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Israel: Joe Biden tenta refrear ímpeto ‘invasivo’ de Netanyahu

A acreditar em intervenções anteriores, o presidente dos Estados Unidos terá pedido contenção na resposta ao ataque de Israel ao Irão. O assunto está a mexer com a campanha para as presidenciais. E com o bolso dos norte-americanos: a ajuda ao Estado hebraico já ultrapassou os 22 mil milhões.
10 Outubro 2024, 07h30

Terá sido a primeira conversa pessoal entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, desde agosto passado – pelo menos pelas contas da agência Reuters – e terá servido (mas a Casa Branca não o confirma) para aplacar o ímpeto bélico do israelita contra o Irão. A ter seguido no sentido que Biden afirma ser o correto, a conversa que decorreu esta quarta-feira deve ter sido uma espécie de ‘puxão de orelhas’ a Netanyahu – num contexto em que os Estados Unidos já mostraram não estar totalmente confortáveis com a forma como Israel está a responder aos ataques de 7 de outubro. Não há qualquer dúvida de que os Estados Unidos consideram a reação israelita legítima – e a prova está em que continua (apesar das ‘ameaças’) a manter o fluxo da venda de armas para o Estado hebraico – mas o desconforto é patente.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata à presidência, Kamala Harris, deve ter-se juntado a Biden para participar na ligação com o primeiro-ministro israelita, continuando assim a acompanhar um assunto que com certeza dispensava bem em termos da campanha. O seu adversário republicano, Donald Trump, tem usado a incapacidade de os Estados Unidos acabarem com o conflito para zurzir Harris e para afirmar-se como um dos presidentes menos belicistas da história recente dos Estados Unidos – o que é objetivamente verdade.

Os analistas citados pela Reuters esperam que a conversa tenha incluído um debate sobre os planos israelitas para um ataque retaliatório ao Irão, depois da inictaiva de Teerão no passado dia 1 de outubro.

Biden já repetiu publicamente por diversas vezes que quer que qualquer ação israelita contra o Irão seja limitada e evite ampliar a crise no Médio Oriente – caso contrário, o mundo não escaparia a uma guerra regional de grandes proporções. O Irão já prometeu que responderá a qualquer ataque israelita, qualquer que ele seja.

Os Estados Unidos já terão gasto cerca de 22,76 mil milhões de dólares em ajuda a Israel, grande parte em munições, de acordo com um relatório do Instituto Watson da Universidade Brown. A ajuda a Israel é um mix entre financiamento militar, venda de armas e transferências de armamento norte-americano. Os investigadores da academia dizem que os números podem não revelar a dimensão exata da ajuda e do engajamento dos Estados Unidos com Israel, uma vez que encontraram claros “esforços do governo de Joe Biden para ocultar os valores totais de ajuda e os tipos de sistemas enviados recorrendo a manobras burocráticas”.

Os dados indicam que Israel e o mais forte aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, uma vez que é o maior beneficiário da ajuda militar, tendo recebido 251,2 mil milhões de dólares (ajustados à inflação) desde 1959. Outras fontes indicam, contudo, que o Egipto chegou a estar no topo da lista de países da região financiados pela Casa Branca.

O relatório indica ainda que os Estados Unidos também gastaram 4,86 mil milhões em operações no Iémen e noutras zonas do Oriente Médio. Recorde-se que, em julho passado, 12 ex-funcionários do governo norte-americano alertaram para o facto de o envio de armas para Israel estar a tornar o país cúmplice da destruição de Gaza. “A cobertura diplomática dos Estados Unidos e o fluxo contínuo de armas para Israel garantiram a nossa inegável cumplicidade nos assassinatos e na fome forçada de uma população palestiniana sitiada em Gaza”, disseram os 12 elementos (onde se incluíam ex-membros do Departamento de Estado e militares), em comunicado conjunto.

É convicção dos analistas – e de Donald Trump – que Kamala Harris está menos disposta que Joe Biden a financiar uma guerra que definitivamente olha com forte preocupação e algum aparente desprezo.

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