O comandante Yossi Sariel, chefe da Unidade 8200 de informações secretas do Exército israelita, a maior das Forças Armadas, demitiu-se hoje pela sua responsabilidade no ataque de 07 de outubro do ano passado.
Nesse dia, milhares de combatentes de milícias palestinianas liderados pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) entraram em Israel a partir da Faixa de Gaza e mataram 1.194 pessoas, na maioria civis, e sequestraram 251, segundo números das autoridades israelitas.
“No dia 07 de outubro, às 06:29 (04:29 de Lisboa), não desempenhei a tarefa que era esperada de mim, como esperavam os meus subordinados e comandantes e como esperavam de mim os cidadãos do país que tanto amo”, começou por dizer Sariel numa carta enviada aos membros da unidade 8200, noticiou o diário israelita Haaretz.
Na missiva, o comandante assume a responsabilidade pelo fracasso da unidade naquele dia, afirmando não ter compreendido que a fronteira com Gaza “exige, por sistema, uma gestão de risco diferente, assente na menor margem de erro possível”.
A menos de um mês do primeiro aniversário do ataque do Hamas, Sariel apresentou a demissão tendo em conta “o estado da guerra, os processos de consolidação do serviço e de reforço da capacidade de resistência da unidade e na sequência da conclusão dos processos de investigação preliminar sobre o sucedido”.
A Unidade 8200 é a maior unidade de recolha de informação da Direção de Serviços Secretos Militares, encarregada tanto de criar como de utilizar ferramentas para recolher, analisar, processar e partilhar informações, o que faz dela uma “ponta-de-lança” em matéria de guerra cibernética das Forças Armadas israelitas.
Segundo uma reportagem do Channel 12 News, o canal de notícias mais popular de Israel, a Unidade 8200 foi responsável pela conceção do sistema de alertas para avisar sobre possíveis invasões de milícias procedentes da Faixa de Gaza, em 2014.
Sariel tornou-se hoje o quarto alto responsável a demitir-se como forma de se responsabilizar pelos acontecimentos de 07 de outubro de 2023.
Aharon Haliva, o então chefe dos Serviços Secretos Militares israelitas, foi a primeira figura num cargo de responsabilidade a demitir-se, e uma das poucas, juntamente com o chefe para o distrito sul de Israel dos serviços secretos internos – Shin Bet – e o chefe da Divisão de Gaza do Exército israelita, o general Avi Rosenfield.
A falta de responsabilização em Israel tem sido uma fonte de descontentamento entre a sociedade civil, que critica particularmente as altas patentes das Forças Armadas e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que não assumiu qualquer responsabilidade pública pelo que aconteceu.
Em outubro do ano passado, o diretor do Shin Bet, Ron Bar, pediu desculpa pelo que aconteceu a 07 de outubro e assumiu a sua responsabilidade, mas, até agora, continua em funções.
Embora o Exército esteja a conduzir uma investigação interna sobre as falhas que permitiram que o ataque do Hamas ocorresse, não existe uma comissão nacional de inquérito, o que poderia colocar na mira o Governo de Netanyahu.
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