Quando se pensa em alterações estratégicas que impõem mudança no capital e modelo de financiamento, em geral, as opções viáveis reduzem-se a parceiros de indústria (estratégicos) ou financeiros.

A opção de escolha entre investidores com experiência no setor é aconselhada quando se pretende que as soluções tecnológicas sejam integradas numa oferta mais alargada para os mesmos clientes e mercados, integrando os mesmos canais de distribuição e gerando sinergias nos serviços centrais, na máquina comercial, nos departamentos de desenvolvimento, marketing, entre outros.

Pelo contrário, um parceiro financeiro é aconselhado quando o potencial desenvolvimento tecnológico e expansão comercial são elevados e possíveis com base na mesma estrutura orgânica. Não se espera uma contribuição especializada do investidor financeiro, mas será conveniente optar por um aconselhamento estratégico e musculado em movimentos disruptores, como o aumento de capacidade instalada ou o alargamento de gama, entre outros.

Tipicamente, as segundas opções colocam-se cronologicamente antes das primeiras, sendo que a valorização da empresa por um investidor estratégico pode ser feita com uma análise “mais fina”, tendo em conta as sinergias que a fusão entre unidades de produção desejavelmente vem possibilitar.

A saída da crise global demonstrou que os movimentos de consolidação saíram reforçados. As estatísticas de M&A demonstram uma voracidade nunca registada de empresas com diferentes dimensões. A busca de empresas-alvo mantém-se nos gigantes globais, mas também se visualiza em empresas de menor dimensão, que aprenderam com a crise e não querem estar dependentes de um número reduzido de mercados geográficos, por exemplo. Estas operações concretizam-se agora com uma alavancagem financeira muito menor (menor intervenção dos bancos em geral), mas com um aumento exponencial de fundos de private equity.

Curioso é que estas estratégias ganham consistência, simultaneamente com movimentações protecionistas e discursos nacionalistas. Parece que os gestores empresariais não acreditam que os discursos que ganham eleições têm efeito nas estratégias das empresas, ou que o capital não tem pátria no presente ou no futuro. Hoje mesmo, as startups com maior potencial nascem com base numa estratégia internacional.

O que também é novo é que, na análise das operações e das estratégias que as sustentam, se verifica que, quer tenham sido concretizadas por industriais que fizeram aquisições no seu setor, quer tenham sido empresas que se financiaram com investidores institucionais, as ambições internacionais estão sempre presentes. Existem diversas operações em que a ambição e convicções das PEs é tão grande que potenciam empresas a comprarem outras bastante maiores, permitindo assim que a dinâmica no mercado tenha mais profundidade e improbabilidade.

Empresas que hoje são líderes, podem ser alvos amanhã; equipas ambiciosas com empresas menores podem conseguir financiamento para crescer com aquisições de monta e obter valorizações surpreendentes. Em diversas operações, os fundos de investimento concretizaram operações concorrendo com potenciais compradores com origem no setor, oferecendo melhores preços e outras condições aos vendedores. Estas valorizações entendem-se pela crença, sustentadas em planos concretos, de que, com aquisições adicionais, as sinergias típicas das consolidações no mesmo setor serão criadas no futuro.

Existem PEs que investiram num determinado número de empresas e estas, por sua vez, adquiriram dez vezes mais empresas do que a quantidade das que compõem o fundo seu acionista. Estes movimentos traduzem-se numa segunda vida para as equipas empreendedoras e para as suas empresas. Mantendo a identidade, estas dão um salto no seu potencial, podendo remunerar adequadamente acionistas que apoiaram a sua fundação e crescimento, mas que não têm perfil para uma ambição maior.

Para os empresários portugueses, que, na generalidade dos casos, consideram que a sua saída do capital com valorizações interessantes só é possível por vendas a empresas suas concorrentes e ambicionam vender as suas posições a marcas internacionais gigantes, talvez faça sentido considerar outras opções. Talvez os parceiros financeiros sejam uma opção de expansão global, mantendo a empresa independente e, eventualmente, o seu centro de decisão.

É possível conseguir valorizações justas e encaixe para os fundadores e investidores early stage num primeiro momento, e maior numa saída futura em simultâneo com as PEs.  É certo que devem esperar a imposição de que a equipa de gestão se comprometa, alinhada de forma clara. Mas é possível a criação de empresas portuguesas globais se se conhecer o mercado internacional – com uma estratégia de aquisições e ideias consistentes na forma de criar valor a “dirigir um barco maior”.