As empresas europeias têm pelo menos 10,5 biliões de euros de pagamentos por receber, de acordo com as estimativas de contas a receber e empréstimos pendentes, revela o EPR – European Payment Report 2024, o mais recente estudo publicado pela Intrum.
A resistência em pagar faturas dentro dos prazos acordados, apesar de as empresas reconhecerem as consequências desse comportamento, “arrisca a extrapolar um problema muito mais grave, pois os fornecedores que são pagos mais tarde podem ter dificuldade em pagar aos seus próprios fornecedores a tempo, criando um efeito bola de neve”, defende o estudo.
A empresa de gestão de crédito diz que é “uma quantia exorbitante cerca de 30% do PIB total dos 25 países analisados no EPR 2024, quase o equivalente à soma do PIB de França, Alemanha e do Reino Unido”.
O valor estimado de faturas e empréstimos não pagos nos prazos acordados na Europa é um montante que se aproxima do PIB da Alemanha, França e Reino Unido juntos.
No entanto, apenas 12% dos inquiridos dizem que as perdas por dívidas incobráveis reduziram a sua capacidade de investir em iniciativas estratégicas de crescimento no último ano, o que representa uma queda acentuada quando comparado com 20% em 2021.
A percentagem de empresas cujo crescimento foi prejudicado por problemas de pagamentos em atraso também caiu no mesmo período, de 43% para 33%, e apenas 15% das empresas dizem que as dívidas incobráveis são um problema crescente.
O EPR 2024 salienta que, em toda a Europa, as empresas estão a gastar, por semana, uma média de 10,45 horas a tentar recuperar os pagamentos em atraso, o que traduz uma leve quebra em relação a 2023, quando este número era de 10,47. No entanto, mesmo assim, este valor ainda representa mais de um quarto de um ano de trabalho – 73 dias úteis – tempo valioso que poderia ser utilizado para as empresas se concentrarem na sua atividade principal e no desenvolvimento dos seus negócios.
A 27.ª edição do estudo anual da Intrum avalia 9.255 empresas em 25 países europeus e lança luz sobre a infinidade de desafios que enfrentam após 18 meses de dificuldades económicas.
O European Payment Report 2024 é uma ferramenta para obter informações sobre os comportamentos de pagamento das empresas europeias e examina tendências relacionadas com atrasos de pagamento, práticas de pagamento de faturas e risco financeiro global.
O relatório baseia-se numa pesquisa externa realizada pela FT Longitude em 25 países da Europa. No total, participaram no inquérito 9.255 pequenas, médias e grandes empresas de 15 setores distintos.
Os entrevistados eram administradores/diretores financeiros, bem como outras pessoas com conhecimento financeiro da empresa para a qual trabalham, e as empresas foram selecionadas aleatoriamente a partir de um banco de dados B2B.
O trabalho de campo para o estudo foi realizado entre 5 de dezembro de 2023 e 12 de março de 2024.
O estudo conclui ainda que uma em cada três empresas (34%) tem maior probabilidade de solicitar prazos de pagamento mais alargados aos fornecedores ou de pagar mais tarde do que o acordado.
Ainda de acordo com o EPR 2024, as insolvências aumentaram acentuadamente em muitos países da Europa no ano passado, sendo 52% e 35% nos Países Baixos e em França, respetivamente, por exemplo – e prevê-se que aumentem novamente em 2024.
Outras conclusões é que são 41% das empresas europeias que planeiam reduzir custos em 2024, apesar do crescente otimismo económico. “O EPR 2024 revela que duas em cada cinco (41%) empresas em toda a Europa planeiam cortar custos este ano, o nível mais elevado desde 2021, em que apenas 28% das empresas admitiam este cenário”, segundo o comunicado da Intrum.
Perspetivas económicas mais optimistas reforçam confiança das empresas
Após um período recente dominado pela instabilidade económica, as condições económicas estão a melhorar na Europa, com a inflação em março de 2024 a cair para 3,2% no Reino Unido e 2,4% na Zona Euro, defende o estudo, que acrescenta que as perspetivas mais positivas começam a influenciar a confiança das empresas como fica demonstrado no próprio estudo, com 31% dos executivos inquiridos a afirmar que os seus negócios se fortaleceram nos últimos 12 meses, acima dos 24% em 2022.
Além disso, 27% dizem que o crescimento das suas receitas está a superar as expectativas, com um aumento de seis pontos percentuais em relação há dois anos atrás.
As empresas dos Países Baixos, Noruega e Polónia são as que preveem maiores receitas. No sentido oposto, encontra-se Portugal, Irlanda e Eslováquia.
O EPR 2024 conclui ainda que mais de metade dos gestores (55%) dizem que existe uma oportunidade viável de expansão interna nos próximos dois a três anos, enquanto 37% está menos confiante sobre a viabilidade do crescimento, mas não a descarta.
“O maior otimismo observa-se na transformação digital, onde 61% dos executivos diz ver, no desenvolvimento de novos modelos de negócio digitais, uma oportunidade viável para as suas empresas, nos próximos anos”, segundo a análise.
O estudo diz que as condições macroeconómicas continuam longe de ser as ideais, pois três em cada cinco (61%) inquiridos não espera reduções das taxas de juro durante pelo menos mais um ano, apesar das sugestões de que o BCE poderá estar pronto para cortar as taxas mais cedo.
A volatilidade económica na Europa nos últimos anos levou as empresas a tornarem-se mais cautelosas e defensivas, e o EPR 2024 refere que cerca de metade dos executivos que responderam (49%) salientou que o elevado custo dos juros dos empréstimos, os torna mais cautelosos na hora de investirem.
Por outro lado, 34% das empresas revela que existe uma maior probabilidade de solicitar prazos de pagamento mais longos aos seus fornecedores, ou de pagar mais tarde do que o acordado.
Outros 15% afirmam que vão começar a alargar as condições de pagamento em 2024 para enfrentar possíveis perturbações e crises económicas.
Ao mesmo tempo, quase uma em cada dez empresas (8%) procura reduzir as condições de pagamento que oferece aos seus próprios clientes/consumidores, para ajudar a gerir o fluxo de caixa.
De toda a Europa, as empresas espanholas (20%) são as mais propensas a solicitar prazos de pagamento mais longos aos fornecedores, seguidas de perto por Itália (19%), Portugal (18%), França (17%) e Dinamarca (17%).
Segundo André Rúbio, presidente e CEO da Intrum, “é preocupante ver que os desafios de redução de custos estão a acumular-se em milhares de empresas em 2024, em maior extensão do que em qualquer momento dos últimos cinco anos” e que “o facto de as empresas terem de reduzir custos e de solicitar prazos de pagamento mais longos aos seus fornecedores, enquanto as insolvências aumentam, é uma tendência preocupante”.
“É compreensível que os executivos estejam nervosos após o desafiador ambiente económico dos últimos anos. Devemos ajudar as empresas a gerir e a recuperar o dinheiro que lhes é devido e incentivar fornecedores e clientes a pagarem atempadamente, a fim de evitar deter o crescimento e obrigar a medidas de redução de custos para sobreviver à atual conjuntura”, diz André Rúbio.
“Tanto os governos como a indústria devem tomar medidas para garantir que as empresas estão a ser apoiadas e que os pagamentos atempados são devidamente incentivados, a fim de evitar perturbar o fluxo de caixa das empresas e a sua capacidade de pagar as suas dívidas. Sem isso, o problema apenas se agrava e cria um ciclo de compromissos de crédito não cumpridos”, acrescenta”.
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