em 2030, e com todos os seis edifícios concluídos, vai ter uma capacidade atribuída de 1,2 gigawatts.

O custo total do projeto está estimado em 8,5 mil milhões de euros pela dona do projeto, a Start Campus.

Mas deverá gerar 30 mil milhões de euros de investimento, com a chegada prevista de mais clientes de Inteligência Artificial (IA), Cloud e HPC (computação de alta performance), o número de investimentos pelos clientes no equipamento necessário para as suas operações.

Tudo somado, são quase 40 mil milhões de euros de investimento a aterrar em Sines, distrito de Setúbal.

O projeto foi totalmente financiado de forma privada, contando como acionistas os norte-americanos da Davidson Kempner Capital Management e os britânicos da Pioneer Point Partners.

“Portugal continua a atrair investimento estrangeiro. O país é muito atrativo para clientes de IA e de cloud”, disse o CEO da Start Campus, Robert Dunn, na sexta-feira na cerimónia de inauguração em Sines.

O gestor destacou como mais-valias de Portugal, os cabos submarinos, a “melhor oferta de eletricidade a baixos preços”, a energia renovável.

“Portugal tem a oportunidade de tornar-se na porta de entrada da IA na Europa. Portugal e a Europa precisam de tomar decisões na agenda digital”, segundo Robert Dunn.

O gestor garantiu que os dois acionistas “não vão a lado nenhum” e que apostam no projeto. “À medida que crescemos vamos precisar de muito mais investimento e isso vai incluir tanto uma mistura de dívida e de capital”.

Outra boa notícia é que a água quente da praia de São Torpes também está de volta. É que os servidores do centro de dados vão ser arrefecidos usando água do mar, permitindo reduzir custos energéticos entre os 30%-40%.

Ora, o sistema de captura de água e de saída de água será o mesmo que era usado na central a carvão da EDP.

Isto significa que a água vai voltar a ser quentinha na praia de São Torpes a partir do final deste mês. Os banhistas desta praia estavam órfãos da água quente desde 2021 quando a EDP encerrou a central.

Sobre a Operação Influencer, o CEO da Start Campus não quis fazer comentários.

 

Tarifas? Portugal escreve carta de amor aos EUA para atrair investimento

Depois do infame “dia de libertação” a 2 de abril, quando Donald Trump anunciou tarifas a nível global que vão degradar as relações comerciais entre a maior economia mundial e vários dos seus aliados históricos, eis que Portugal escreve uma carta de amor ao seu aliado, parceiro comercial e importante fonte de investimento.

“O investimento americano é muito bem vindo a Portugal. Queremos construir uma parceria estratégica profunda. Esta é uma boa semana e bom evento para mostrar um sinal de compromisso entre os EUA e a Europa. É uma boa semana para apostar na confiança em vez de afastamento; para o investimento em vez de tarifas; para o combate às barreiras em vez de barreiras; para o liberalismo em vez de protecionismo”, começou por dizer o ministro da Economia na sexta-feira durante a inauguração da primeira fase do centro de dados de Sines, distrito de Setúbal.

O mundo deseja uns EUA fortes, como bastião do livre comércio, a promover a inovação, a promover uma abertura equilibrada do mercado; uma economia dos EUA geradora de emprego, competitiva, sem inflação”, acrescentou Pedro Reis.

Entre os seus acionistas, o centro de dados de Sines conta com os norte-americanos da Davidson Kemper.

A importância deste investimento era visível pelo peso da comitiva americana. No evento, estavam presentes cerca de uma dezena de membros da embaixada norte-americana em Portugal. Entre eles, estava o Chargé d’affaires da embaixada Douglas Koneff, o responsável máximo atual da representação diplomática enquanto não chega o novo embaixador nomeado por Donald Trump.

Já o ministro das Infraestruturas Miguel Pinto Luz também dedicou parte do seu discurso à relação próxima entre Portugal e os EUA.

Recordou que o aumento de voos da TAP para os EUA trouxe mais cidadãos dos states a Portugal: “abrimos os corações dos americanos a este país à beira-mar plantado. Não foi só o vinho, gastronomia, clima: aqui podem investir em segurança”.

“Agora, a globalização is coming home: foi aqui que nasceu e queremos fazer renascer uma nova globalização com novas regras, novas formas de estar que garanta melhor qualidade de vida aos vossos e aos nossos cidadãos”, acrescentou Miguel Pinto Luz.

Já o Chargé d’affaires da embaixada norte-americana agradeceu ao Governo português e defendeu que é preciso “construir um futuro mais interligado”.

“Portugal e os EUA compartilham uma fronteira: o oceano Atlântico. Para nós é cod, para vocês é bacalhau, mas é pescado nas mesmas águas”, afirmou Douglas Koneff.

“Partilhamos a cultura e valores. Somos parceiros de longa data. Este é um projeto importante para os nossos dois países”, disse no seu discurso.

Os ministros da Economia e das Infraestruturas também deixaram o reconhecimento aos seus antecessores no cargo: António Costa Silva e João Galamba, destacando que Portugal tem “políticas de continuidade”, tranquilizando os investidores sobre o desfecho das próximas eleições.

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