A dissolução do gabinete de guerra – composto por seis elementos – decidida pelo primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, uma medida politicamente obrigatória depois da saída do antigo general e ex-primeiro-ministro centrista Benny Gantz, acabará por levar o país para eleições antecipadas. A maioria dos analistas citados pelos jornais do país está ciente deste caminho quase irreversível – e esta segunda-feira uma manifestação junto ao Knesset (o parlamento) pedia isso mesmo. A manifestação era coordenada por Moshe Tur-Paz, responsável do partido Yesh Atid (liderado pelo também ex-primeiro-ministro Yair Lapid), que disse, citado pela imprensa, que “temos de ir para eleições e mudar o governo”.
A marcação de eleições antecipadas, para já apenas eventual, é uma pesada derrota de Benjamin Netanyahu, mas os analistas convergem na sua maioria para outro ponto: o atual primeiro-ministro, líder do Likud, deverá voltar a ser candidato ao lugar que ocupa atualmente. Vale a pena recordar que Netanyahu tem um currículo que demonstra conseguir ganhar eleições e formar governos mesmo nas circunstâncias politicamente mais adversas. Sucedeu isso mesmo em junho de 2021, quando deixou o poder após 12 anos – para regressar em dezembro do ano seguinte apesar de ter vários processos acusatórios a decorrer na Justiça de Israel.
De qualquer modo, o fim do gabinete de guerra vem provar que a estratégia de Netanyahu em termos da resposta ao atentado de outubro do ano passado não está a correr como seria de esperar. Desde logo porque, decorrido mais de meio ano de guerra, os dois principais problemas em causa – o resgate dos reféns feitos nesse dia e o fim do Hamas – ainda não viram uma solução. O país entrou numa guerra que era inicialmente aceitável para o ocidente e para os países que costumam apoiar Israel – e até mesmo para a ONU num primeiro momento – mas conseguiu em pouco tempo destruir essa espécie de benevolência internacional com que chegou a contar. Em pouco tempo – e face à evidência da selvajaria em termos militares e da recusa cada vez mais consolidada de aceitar a existência de dois Estados em termos políticos – um número não despiciendo de países ocidentais passou a ter reservas quanto á forma como Netanyahu operou durante este meio ano.
A controvérsia foi de tal ordem, que até os Estados Unidos tiverem, em determinada, altura dúvidas sobre o seu apoio incondicional ao governo de Netanyahu – o que fez com que, por exemplo, Washington tivesse imposto uma retaliação muito moderada quando o Irão atacou o território israelita com centenas de drones e de mísseis.
Mas a demissão de Benny Gantz – que chegou a ser próximo de Netanyahu (chegaram a alternar na condição de primeiro-ministro) – veio deixar claro que o espaço político de Netanyahu está reduzido a quase nada. O primeiro-ministro está ‘emparedado’ entre a oposição ao centro, que considera que a guerra trará um tempo muito alargado de insegurança interna extrema, e a ‘amizade’ dos extremistas políticos e fundamentalistas religiosos que consideram qualquer contacto (mesmo que seja para negociações de paz) com o Hamas uma blasfémia intolerável. Esta segunda-feira, fonte do exército citado pela imprensa afirmou que restam apenas duas das quatro brigadas do Hamas que ainda estavam no ativo, o que pode querer dizer que a intervenção mais musculada dos israelitas estará a chegar ao fim – ou pelo menos que está a ser bem-sucedida. Daí a haver tréguas entre Israel e o Hamas vai, segundo os analistas, uma grande diferença. O exército afirmou esta segunda-feira ter reforçado o controlo sobre cerca de 60% a 70% da cidade de Rafah, como parte de sua ofensiva terrestre que está em andamento há 40 dias.
Entretanto, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, reuniu com Amos Hochstein, conselheiro do presidente dos Estados Unidos, para uma “reunião individual ” na sede do Ministério em Tel Aviv, onde o principal ponto da agenda foi o desenvolvimento dos confrontos no norte de Israel – ou seja, na guerra cada vez mais viva entre as forças de defesa israelitas (IDF) e os comandos armados libaneses do Hezbollah. A imprensa israelita não faz menção a declarações posteriores ao encontro.
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